Delação polêmica: toda a movimentação de assessores do Planalto foi no sentido de desqualificar as afirmações (Marcos Oliveira/Agência Senado)
Da Redação
Publicado em 3 de março de 2016 às 13h56.
Brasília - O governo recebeu com perplexidade e surpresa as notícias da delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MT) na qual ele teria tratado da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras e tentado envolver a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na tentativa de interferir na Operação Lava Jato por meio do Judiciário.
Toda a movimentação de assessores do Planalto foi no sentido de desqualificar as afirmações. A presidente Dilma, depois de participar da cerimônia de posse dos novos ministros, não quis responder a perguntas sobre a delação.
Mas, pouco antes, usou seu discurso para criticar "vazamentos seletivos e ilegais", fazer defesa do seu governo, dizendo que a corrupção não começou na gestão petista e que todos têm direito à presunção de inocência e não pode haver "execração pública" de ninguém.
O tema tomou conta da cerimônia de posse dos três novos ministros da Justiça, da Advocacia-Geral da União e da Controladoria-Geral da União.
O novo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, disse que o governo vai responder às acusações. Depois da cerimônia de sua posse, ele se reuniu com a presidente Dilma Rousseff.
"Se o Delcídio fez delação premiada, não tem credibilidade nenhuma. Ele mandava recados com ameaças se não fosse tirado da prisão. Dizia que ia retaliar o governo", declarou Cardozo.
Os ministros da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva, e o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, disseram que não tinham visto a denúncia e que só falariam depois.
O ex-advogado da União Luis Inácio Adams disse que o senador "não é a testemunha mais crível da República". Portanto, o governo ainda não tem uma resposta e ainda vai construir um discurso conjunto para apresentar.
Mas, o fato é que a delação de Delcídio já era um fator de preocupação no Planalto, assim como uma possível delação do marqueteiro João Santana e sua mulher.
Os discursos iniciais dos assessores palacianos são de que as afirmações são "sem consistência" e que "falta materialidade".
Mas o governo sabe que tem de "medir as palavras" que vai usar para falar de Delcídio porque, até o ano passado, ele era o líder do governo no Senado, ou seja, representava o Planalto no Congresso. Além disso, tinha trânsito não só no Planalto, como no Alvorada, residência da presidente Dilma.
Vários petistas também estavam presentes à cerimônia no Planalto na manhã desta quinta-feira e também se mostraram preocupados, mas tentando salientar que "se houve delação, ele tem de apresentar provas".
Após a cerimônia do Planalto, o deputado Paulo Teixeira, por exemplo, declarou que "não são verdadeiras as afirmações de Delcídio". E emendou: "toda a atuação que Delcídio fez foi em benefício próprio e em interesse próprio".
Outros petistas reconhecem que o fato de o partido ter "largado" Delcídio pode ter ajuda a deflagrar a ira do senador, que está "muito magoado".
O governo reconhece que este novo ingrediente da delação de Delcídio, que acabou se tornando uma "fera ferida", poderá prejudicar o processo de impeachment da presidente Dilma, que o governo tentava deixar em segundo plano, para se concentrar na pauta econômica em apreciação no Congresso.