Janot: "Entrego o cargo no próximo dia 17, sem qualquer jactância" (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de setembro de 2017 às 09h54.
Brasília - Na sua última semana na chefia do Ministério Público Federal, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou, nesta quinta-feira, 14, que sabia do custo por enfrentar um "modelo político corrupto" e afirmou que o Brasil "convulsiona no processo curativo do combate à corrupção".
O discurso de Janot foi feito ao final da sessão plenária do Supremo Tribunal Federal (STF), a sua última como procurador-geral da República.
Já o ministro do STF, Gilmar Mendes, habitual crítico de Rodrigo Janot, usou trecho de um poema para se referir à despedida de Janot instantes antes da última sessão do PGR.
"Eu diria em relação ao procurador-geral Janot uma frase de Bocage: 'Que saiba morrer quem viver não soube'", disse Gilmar Mendes, citando o poeta português Manoel Maria Barbosa Du Bocage.
Na quarta-feira, 13, por 9 a 0, o STF rejeitou um recurso formulado pela defesa do presidente Michel Temer para que Janot fosse afastado das investigações contra o presidente no caso JBS. Gilmar esteve ausente no julgamento.
"Tenho sofrido nessa jornada, que não poucas vezes pareceu-me inglória, toda a sorte de ataques. Mesmo antes de começar, sabia exatamente que haveria um custo por enfrentar esse modelo político corrupto e produtor de corrupção, cimentado por anos de impunidade e de descaso. Mas tudo isso, para mim, já se encontra nos escombros do passado", disse Janot.
Nesta quinta, Gilmar Mendes se encontrou com a sucessora de Janot, a nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge em Brasília.
Em seu discurso, Janot disse que nos momentos cruciais da Lava Jato, o Supremo Tribunal Federal "foi firme, respeitou as leis e a Constituição, mas não se acovardou".
Para Janot, a Corte tem desempenhado o papel de "esteio da estabilidade institucional e democrática".
"Esse papel, para a tranquilidade de todos nós, brasileiros, vem sendo cumprido com a excelência que se poderia esperar dessa vetusta e honrada casa", comentou.
"Entrego o cargo no próximo dia 17, sem qualquer jactância (vaidade, arrogância), mas com a convicção serena de que militei até o último instante na defesa dos compromissos constitucionais assumidos há mais de 30 anos", afirmou Janot.
Em nome do STF, a presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, agradeceu o trabalho de Janot.
"Como bem disse, (o senhor) honrou, como todos que têm ocupado a cadeira de procurador-geral da República, tem honrado os trabalhos dessa tão importante instituição para a democracia brasileira", afirmou Cármen, dirigindo-se a Janot.
Ao falar da transitoriedade dos ocupantes de cargos, Cármen frisou que a "Justiça é permanente e será devidamente honrada e reverenciada". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.