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Teatro Municipal deixa de pagar R$ 1,6 mi a artistas estrangeiros

No total, o Teatro acumula uma dívida de R$ 14 milhões com artistas de diversos países, como Áustria, Itália e Alemanha, fornecedores e impostos

As dívidas começaram a acumular-se após os sucessivos escândalos envolvendo o Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC) (Alexandre Batibugli/Placar/Placar)

As dívidas começaram a acumular-se após os sucessivos escândalos envolvendo o Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC) (Alexandre Batibugli/Placar/Placar)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de junho de 2017 às 09h14.

Um grupo de 14 artistas estrangeiros de diversos países, como Áustria, Itália e Alemanha, cobra do Teatro Municipal um pagamento de R$ 1,6 milhão relativo a apresentações feitas em 2016 e que deveria ter sido pago até o fim do ano passado. No total, o Teatro acumula uma dívida de R$ 14 milhões com artistas fornecedores e impostos.

A reportagem teve acesso a uma série de e-mails trocados entre a gestão João Doria (PSDB) e os músicos estrangeiros em que a Prefeitura admite a dívida feita durante a administração Fernando Haddad (PT) e faz promessas de pagamento em diferentes datas.

"A administração da cidade enfrenta uma crise financeira, nossos próprios orçamentos foram cortados em 43% e a administração anterior do Teatro deixou uma dívida de aproximadamente € 10 milhões", justificou a secretária adjunta da Cultura, Josephine Bourgois, à cantora austríaca Natascha Petrinsky, em e-mail em 16 de março.

Em outro e-mail, enviado pelo secretário da Cultura, André Sturm ao diretor artístico da ópera Fosca, o italiano Stefano Poda, o tom é de culpar a gestão Haddad.

"Nosso orçamento não previa, naturalmente, o pagamento de passivos. Isso não significa, de forma nenhuma, que não reconheçamos sua legitimidade. Mas precisamos encontrar os recursos para efetuar esses pagamentos." Em janeiro deste ano, Pedro Gattoni, diretor executivo do Teatro disse aos artistas estrangeiros, também por e-mail, que o pagamento deveria ser feito em março, o que também não aconteceu.

Histórico

As dívidas começaram a acumular-se após os sucessivos escândalos envolvendo o Instituto Brasileiro de Gestão Cultural (IBGC), organização social responsável pela gestão do Teatro. Por decisão judicial, a entidade deverá deixar a administração do espaço neste mês.

Com orçamento de R$ 3,2 milhões, a ópera Elektra foi apresentada entre 9 e 20 de outubro. Os ingressos custaram até R$ 160 por pessoa. Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo publicada em dezembro já mostrava que os artistas brasileiros estavam sem receber seus cachês, mas os valores foram pagos somente a eles.

O mesmo aconteceu com a ópera Fosca, que esteve em cartaz entre os dias 8 e 17 de dezembro, com orçamento de R$ 3,7 milhões.

Após sucessivas tentativas de obter o pagamento, os músicos estrangeiros elaboraram uma carta-denúncia, enviada à reportagem.

"Todos os nossos colegas brasileiros foram pagos para evitar um escândalo. Nós, artistas estrangeiros, somos os únicos que não receberam. Será que é porque estamos longe e não podemos causar tumulto? Será que é porque um processo teria alto custo e levaríamos pelo menos cinco anos para recebermos?", indaga a cantora e autora do texto, Natascha, que fala em nome dos 14 músicos. "Apesar dessas dívidas alegadas pelo Teatro e dos cortes, por que só nós é que não recebemos pagamento?"

Sturm disse à reportagem que a dívida não é da Prefeitura, mas do IBGC, e que a prioridade é honrar compromissos que mantenham o funcionamento do Municipal para depois, se possível, pagar os artistas. "O orçamento do ano todo para o Teatro é de R$ 88 milhões, com um gasto de R$ 114 milhões. A conta já não fecha.

Primeiro, temos de conseguir dinheiro para pagar os artistas da casa. Depois, acho legítimo que busquemos pagar esses artistas, que também trabalharam, mas infelizmente não tenho como dar um prazo."

A assessoria de imprensa da administração Haddad destacou que os artistas são contratos pelo IBGC e que "todos os compromissos assumidos pela Fundação Teatro Municipal com o instituto até o fim da gestão foram cumpridos".

"E deixamos R$ 5,5 bilhões em caixa para que a nova administração enfrentasse eventuais problemas de continuidade." Procurado, o IBGC não se manifestou.

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