Michel Temer: duas semanas de fôlego (Ueslei Marcelino/Reuters/Reuters)
Talita Abrantes
Publicado em 23 de maio de 2017 às 09h16.
Última atualização em 24 de maio de 2017 às 07h13.
São Paulo – A próxima quarta-feira, dia 24 de maio, era vista pela base aliada como uma data chave para avaliar o fôlego do governo de Michel Temer após a delação dos executivos da JBS e analisar uma eventual debandada.
Além dos protestos marcados pelas centrais sindicais para esse dia, estava agendado também o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) do pedido de suspensão do inquérito contra o presidente.
Uma mudança na estratégia da defesa de Temer no meio da tarde de ontem com a desistência do pedido de suspensão do inquérito tirou qualquer peso simbólico que dava a essa quarta a característica de dia D para o peemedebista.
“O tempo político é mais urgente do que o tempo jurídico”, afirma Thiago Vidal, da consultoria Prospectiva. Já que o próximo julgamento começa em exatas duas semanas no Tribunal Superior Eleitoral, Temer ganha prazo para focar no que importa nesse exato instante: manter sua sustentação no Congresso.
A expectativa é que a paralisia que marcou os últimos dias nas duas Casas Legislativas ganhe um ponto final nesta terça com a leitura do parecer da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, em um ato encabeçado pelo PSDB para alívio do Planalto.
O eventual avanço da reforma trabalhista no Senado, contudo, não é um sinal de que a reforma da Previdência terá a mesma sina, avaliam analistas ouvidos por EXAME.com.
Segundo Vidal, se a estratégia de Temer para permanecer no Planalto der certo, dificilmente ele conseguirá recuperar mais do que uma maioria mínima no Congresso. Esse apoio é suficiente para aprovar projetos de lei, como a reforma trabalhista, mas não é o bastante para passar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), como as mudanças na Previdência.
"Há uma clara fragilidade do presidente. Sempre que há um momento de fragilidade, aqueles que estão ao seu redor usam isso como barganha. E as reformas serão o principal instrumento para isso. Tudo o que os aliados não conseguiram, tendem a negociar agora", diz Vidal, da Prospectiva.
Para as consultorias ouvidas por EXAME.com, por ora, a saída de Temer ainda é a solução mais vantajosa para a economia.
"No curto prazo, quanto mais rápido a solução para o dilema político, melhor para a economia. A eventual permanência do presidente Temer me parece que vai demandar mais tempo para a gente atingir uma certa normalidade", afirma Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.
Na manhã de ontem, a consultoria Eurasia afirmou, em relatório, que as chances de Temer cair são de 70% — apesar das dúvidas sobre as evidências que o implicam. Nesses termos, o futuro do presidente permanece incerto e há quem trabalhe com mais de sete cenários possíveis para essa crise. "O grande problema é a incerteza", afirma João Landau, sócio da Vista Capital. "Às vezes é melhor uma certeza ruim do que uma incerteza".
Temer tem agora duas semanas para impedir a dispersão da base e criar uma estratégia coerente para a sua defesa no TSE. Cada minuto e cada gesto contam.