Ex-presidente Lula: Segundo Corrêa, ''Não se pode afirmar que o presidente Lula fosse um pateta que sob suas barbas estivessem acontecendo essas tenebrosas transações'' (Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
Da Redação
Publicado em 14 de agosto de 2012 às 20h43.
Brasília - Embora a acusação tenha descartado esta hipótese, a suposta responsabilidade de Lula foi comentada no julgamento por possíveis subornos a deputados e financiamento ilegal de campanhas denunciados em 2005.
O processo tem como réus 38 políticos e empresários, entre os quais estão três ex-ministros - entre eles, José Dirceu, o ex-ministro-chefe da Casa Civil e conhecido durante anos como ''braço direito'' de Lula.
O escândalo foi denunciado em junho de 2005 pelo ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB e hoje incluído entre os acusados, e chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), que desde o dia 2 está agradável ao processo.
A Procuradoria Geral da República (PGR), que atua na acusação, não incluiu Lula entre os acusados pois alegando não ter encontrado indícios de sua participação no que considerou como o ''mais atrevido e escandaloso esquema de corrupção e desvio de dinheiro público'' ocorrido no país.
No entanto, nesta semana o advogado Luiz Francisco Corrêa, que defende Jefferson no processo, afirmou que Lula ''não só sabia, mas ordenou tudo''.
Segundo Corrêa, ''Não se pode afirmar que o presidente Lula fosse um pateta, um deficiente, que sob suas barbas estivessem acontecendo essas tenebrosas transações''.
O advogado se defendeu na própria acusação, a qual sustenta que o ''chefe'' e ''idealizador'' de toda a trama era Dirceu, cujo gabinete na época era vizinho do gabinete do presidente.
Corrêa lembrou trechos da acusação lida perante a corte pelo procurador-geral, Roberto Gurgel, que perguntou: ''Como se poderia imaginar que tudo isso ocorria dentro do palácio presidencial e que as reuniões da quadrilha aconteciam a poucos metros do gabinete do presidente da República?''.
Em sua intenção de envolver o ex-mandatário, o advogado de Jefferson se valeu do que considerou ''mais que um indício'' e citou o caso do BMG, investigado por dar créditos sem garantias ao PT, que depois supostamente serviram para alimentar a corrupção.
Corrêa lembrou que à época, Lula autorizou por decreto esse banco a conceder créditos a aposentados da previdência social, cujas parcelas eram cobradas das mensalidades que recebiam.
Essas operações estavam limitadas aos bancos públicos, mas após o decreto, o governo ''enviou milhões de cartas aos pensionatos'' informando que o BMG também era autorizado, o que levou muitos a se mudar desse banco, afirmou o advogado.
''Em dois meses, o BMG entrou no mercado e, em seguida, o PT obteve empréstimos do Rural e do BMG'', denunciou o advogado de Jefferson, que considerou ''evidente a relação entre esses atos''.
Segundo analistas políticos, ao mirar diretamente em Lula, a defesa tentou semear dúvidas sobre a PGR, a fim de desqualificar todo o seu trabalhado acusatório.
O próprio Jefferson, na época em que denunciou o caso, concentrou suas acusações em Dirceu e sempre eximiu Lula de culpa, inclusive quando declarou perante uma comissão parlamentar que averiguava o assunto.
Diante dessa comissão, em uma sessão transmitida pela TV e com o olhar fixo nas câmeras, Jefferson declarou: ''Sai daí, ''Zé'' (Dirceu). Sai daí logo, antes que você faça réu um homem inocente, o presidente Lula''. O ''homem forte'' de Lula renunciou dois dias depois.
Hoje, Jefferson sustentou que Lula teria ido ''preso'' se tivesse sido o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que quando foi acusado por corrupção perdeu apoio político e renunciou em 1992.
Lula, por sua vez, mantém silêncio. Sempre negou com veemência os subornos a deputados, embora com o tempo tenha aceitado que o PT não havia declarado parte do dinheiro usado em sua campanha e nas de outros candidatos.
Há dez dias, em um ato público, Lula foi consultado sobre o início do processo, mas disse que nem sequer acompanha seu desenvolvimento.
''Tenho mais coisas para fazer'', declarou.