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Suruí de Rondônia é mais uma tribo ameaçada por disputa de terras

O líder indígena afirmou que a luta por terras, com o povo Suruí no meio do fogo cruzado, passa de geração em geração

Amazônia: "os brancos veem os índios como se não fossem nada, como se fossem bichos, e querem atropelar sua cultura, vida e família" (iStock/Thinkstock)

Amazônia: "os brancos veem os índios como se não fossem nada, como se fossem bichos, e querem atropelar sua cultura, vida e família" (iStock/Thinkstock)

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EFE

Publicado em 16 de dezembro de 2017 às 12h58.

Cacoal (RO) - A disputa por terras na Amazônia brasileira continua longe do fim, e aldeias como a Nabecob Abalakiba, da tribo Suruí, se sente mais uma vez ameaçada depois do recente ataque a tiros sofrido em Cacoal (RO) pela professora Elisângela Dell-Armelina Suruí, eleita Educadora do Ano na edição 2017 dos prêmios Educador Nota 10.

"É isso o que nós tivemos no passado, guerra entre indígenas e não indígenas, agora demarcação das terras", afirmou à Agência Efe em língua paiter-suruí o cacique Anine Suruí, sogro da professora.

No dia 30 de novembro, Elisângela escapou ilesa do atentado cometido por supostos madeireiros contra ela e seu marido, Naraimi Suruí, quando o casal estava em uma moto a caminho da aldeia.

O cacique afirmou que a disputa por terras desencadeou durante décadas a violência na região, e a situação agora se agrava com a insatisfação de madeireiros, mineradores e fazendeiros com a criação da Cooperativa de Produção e Desenvolvimento Indígena Paiter (Coopaiter), administrada pelos próprios indígenas.

"Essa é a minha vida. No passado, perdi meu irmão da mesma forma (assassinado), e sinto muito por isso que está acontecendo agora, porque ia perder meu filho e minha nora também da mesma forma, por essa luta", contou o cacique, cuja fala foi traduzida para o português por seu filho Roberto Suruí.

O líder indígena afirmou que essa luta por terras, com o povo Suruí no meio do fogo cruzado, passa de geração em geração.

"Sempre dou conselhos e exemplo aos meus filhos, dizendo que aqui neste mundo ninguém ama ninguém. Eles têm que aprender isso, conviver com essa vida", declarou o chefe maior da aldeia localizada em Cacoal, cidade que fica a 480 quilômetros da capital de Rondônia, Porto Velho.

Para o cacique, "os brancos veem os índios como se não fossem nada, como se fossem bichos, e querem atropelar sua cultura, vida e família".

Elizângela, que em agosto recebeu em São Paulo o prêmio Educadora do Ano, concedido pela Fundação Victor Civita, disse que o ataque pode ser uma represália pela recente expulsão da região, por parte dos indígenas, de um grupo de madeireiros que estavam cortando castanheiras.

"Me senti invadida e vi a morte muito perto", contou à Efe a professora, de 38 anos, que ganhou o prêmio graças a seu trabalho de alfabetização com material didático que preserva as tradições, a cultura e a língua paiter-suruí.

Ela também lamentou as ameaças a sua aldeia, uma situação pela qual passam outras comunidades indígenas em diversas partes da Amazônia.

"Dói saber que (o atentado) é pelo que nós idealizamos, por isso as comunidades sofrem (...) Ainda é possível acabar com a vida de alguém por causa disso, e fico em choque", disse.

Segundo a educadora, em novembro algumas famílias da aldeia saíram para a habitual coleta de castanhas quando encontraram os madeireiros retirando de caminhão as árvores derrubadas, o que provocou um confronto entre indígenas e invasores.

Depois da criação da Cooperativa de Produção e Desenvolvimento Indígena Paiter (Coopaiter), que permite a comercialização de alimentos sem a intermediação de terceiros, a professora e sua família começaram a receber ameaças.

Elizângela e o marido prestaram queixa do ataque na Polícia Federal na cidade de Ji-Paraná. Já o Ministério Público Federal (MPF) disse que as investigações do caso estão em andamento.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Igreja Católica, alertou recentemente sobre o "risco de genocídio" de índios em Rondônia, depois de uma invasão de madeireiros e pecuaristas na terra indígena de Karipuna, localizada entre Porto Velho e o município de Nova Mamoré.

Da mesma forma que os líderes paiter-suruí, o cacique Adriano Karipuna denunciou à Fundação Nacional do Índio (Funai) as ameaças recebidas e pediu mais recursos da entidade para acompanhar a fiscalização das terras que estão em perigo.

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