Eduardo Leite: "Não acho que tenha candidato definido" (Valter Campanato/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de março de 2020 às 08h21.
Última atualização em 13 de março de 2020 às 08h26.
São Paulo — Para o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), seu partido ainda não tem um nome definido para a disputa da Presidência da República em 2022, ainda que o governador paulista João Doria (PSDB) encabece a corrida contra os planos de reeleição de Jair Bolsonaro - ele mesmo aparece como nome do partido em potencial.
Ao jornal O Estado de S.Paulo, Leite não descarta prévias e diz que o partido deve primeiro construir um projeto para só depois se preocupar em quem vai representá-lo, e até um nome de fora do partido é visto como uma possibilidade. "É natural que Doria seja um possível candidato, mas as circunstâncias de 2022 é que vão dizer o que o País está buscando. Talvez o melhor candidato esteja até fora do PSDB neste momento, talvez o PSDB possa apoiar alguém de fora. Por que não?", afirma.
A seguir os principais trechos da entrevista:
O sr. já falou que não acredita em reeleição. Como ficará a disputa pelo governo estadual em 2022 no Rio Grande do Sul?
Fui prefeito (de Pelotas) entre 2012 e 2016 e já era crítico da reeleição. Prefiro ajudar que o projeto tenha continuidade, mas com outra pessoa. Em Pelotas, ajudei a eleger minha vice-prefeita pela continuidade, mas com a troca do comandante. É positivo que isso possa acontecer também no Estado. Minha disposição é de não concorrer à reeleição.
O sr. pensa em ser candidato à Presidência da República?
Não, de forma alguma. Meu foco está em administrar o Estado, para o que fui eleito. Minha responsabilidade no cargo é enorme. Governar com olhos na próxima eleição é uma irresponsabilidade. Toda minha energia está aqui.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou que o sr., o governador João Doria e o apresentador Luciano Huck expressam o "reformismo do centro progressista". Que acha disso?
É uma grande gentileza, mas isso não significa a minha candidatura. Ninguém é candidato de si mesmo, principalmente à Presidência. É uma situação em que o candidato atende a um chamado de um grupo de pessoas, de um projeto. Eu não procurava ser candidato ao governo do Estado quando deixei Pelotas. Mas houve um chamamento, um grupo de pessoas, do meu partido, que entendiam que eu poderia liderar esse projeto e eu atendi. Não acredito que esse chamado já esteja acontecendo em relação a 2022, nem acho que seja a hora.
Então PSDB não tem pré-candidato definido? Para muitos, essa pessoa é João Doria...
Não acho que tenha candidato definido. Doria, como é para qualquer governador de São Paulo, é um nome que desponta. É o maior Estado da nação em economia e população. É natural que Doria seja um possível candidato, mas as circunstâncias de 2022 é que vão dizer o que o País está buscando, qual o projeto. Primeiro, temos que discutir o projeto, depois as pessoas.
Em prévias dentro do partido?
Em algumas eleições, o PSDB fez prévias. Acho é o seguinte: vamos focar em governar. A partir do momento adequado, talvez no próximo ano, vamos discutir do ponto de vista programático o que se pretende para a economia e para a gestão pública. E aí chegar no processo eleitoral buscando identificar o melhor candidato para representar esse projeto. Talvez o melhor candidato esteja até fora do PSDB neste momento, talvez o PSDB possa apoiar alguém de fora. Por que não?
No ano passado, vários governadores se uniram em consórcios regionais. O sr. está no Cosud (Integração Sul e Sudeste). Como tem sido a experiência?
Muito positiva. O Cosud é uma oportunidade de integração. Tem sido bastante produtivo para debater os temas que estão na pauta nacional para nos posicionarmos e ajudarmos a orientar inclusive em âmbito de Congresso a deliberação de itens que fluem nas questões federativas. Temos afinidades econômicas, culturais, de setores produtivos. Respondemos por 70% da economia nacional e 60% da população, isso é relevante em termos de posicionamento.
Como as decisões do consórcio chegam a Brasília?
Fazemos uma carta aberta que é encaminhada às autoridades. Já enviamos ao presidente, aos presidentes das Casas legislativas, e individualmente fazemos nossa gestão junto a esses agentes. A partir do que discutimos em (encontro do Cosud em) Foz do Iguaçu (em fevereiro deste ano), por exemplo, falei com (Rodrigo) Maia (presidente da Câmara) para falar do Fundeb.
Por que se tornou necessária essa união de governadores em consórcios?
Pela afinidade de temas, podemos ajudar a orientar a política de investimentos do governo federal. Os Estados podem se juntar para fazer investimentos, parcerias. Trocas de experiências são muito válidas.
E politicamente?
É uma forma de articulação entre esses Estados para se posicionar politicamente nos temas de impacto da federação em defesa dos interesses das regiões.
O sr. tem visto abertura do governo federal a isso? Como tem sido a relação com o presidente?
Tem sido importante porque levamos o posicionamento comum dos governadores, que é é especialmente levado ao Congresso. Com a Presidência, não tem havido um tratamento mais direto. Com governo federal, de boa relação. Aqui no (encontro do Cosud no) Sul, participaram também o secretário Salim Mattar e o então presidente do BNDES Joaquim Levy. Agora em Foz, o ministro (da Justiça, Sérgio) Moro. Temos sempre a participação de figuras do governo federal, o que ajuda a promover integração e aproximação.
Os 27 governadores têm um grupo do Fórum de Governadores no WhatsApp. Como é isso?
É um instrumento de trabalho. Uma tecnologia que permite essa aproximação para debater temas comuns. Mas, não é fácil. Às vezes, a conversa fica truncada. Neste momento, tenho 30 mensagens não lidas. Se ali tiver um debate, eu posso já ter perdido o fio. É uma forma interessante de estarmos rapidamente prontos para tomar um posicionamento sobre alguma coisa.
Como são as coisas por lá?
Tem mensagens de aniversário, o pessoal manda, mas é um instrumento de trabalho. Não tem mensagem de bom dia, essas coisas. Isso eu reservo para o grupo das minhas tias. No grupo dos governadores, temos várias visões ideológicas de Estados com realidades distantes. É difícil construir consenso, mesmo assim tiramos decisões em comum. Há um respeito grande entre os governadores.
Antes das diferenças políticas, quando você ocupa o cargo de governador, a solidariedade entre os que ocupam a mesma função fala mais alto. Camilo (Santana, governador do Ceará) recentemente recebeu mensagens de solidariedade e de prontidão dos colegas governadores em relação às dificuldades que passava por lá (motim de policiais militares).