Twitter: a publicação original, que acusava a repórter de ter declarado que tentaria “arruinar” o governo de Jair Bolsonaro (Twitter/Reprodução)
Clara Cerioni
Publicado em 11 de março de 2019 às 18h04.
Última atualização em 11 de março de 2019 às 18h21.
São Paulo — O site francês "Mediapart", que originou os ataques contra a jornalista do jornal O Estado de S. Paulo Constança Rezende, desmentiu, nesta segunda-feira (11), as acusações envolvendo a cobertura jornalística das movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz, ex-motorista do senador e filho do presidente.
No Twitter, o portal francês disse que se solidariza com a profissional e afirma que o artigo foi escrito por um blog independente. A mensagem foi escrita em português.
"As informações publicadas no 'club de Mediapart' que serviram de base para o tweet de @jairbolsonaro são falsas", escreveu.
Mediapart se solidariza com a jornalista @constancarezend, vítima de ameaças. As informações publicadas no "club de Mediapart", que serviram de base para o tweet de @jairbolsonaro, são falsas. O artigo é de responsabilidade do autor e o blog é independente da redação do jornal. https://t.co/0BIDr4TXSd
— Mediapart (@Mediapart) March 11, 2019
A publicação original, que acusava a repórter de ter declarado que tentaria “arruinar” o governo de Jair Bolsonaro, foi publicada em um blog produzido por leitores do Mediapart.
Intitulado “Para onde vai a imprensa?”, o texto foi divulgado em uma seção que funciona como fórum online, no qual internautas podem manter blogs próprios, por dois euros por semana.
Seu autor, Jawad Rhalib, escreveu que o áudio foi retirado de uma conversa entre um estudante de uma “famosa universidade britânica focada neste tema” e a jornalista.
O blogueiro disse que, na gravação, a repórter teria revelado que “a verdadeira motivação por trás da cobertura negativa da mídia é a de ‘arruinar’ o presidente Jair Bolsonaro e causar sua demissão”. A transcrição da entrevista, no entanto, não corrobora essa versão.
A gravação do diálogo mostra que Constança em nenhum momento fala em “intenção” de arruinar o governo ou o presidente. A conversa, em inglês, tem frases truncadas e com pausas. Só trechos selecionados foram divulgados.
Em um deles, a repórter avalia que “o caso pode comprometer” e “está arruinando Bolsonaro”, mas não relaciona seu trabalho a nenhuma intenção nesse sentido.
Assim que as acusações contra a jornalista foram publicadas no Twitter, a mesma se pronunciou e disse que não deu entrevista ao jornalista francês nem dialogou com ele.
Segundo ela, suas frases foram retiradas de uma conversa que teve em 23 de janeiro com uma pessoa que se apresentou como Alex MacAllister, suposto estudante interessado em fazer um estudo comparativo entre Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Depois que o presidente publicou em seu Twitter o post do Terça Livre, os usuários começaram a desmentir a informação.
O linchamento virtual contra a jornalista foi criticado por diversas entidades, como a OAB e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Para as entidades, Bolsonaro usa poder para tentar intimidar imprensa.
(Com Estadão Conteúdo)