Tarcísio se viu isolado na defesa da reforma e teve de ouvir críticas duras dos aliados e do ex-chefe (Rogério Cassimiro/Governo do Estado de SP/Flickr)
Agência de notícias
Publicado em 7 de julho de 2023 às 14h18.
Última atualização em 7 de julho de 2023 às 14h31.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), enfrenta sua maior perda de crédito no bolsonarismo após ter sido constrangido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e pela bancada do PL à véspera da votação da reforma tributária, em Brasília.
Levado por Bolsonaro e o cacique Valdemar Costa Neto ao encontro que reuniu a bancada para discutir o projeto, Tarcísio se viu isolado na defesa da reforma e teve de ouvir críticas duras dos aliados e do ex-chefe — registros do embate foram vazados nas redes sociais para colocar a militância contra o governador.
Bolsonaristas atribuíram a Tarcísio a pecha de traidor por ter apoiado o projeto ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e insistido na ideia durante o encontro do PL. E agora o veem casas atrás no tabuleiro da sucessão de Bolsonaro para 2026.
O custo político de defender a reforma articulada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se multiplicou após o entorno de Bolsonaro disparar a artilharia contra o projeto às vésperas da votação. Um interlocutor de Bolsonaro afirmou ao "O Globo", na manhã da quinta-feira, que "Tarcísio deveria prestar atenção no recado", sob o risco de "perder totalmente o apoio do bolsonarismo". Por outro lado, a campanha difamatória deu maior peso à derrota de Bolsonaro, já que a reforma foi aprovada com 382 votos a favor e 118 contrários.
A crise agora deve ter repercussão prática na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Deputados bolsonaristas sugerem dois movimentos. O primeiro é que Tarcísio vai precisar "provar que é de direita" e escancarar o canal de diálogo com a base governista — que julgam estar obstruído pela falta de articulação do Palácio dos Bandeirantes. A tropa de choque bolsonarista avalia que o Executivo paulista hoje tem mais influência do secretário de Governo, Gilberto Kassab (PSD), que de Bolsonaro.
A segunda expectativa é de passar um recado a Tarcísio em plenário na volta do recesso parlamentar, em agosto. O governador deve enviar ao Legislativo uma proposta de emenda constitucional (PEC) para remanejar 5% do orçamento da educação para a saúde. Como aprovação desse tipo de proposição exige dois terços dos 94 votos, a base bolsonarista pretende fazer corpo mole até que o governador sente para negociar sob novas condições. "Hoje aumentou o preço da governabilidade", afirma um deputado da base.
Tarcísio terá de construir um reposicionamento de imagem daqui em diante se quiser recuperar o prestígio, na avaliação de um conselheiro do ex-presidente. O episódio, em sua opinião, foi "desastroso, ruim para todos" e revelou o que considera ser uma desorganização e falta de liderança dentro do PL. E cobra a demissão de Walter Braga Netto da vice-presidência do partido pela "omissão" no caso.
O ex-ministro do Meio Ambiente e hoje deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) foi quem bateu mais forte no ex-colega de Esplanada. Na reunião da sigla, colocou-se como mais leal a Bolsonaro:
"Ninguém aqui outorgou ao Tarcísio o direito de falar em nome dos deputados do PL e negociar o que quer que seja. Nós temos os nossos próprios votos. E se tem um lugar no Brasil hoje que não tem um governo de direita, é o estado de São Paulo. Não venha aqui colocar a faixa de representante da direita, porque não é", declarou Salles.
Secretários do governador dizem que, se um ponto positivo pode ser tirado do episódio, é o de Tarcísio ter lustrado a imagem de estadista perante formadores de opinião, de alguém que coloca interesses do estado de São Paulo acima da pauta ideológica.
Ainda na quinta-feira, Tarcísio recebeu telefonemas de estrelas do empresariado, como Abilio Diniz, mas a defesa mais valiosa veio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), nesta sexta-feira:
"São Paulo sempre foi um obstáculo no plenário para essas votações [de reforma tributária]. E, no dia de ontem, Tarcísio, quero reconhecer de público a importância dele na negociação, e no dar a cara para defender o que é justo, o que é importante", afirmou Lira.
O governador de São Paulo encontrou mais acolhimento em seu partido, o Republicanos. Se o PL de Bolsonaro deu 20 votos pela reforma e 75 contra, a sigla de Tarcísio ficou majoritariamente a favor: 36 pró e três contrários. O presidente da legenda, Marcos Pereira, criticou a oposição dos bolsonaristas, a quem chamou de "extrema direita".
Para o deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos-SP), não houve racha na direita. Ele defende a reforma como uma ideia gestada no governo Bolsonaro, contrariando o discurso defendido pelo ex-presidente de que ela teria vindo do PT:
Essa reforma não é do PT, foi iniciada no governo Jair Bolsonaro e com um pouco mais de tempo para discussão e alinhamento, teria grande chances de ser aprovada de uma maneira saudável para o País com o apoio de todos.
"Aderir a alguns pontos da reforma e a necessidade dela não significa nunca um alinhamento ao PT", diz Abduch.
Uma deputada federal do PL também rechaça crise e afirma que não deve interferir no governo de São Paulo. Para ela, "quem gosta do Tarcísio vai continuar gostando".