A senadora Simone Tebet (MDB-MS) perdeu o apoio do partido na disputa pela presidência do Senado (José Cruz/Agência Brasil)
Alessandra Azevedo
Publicado em 28 de janeiro de 2021 às 17h49.
Última atualização em 28 de janeiro de 2021 às 18h24.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) anunciou nesta quinta-feira, 28, que não é mais candidata do MDB à presidência do Senado, por decisão do partido, e que continuará na disputa de forma independente. O MDB negocia com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a possibilidade de entrar no grupo do adversário de Tebet, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). A eleição está marcada para 1º de fevereiro.
"Hoje, na hora do almoço, eu recebi um telefonema oficial do líder da bancada, Eduardo Braga (AM), me liberando de qualquer compromisso, uma vez que estão em tratativas, ainda não encerradas, com o presidente Davi Alcolumbre sobre cargos e proporcionalidade do MDB numa possível composição", disse Tebet, em entrevista coletiva. "Em função disso, não tenho outra coisa a fazer a não ser comunicar que deixo de ser candidata pelo MDB e passo a ser candidata independente", continuou.
A candidatura da senadora estava ameaçada há alguns dias, com a falta de consenso no partido e o crescimento do apoio a Pacheco, apoiado por Alcolumbre e pelo presidente Jair Bolsonaro. Nesta quarta-feira, 27, Alcolumbre se reuniu com senadores do MDB para discutir o possível desembarque e teria oferecido a vice-presidência do Senado, caso Pacheco vença a eleição. A bancada emedebista também tem interesse na segunda secretaria da Mesa Diretora e na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
A senadora, no entanto, não estava disposta a desistir mais uma vez da candidatura, como fez na última eleição para a Mesa Diretora. Em 2019, Tebet também tentou concorrer à presidência do Senado com o apoio do partido, mas perdeu a disputa interna para Renan Calheiros (MDB-AL). Ele acabou sendo o escolhido da bancada, mas perdeu o pleito para Alcolumbre, que teve o apoio de Tebet. Naquele ano, a senadora não quis lançar candidatura independente e conseguiu a presidência da CCJ.
Na entrevista, Tebet ressaltou que a candidatura dela "não é de oposição nem de situação", mas uma alternativa independente e objetiva. "Não me considero uma candidata avulsa, porque eu represento um grupo de senadores que estiveram comigo e se encontram comigo, independentemente de estarmos ou não candidatos de determinado partido", disse. "Nossa campanha começa agora novamente", anunciou. As bancadas do Podemos e do Cidadania continuam com ela.
Perguntada se se sentia "traída" diante das tratativas entre Alcolumbre, senador que apoiou em 2019, pela retirada da candidatura dela pelo MDB, Tebet disse que "o jogo da política é esse". O apoio a Alcolumbre "foi um gesto sem querer nada em troca", afirmou. "Dois anos atrás, abri mão da minha candidatura em nome de um projeto. Alcolumbre assumiu compromisso conosco da independência do Senado Federal", lembrou.
"Apêndice do Executivo"
Para Tebet, "a independência do Senado está comprometida" por interferência do governo. "Veio o jogo de quererem transformar o Senado em um apêndice do Executivo e, dentro disso, vocês podem interpretar da forma que bem entenderem”, disse. "Temos um candidato oficial do governo federal e isso é visível diante da assertiva e dos anúncios feitos por colegas em relação à estrutura, ao apoio e a pedidos de ministros e ministérios, pedindo apoio para o candidato oficial do governo", apontou.
Tebet contou ter visto senadores "mudando de ideia e de lado" ao longo da campanha. "O que levou quero crer que seja debate ideológico de ideias, da grandeza e da capacidade do nosso adversário, que é um senador que respeito muito. Espero que seja isso. Mas, sim, a gente tem sinais, a gente tem ouvido que há ingerência do Executivo", comentou.
Para ela, o país não conseguirá sair da crise de forma correta se não houver independência para recebimento e aprovação de matérias no Congresso Nacional, sem ingerência. A senadora voltou a defender um novo auxílio emergencial, ainda que temporário e em valor menor, "dentro dos limites da responsabilidade fiscal". Também se disse favorável a uma reforma tributária "que garanta justiça social, onde quem ganha menos tenha de pagar proporcionalmente menos".