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Temer deixará reforma trabalhista fatiada por conta do Congresso

Terceirização, regulamentação do trabalho intermitente e prevalência de acordos patronais começam a avançar de forma "parcelada"

 (Gustavo Lima/Câmara dos Deputados/Reprodução)

(Gustavo Lima/Câmara dos Deputados/Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 12 de novembro de 2016 às 06h00.

Última atualização em 29 de novembro de 2016 às 20h54.

Depois de se empenhar na aprovação do teto de gastos públicos e iniciar as negociações da reforma da Previdência, o governo de Michel Temer vai deixar para o Congresso o desgaste de emplacar a reforma trabalhista.

Em vez de anunciar um pacote de medidas, o governo vai fatiar a mudança nas regras e patrocinar projetos de lei que tratam dos três principais pontos defendidos pelo Palácio do Planalto.

Terceirização, regulamentação do trabalho intermitente e prevalência de acordos patronais sobre a legislação - começam a avançar de forma "parcelada".

Nos bastidores, a avaliação é que sem apresentar projeto próprio - como na reforma da Previdência ou no teto de gastos públicos - o Executivo evita o peso de mais uma medida impopular.

Enquete no site do Senado contabiliza 49.035 votos contra a ampliação do trabalho terceirizado e 8.831 a favor.

1ª Parcela: Ampliação da terceirização

Após mais de um ano parado, o PLC 30/15, que regulamenta a terceirização, vai voltar à pauta da Comissão de Consituição e Justiça (CCJ) do Senado.

O relator, senador Paulo Paim (PT-RS) afirmou que irá retirar o aval da terceirização para atividades-fim, um dos pontos mais polêmicos do texto aprovado pela Câmara em abril de 2015, com apoio do então presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

A proposta libera a terceirização para todas os serviços e não apenas para as atividades-meio, como é na atual legislação. O texto da Câmara permite ainda que associações, fundações, profissional liberal e produtor rural pessoa física contratem serviços terceirizados.

A mudança sugerida por Paim é uma tentativa de continuar na relatoria, uma vez que em 2017 a presidência do Senado deve ficar com o atual líder do PMDB, senador Eunício Oliveira (CE). Com a troca de comando, a presidência das comissões também será alterada, o que pode provocar alterações nas relatorias.

Para Eunício, a solução encontrada por Paim pode não vingar devido a dificuldades em definir o que é uma atividade-fim, que seria a atividade central da empresa. Ele lembrou ainda que pode ser apresentada um emenda e alterar o relatório do petista, a fim de incluir essa questão.

Defensor da proposta, o líder acredita que é preciso regulamentar profissões tipicamente terceirizadas, como serviços de vigilância. Ele destaca ainda a urgência do tema. "É uma realidade em todo o mundo", afirmou ao HuffPost Brasil.

A pressão no Senado para retomar as discussões da proposta pode crescer nas próximas semanas também porque o Supremo Tribunal Federal pode julgar em breve uma ação sobre o tema.

2ª Parcela: Acordos valerão mais que a CLT

Considerado por Temer a medida mais importante da reforma trabalhista, acordado sobre o legislado - que faz com que a decisão dos sindicatos tenham mais valor que a CLT - ganhou um gás na tramitação desde o impeachment. Seis dias após o Senado afastar temporariamente a ex-presidente Dilma Rousseff, foi escolhido um relator para a proposta na Câmara dos Deputados de um projeto que estava parado desde março de 2015.

O projeto estabelece que o que foi decidido nas convenções dos trabalhadores se sobreponha às leis trabalhistas. A ideia do governo é desafogar a Justiça. Defensores da proposta argumentam que a legislação está desatualizada e não reconhece as mudanças que os métodos de trabalho têm sofrido.

A expectativa do relator da matéria, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) é apresentar um relatório na comissão do trabalho ainda este ano. A maior dificuldade, segundo ele, é conciliar a medida sem que haja perda de direitos.

“Em um momento de crise, no qual os sindicatos estão cada vez mais fragilizados e considerando o cenário atual de 12 milhões de desempregados e aumento da informalidade, há o temor de que a medida signifique perda de direitos para os trabalhadores. É uma matéria polêmica”, afirmou à reportagem.

STF e acordado sobre o legislado

Em setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu um empurrão para a proposta seguir em frente. Decisão do ministro Teori Zavascki derrubou liminar do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e determinou que uma decisão de acordo coletivo entre sindicato e empresa prevaleça sobre uma regra da CLT.

É nesta decisão que o presidente Temer tem se agarrado para justificar o encaminhamento da reforma. Em entrevista à Miriam Leitão, na Globo News, o peemedebista afirmou que "para manter o emprego, é preciso fazer prevalecer o acordado sobre o legislado”, mas “verificaram-se dois fatos”.

“O STF, em dois acórdãos, já acolheu uma convenção coletiva em que ultrapassava os limites legais, com o objetivo de manter o emprego, primeiro ponto. Segundo ponto: você sabe que mesmo no governo da ex-presidente editou-se uma medida provisória, depois convertida em lei, que permitia a redução de 30% do salário para manter o emprego, desde que acordado. E isso foi feito, não é?"

Esse ponto ganhou destaque durante a discussão da possibilidade de 12 horas de trabalhos ininterruptas. Hoje, carreiras como enfermeiros adotam esse regime de trabalho com base em acordos e não na CLT.

Em setembro, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, usou esse exemplo para defender o acordado sobre o legislado, em busca de maior segurança jurídica. A declaração, contudo, causou controvérsia e levou Temer a cobrar uma explicação do ministro, que deixou claro que o governo não defendia carga horária de 12 horas para todos trabalhadores.

3ª Parcela: Regras para jornada de trabalho flexível

Relator do PL 4132/12, que regulamenta o trabalho intermitente, o deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE) pretende passar a relatoria para a deputada Gorete Pereira (PR-CE). "Tentei uma grande discussão nacional com as entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical mas estou sem tempo", afirmou ao HuffPost Brasil.

Pelo parecer apresentado na Comissão do Trabalho em outubro de 2015, favorável ao PL, o contrato de trabalho temporário pode ser estendido de três para até nove meses, conforme prevê a portaria 789/2014 do Ministério do Trabalho.

O parecer admite ainda o trabalho temporário rural e descarta a participação de trabalhadores dessa modalidade das participações nos lucros da empresa.

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