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Da Redação
Publicado em 15 de dezembro de 2013 às 08h24.
São Paulo - "Antes as distâncias eram maiores porque o espaço se mede pelo tempo." No Brasil, a frase do escritor argentino Jorge Luís Borges tem de ser lida com sinal trocado: as distâncias brasileiras aumentaram, em vez de diminuir. Em regra, leva-se mais tempo para voar de um aeroporto a outro em 2013 do que se levava antes do apagão aéreo de 2007. No papel, porém, os atrasos nunca foram tão raros. Neste ano, só 8% dos voos atrasaram. É a menor taxa de atraso do século.
Qual é a mágica? Aumentaram os tempos previstos de voo. Isso aconteceu em 94 das cem rotas mais movimentadas. A distância aérea entre São Paulo e Rio continua sendo de 385 km, mas cariocas e paulistanos nunca estiveram tão longe.
Em 2000, demorava-se, em média, 51 minutos para ir de Congonhas ao Santos Dumont. O avião atrasava 4 minutos para deixar o terminal e levava mais 47 até abrir as portas no Rio. Hoje, a viagem demora 64 minutos: o atraso médio ainda é de 4 minutos, mas o tempo gasto pelo passageiro dentro da aeronave é, em média, de 60 minutos.
Os dados foram compilados pelo Estadão Dados com base nos mais de 13 milhões de registros de voos catalogados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) desde janeiro de 2000 até setembro de 2013. As companhias dizem que fizeram sua parte: estão colocando o passageiro dentro do avião em tempo recorde - graças, em boa parte, à transferência para o cliente do trabalho de fazer o check-in nos terminais de autoatendimento.
O problema começa quando o passageiro entra no avião. É aí que começa a contar o chamado tempo de voo, que é informado pelas próprias companhias. Esse intervalo vai do momento em que as portas do avião são fechadas no aeroporto de origem, passa pelo tempo no ar e só termina depois que a aeronave estacionou no destino e reabriu as portas.
A Aeronáutica, responsável pelo controle do tráfego aéreo, afirma que o tempo médio de uma aeronave no ar não teve alterações desde 2000. Ou seja: só pode ter crescido o tempo do avião em solo.
"Fecham a porta do avião no horário certo, mas você fica sentado esperando. É como se dissessem você que reclame com o tráfego", diz o conselheiro de empresas Joaquim de Castro, de 69 anos, que costuma viajar até duas vezes por semana com a arquiteta Carol Ludolf, de 39. "Eu tenho notado que uma maior espera dentro do avião tem acontecido com muito mais frequência do que há alguns anos", diz Carol.
Infraestrutura
As próprias companhias admitem que esse problema justificou o aumento do tempo de voo. Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), o taxiamento em Congonhas durava em média 10 minutos em 2005. Hoje, já é de 18. Essa demora entrou na conta da previsão dos tempos de voo. "Tivemos de adequar. Senão, nós iríamos programar um serviço que não podemos dar", disse Mauricio Emboaba Moreira, consultor técnico da Abear.
Segundo as empresas aéreas, a infraestrutura aeroportuária não acompanhou o aumento do número de voos domésticos, que passou de 611 mil, em 2003, para 1,126 milhão em 2012. "À medida que se adensa o tráfego, o tempo que se perde nos aviões aumenta. Se o pátio do aeroporto está todo adensado, tem de esperar para pousar e para decolar", afirma Moreira.
A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) não comentou se o aumento do tempo de voo está relacionado à falta de infraestrutura. Segundo a empresa, obras, reformas e ampliações estão sendo feitas em 32 dos 63 aeroportos administrados pela estatal. O objetivo é que, no futuro, os terminais estejam aptos para atender à demanda de passageiros e aeronaves. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo