Temer: avaliação de assessores próximos do presidente é que o governo desgastou-se o que podia com a indicação do ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes ao STF (Adriano Machado/Reuters)
Reuters
Publicado em 14 de fevereiro de 2017 às 20h18.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2017 às 20h18.
BRASÍLIA (Reuters) - Pressionado pelas críticas de que o governo estaria tentando limitar a operação Lava Jato, o presidente Michel Temer quer que a decisão sobre o novo nome para o Ministério da Justiça mande um sinal definitivo de que não irá interferir nas investigações e avalia que "não pode errar", disseram à Reuters fontes palacianas.
Nos últimos dias, subiu nas cotações o nome do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso que, levado por Aécio Neves, encontrou-se com Temer na tarde desta terça-feira. Mais afinados com os limites impostos pelo presidente, o PSDB preferiu brigar pelo cargo com um nome técnico e que cumpra um dos requisitos: o de jamais ter criticado a Lava Jato.
O nome de Velloso já havia surgido anteriormente e se encaixa no perfil, mas aos 81 anos, a avaliação inicial era de que, apesar do currículo, a idade poderia ser um fator. A conversa com Temer serviria para aproximar o presidente do jurista, disse uma fonte.
"O presidente deu o recado ontem quando disse que definitivamente o governo não irá interferir", afirmou uma fonte. "Quem vier para o ministério não pode ter no currículo nenhuma crítica à Lava Jato."
A avaliação de assessores próximos do presidente é que o governo desgastou-se o que podia com a indicação do ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes à vaga de Teori Zavascki no STF e com a transformação de Moreira Franco em ministro, dando foro privilegiado a um aliado citado dezenas de vezes em delação premiada da operação.
A soma de ações impopulares teve repercussão pior do que o Palácio do Planalto imaginava --especialmente a nomeação de Moreira Franco, que detonou uma guerra de liminares para tentar impedi-lo de ficar no cargo e o transformou em alvo de protesto. No STF, o imbróglio se resolveu nesta terça-feira com decisão do ministro Celso de Mello de manter Moreira Franco no cargo e com prerrogativa de foro.
Na segunda-feira, ao dizer que só iria "afastar temporariamente" um ministro que fosse denunciado pelo Ministério Público --e que o político manteria o cargo e todas as suas prerrogativas, inclusive foro, até a denúncia ser aceita-- o presidente passou novamente uma imagem ruim e contrária a de sua intenção: a de que iria manter ministros citados, já que denúncias levam, na maior parte das vezes, mais de um ano para serem feitas.
Daí a análise feita pelo presidente de que "não pode errar" na nomeação do ministro da Justiça e criar mais um problema para o governo. A intenção do Planalto é analisar presente e passado dos nomes sugeridos para evitar surpresas depois, disse uma fonte.
De acordo com uma fonte, apesar de ter dito que seria uma escolha pessoal, Temer chegou a analisar ceder e indicar um deputado para o cargo e contentar o PMDB. Indicado pela bancada, no entanto, o deputado Rodrigo Pacheco (MG) foi descartado por ter criticado a atuação do Ministério Público no passado, apesar da insistência do partido. O líder da bancada, Baleia Rossi (PMDB-SP), esteve na segunda com Temer para reafirmar que o nome indicado pelo partido era o de Pacheco.
Da mesma forma, o preferido do presidente, o jurista Antônio Claudio Mariz de Oliveira, seu amigo há 40 anos, também estaria fora do cenário por ter criticado a Lava Jato e advogar para empresas implicadas na operação. Em entrevista a um jornal, o próprio Mariz disse que sua eventual ida para o ministério poderia causar "dissabores" a Temer.
Outros nomes que ainda estão sob análise são o do ex-secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame --que poderia agradar ao PMDB, apesar de não ter filiação partidária-- e do ex-ministro do STF Cezar Peluso.
Quem chegar ao cargo, além de alvo de um escrutínio terá ainda que enfrentar uma crise na área de segurança pública, outro complicador na escolha.