Brasil

Taxas de vacinação aumentam no mundo, mas caem no Brasil há 3 anos

Números do Ministério da Saúde, que têm chamado a atenção do país, foram usados em sinal de alerta pelo Unicef e pela OMS

O mundo registrou no ano passado um recorde de crianças vacinadas: 123 milhões (Rovena Rosa/Agência Brasil)

O mundo registrou no ano passado um recorde de crianças vacinadas: 123 milhões (Rovena Rosa/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 18 de julho de 2018 às 09h47.

Última atualização em 18 de julho de 2018 às 09h48.

São Paulo - O mundo registrou no ano passado um recorde de crianças vacinadas - 123 milhões, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira, 17, pelo Unicef e pela Organização Mundial da Saúde, - uma alta que ocorre tanto por aumento da população quanto de cobertura vacinal. O Brasil, porém, caminha na contramão desse movimento, com queda na porcentagem de crianças vacinadas nos últimos três anos.

Os números do Ministério da Saúde, que têm chamado a atenção do país, foram usados em sinal de alerta pelas organizações. É o caso da cobertura da vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), que estava estável e próxima a 100% no Brasil até 2014, mas baixou para 96,1% em 2015, 95,4%, em 2016, e 85% em 2017.

Outro exemplo é o da pólio, doença erradicada no Brasil, que teve uma queda de 95% de crianças imunizadas em 2015 para 84,4% em 2016, chegando a apenas 78,5% no ano passado.

Também houve queda na cobertura da DTP, que protege contra difteria, tétano e coqueluche. Estava acima de 90% até 2015. Caiu para 89,5% em 2016 e 78,2% em 2017. Em todos os casos, considera-se uma proteção adequada quando a cobertura está em 95%. Abaixo disso, há risco de retorno das doenças.

O ministério informou, por meio de nota, que "tem atuado fortemente na disseminação de informações junto à sociedade alertando sobre os riscos de baixa coberturas". Disse também que a queda nas coberturas vacinais, principalmente em crianças menores de 5 anos, acendeu uma luz vermelha no País e elas são a principal preocupação da pasta neste momento.

Cristina Albuquerque, chefe de Saúde, HIV e Desenvolvimento Infantil do Unicef no Brasil, pondera que a melhora observada em níveis globais tem de ser analisada pelo prisma de que os níveis iniciais eram muito baixos. Por exemplo, a cobertura global contra sarampo e rubéola cresceu de 35% em 2010 para 52% em 2017.

"Claro que ainda são valores muito baixos, mas é um avanço que nos enche de esperança de que o mundo está melhorando. Muitos países estão diversificando seu calendário de vacinação, colocando mais variedades de vacinas, mais doses", afirma.

De acordo com o relatório, as coberturas globais contra pólio e contra difteria, tétano e coqueluche estão estáveis em cerca de 85% nos últimos anos. "O Brasil tinha um ponto de partida bem diferente, muito mais à frente. Tem uma tradição gigante, conseguiu erradicar a pólio. Sempre fez grandes campanhas", lembra Cristina. "Mas as coisas mudaram. Se em 2013, por exemplo, o País estava quase todo com cobertura adequada, hoje só Rondônia e Ceará estão assim", diz.

Sucesso

Para o ministério, um dos motivos da queda nas coberturas é o próprio sucesso das campanhas de imunização, o que pode ter criado uma falsa sensação de que não é preciso mais se vacinar. Cristina e o presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri, concordam.

"As doenças desaparecem com o uso das vacinas, o que faz com que se perca a percepção de urgência", diz ele. "Hoje, o risco é fato e já temos o sarampo de volta. Onde encontra áreas suscetíveis, é transmitido com facilidade. É a constatação das baixas coberturas. E isso pode acontecer com difteria e pólio."

O ministério disse que os recursos para vacinação passaram de R$ 761,1 milhões, em 2010, para R$ 4,5 bilhões em 2017. Para 2018, a previsão é de R$ 4,7 bilhões. Afirmou também que aumentou em 60% o recurso de campanhas publicitárias de vacinação - de R$ 33,6 milhões, em 2015, para R$ 53,6 milhões em 2017. Até junho, foram investidos R$ 31,9 milhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Ministério da SaúdeOMS (Organização Mundial da Saúde)SaúdeSaúde no BrasilVacinas

Mais de Brasil

PF envia ao STF pedido para anular delação de Mauro Cid por contradições

Barroso diz que golpe de Estado esteve 'mais próximo do que imaginávamos'

Plano de assassinato de Lula surpreende Planalto: é pior que o 8 de janeiro, dizem assessores

Biometano pode abastecer metade da energia para a indústria de SP, diz secretária do Meio Ambiente