O vice-presidente Michel Temer (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de dezembro de 2015 às 12h23.
São Paulo - Maior beneficiário de um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff e visto como inimigo número 1 pelo PT, o vice-presidente da República, Michel Temer, manifestou a auxiliares o desejo de que sua filha, a secretária municipal de Assistência Social de São Paulo, Luciana Temer, deixe o cargo que ocupa desde 2013 no governo do petista Fernando Haddad.
Ele teme que a filha, filiada ao PMDB, mas vista como um quadro de perfil técnico, seja contaminada na agressiva disputa pelo Palácio do Planalto.
Luciana, no entanto, decidiu permanecer ao lado de Haddad e contrariar o movimento do PMDB paulista que, com o incentivo de Temer, está em processo de afastamento em relação ao prefeito desde a filiação da senadora Marta Suplicy, virtual adversária do petista na disputa eleitoral do ano que vem.
Além disso, segundo fontes da Prefeitura, além de firmar o pé em seu cargo na gestão petista em São Paulo, Luciana sinalizou que pode deixar o partido presidido pelo pai e seguir o movimento do secretário municipal de Educação, Gabriel Chalita, presidente municipal do PMDB. O objetivo de ambos é apoiar a reeleição de Haddad no ano que vem tendo como um dos principais adversários, muito provavelmente, o PMDB.
Ex-tucano, Chalita apoiou a candidatura Haddad em 2012 e tornou-se no ano seguinte o principal representante do PMDB na gestão do petista e presidente municipal da legenda. Cotado para ser vice de Haddad em 2016, ele ficou isolado na sigla com a entrada de Marta. Mesmo sem respaldo partidário, ele ainda é apontado como o nome mais cotado para compor a chapa com Haddad, mesmo que seja por outro partido.
De acordo com fontes do PT e da prefeitura, Luciana Temer tem indicado que pode deixar o PMDB e seguir Chalita rumo a outra legenda, possivelmente o PDT, caso o PMDB, orientado por Temer, imponha o nome de Marta Suplicy.
Depois de 33 anos no PT, a ex-prefeita de São Paulo e senadora oficializou no fim de setembro, na capital paulista, a sua filiação ao PMDB. Na ocasião, o vice-presidente deu as boas-vindas à colega e disse que o PMDB é um partido de "divergências internas quase permanentes, que fazem a sua grandeza". Temer afirmou ainda que os dois possuem "a mesma fé e os mesmos ideais".
Recado. Conforme petistas, Luciana Temer já teria informado ao pai que vai apoiar a reeleição de Haddad em 2016, mesmo que seja à revelia do PMDB. A assessoria de Michel Temer nega que o vice tenha recebido o aviso. Ao jornal o Estado de São Paulo, por meio da assessoria de imprensa da Prefeitura, Luciana negou ter recebido qualquer orientação do pai e afirmou que não pretende deixar o governo Haddad.
"Não recebi nenhuma recomendação. Me sinto absolutamente integrada na equipe do prefeito Fernando Haddad. Não vejo nenhum motivo para me movimentar", disse ela. Procurada várias vezes pelo Jornal O Estado de S.Paulo, tanto por telefone quanto pela sua assessoria, Luciana se recusou a responder a outras perguntas da reportagem.
Cracolândia. Doutora em Direito Constitucional pela PUC-SP, onde é professora-assistente, Luciana Temer seguiu os passos acadêmicos do pai mas, ao contrário dele, tornou-se uma "técnica" e sempre teve, segundo pessoas próximas, aversão ao varejo partidário.
Deputados e vereadores do PMDB paulista dizem que Luciana nunca teve vida orgânica na legenda. Sua experiência em um cargo de primeiro escalão foi entre os anos de 2001 e 2002, quando foi secretária estadual da Juventude, Esporte e Lazer, no governo Geraldo Alckmin (PSDB).
Na gestão Fernando Haddad, ela é apontada como uma das secretárias mais elogiadas pelo prefeito, que já reafirmou diversas vezes não abrir mão da auxiliar e lhe passou uma das missões mais delicadas e polêmicas de sua gestão: executar o programa "Braços Abertos".
Implementado pela Prefeitura de São Paulo na região da Luz, no centro da capital, o programa tenta diminuir o chamado "fluxo" de usuários de drogas por meio da política de redução de danos.
Luciana tornou-se uma referência no debate sobre dependência química ao defender que o cuidado com o dependente químico deve ter prioridade sobre a repressão na questão das drogas. Ao lado do secretário de Direitos Humanos e ex-senador Eduardo Suplicy, a filha do vice-presidente da República também faz o acompanhamento de moradores de rua. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.