Temer: em busca da aproximação com a classe média (Beto Barata/PR/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de agosto de 2017 às 11h52.
Brasília -- O pacote de privatizações lançado pelo governo é a aposta do presidente Michel Temer não apenas para tentar conter o rombo no Orçamento e enfrentar a crise econômica, mas também para recuperar popularidade em 2018, ano eleitoral. Pesquisas feitas em redes sociais nos últimos dias, já analisadas pelo núcleo político do Palácio do Planalto, mostraram que, quando o tema privatização é abordado, a aprovação do governo sai de 4% e chega a 15%.
O "salto" ocorre somente nesse caso. Os dois dígitos foram obtidos na segunda-feira, quando o Ministério de Minas e Energia anunciou a venda da Eletrobrás, e se mantiveram com a divulgação de que a Casa da Moeda e o aeroporto de Congonhas estão na lista do que será oferecido à iniciativa privada.
Na avaliação de auxiliares de Temer, as privatizações podem dissipar as desconfianças do mercado sobre os rumos da economia e, de quebra, reaproximar o discurso do governo da sociedade, principalmente da classe média. Desde as delações da JBS, que vieram à tona em maio, levantamentos indicam a deterioração da imagem do presidente.
Foi por isso que os dados obtidos nas redes sociais após o anúncio do plano animaram o Planalto e a cúpula do PMDB. Agora, até mesmo uma pesquisa qualitativa da Fundação Perseu Abramo, braço acadêmico do PT, está sendo lembrada por interlocutores de Temer para mostrar que a população quer um Estado mais enxuto.
Feita entre novembro de 2016 e janeiro deste ano na periferia de São Paulo, a consulta revelou que ex-eleitores do PT veem o Estado como "inimigo" responsável por se apropriar do dinheiro dos impostos e fornecer serviços de baixa qualidade.
Para o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral), o pacote não tem apenas objetivo fiscal. "É evidente que, do ponto de vista econômico e social, deveríamos ter um programa para enfrentar o desafio do emprego e da renda, além de melhorar a infraestrutura", argumentou ele.
A base aliada do governo, porém, já começou a criticar a proposta. As resistências aparecem cada vez mais fortes no Congresso, mas, em conversas reservadas, muitos políticos observam que a queixa tem como pano de fundo o medo de alguns colegas de perder cargos em estatais com gordos orçamentos, como a Eletrobrás.
"Eu tenho zero de cargo", afirmou o senador Edison Lobão (PMDB-MA), ex-ministro de Minas e Energia, que é contra a venda da Eletrobrás. Questionado sobre o domínio do grupo do ex-presidente José Sarney (PMDB) - integrado por ele - na distribuição de diretorias do sistema elétrico, Lobão disse que isso "é uma falácia". E completou: "Nada é particularmente do Sarney nem meu".
Adepto da máxima "quanto menos Estado, melhor", o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), afirmou que a Lava Jato jogou luz sobre a corrupção nas estatais. "Historicamente, essas empresas têm servido de instrumento para financiar projetos político-partidários dos governos de plantão", disse. Efraim lançou até um desafio aos colegas contrários às privatizações: "Se hoje as telefônicas pertencessem ao Estado, será que o serviço prestado seria melhor?"As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.