Temer e Doria: assinaram acordo que prevê a concessão ao município de parte do Campo de Marte (Paulo Whitaker/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de agosto de 2017 às 09h04.
São Paulo - Em meio à divisão do PSDB sobre a permanência no governo, à indefinição quanto ao candidato tucano à Presidência em 2018 e a necessidade de recompor a base aliada para aprovar a reforma da Previdência, o presidente Michel Temer distribuiu nesta segunda-feira, 7, elogios e alçou o prefeito de São Paulo, João Doria, à condição de líder nacional.
Temer e Doria assinaram na sede da Prefeitura um acordo que prevê a concessão ao Município de parte do Campo de Marte, hoje sob controle da Força Aérea, para construção de um parque e de um museu aeroespacial. A disputa judicial entorno da área vem desde 1958.
Segundo auxiliares do presidente, o gesto tem por objetivo amarrar o apoio de Doria à reforma da Previdência.
"Vejo aqui um parceiro e um companheiro. Alguém que compreende como ninguém os problemas do País. Porque a visão do João Doria é municipalista, o que é fundamental, mas uma visão nacional", disse Temer durante o evento em São Paulo.
O primeira gesto do governo Temer de se aproximar de Doria aconteceu no sábado passado, quando o Itamaraty realizou reunião do Mercosul sobre a Venezuela na Prefeitura de São Paulo.
O presidente espera pelos votos da bancada do PSDB para aprovar a reforma mais polêmica de seu governo. Dos 13 deputados tucanos de São Paulo apenas uma, Bruna Furlan, votou contra o prosseguimento da denúncia contra Temer por corrupção passiva. O Planalto avalia que, embora tenham votado contra o governo, estes parlamentares podem apoiar a reforma - uma proposta de emenda à Constituição necessita de um mínimo de 308 votos na Câmara.
Integrantes da equipe de Doria afirmam que o prefeito vai atuar para que a bancada do PSDB dê os votos necessários para a mudança nas regras previdenciárias. Pelos cálculos do governo, levando em conta a votação da admissibilidade da denúncia contra Temer, na semana passada, faltam 22 votos para aprovação da reforma. O governo, no entanto, quer garantir o apoio de ao menos mais 40 deputados para ter margem de manobra.
Temer elegeu Doria como interlocutor com os deputados tucanos porque hoje sua identificação é maior com o prefeito do que com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) que age para ser candidato à Presidência em 2018 e mantém uma postura mais crítica ao governo federal. "Candidatura é o partido que decide. Vamos discutir no momento certo", afirmou Alckmin, que era esperado na agenda com Temer e evitou comentar a possibilidade de seu afilhado político concorrer à Presidência.
O governador não compareceu ao evento de ontem, embora seu nome estivesse na agenda do prefeito. Segundo Doria, o governador "foi generoso" e decidiu na véspera que não iria ao ato para não ofuscar o papel da Prefeitura.
Conciliação
Tanto o prefeito quanto o presidente usaram o simbolismo do ato para reforçar o discurso em torno da conciliação nacional, presente nos primeiros pronunciamentos de Temer ainda durante o governo interino no processo de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff.
Com isso, Temer, que tem apenas 5% de aprovação segundo o Ibope, espera dar um ar de normalidade ao governo, que na semana passada ainda vivia a apreensão da votação da denúncia por corrupção.
O presidente condenou o "emocionalismo" que tem pautado o debate. "A história do nós contra eles não pode prevalecer", disse, fazendo referência a uma crítica recorrente aos discursos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.