Rodrigo Maia: a oposição, sozinha, tem aproximadamente 130 deputados e é vista como o "fiel da balança" na eleição para o comando da Câmara (Tânia Rego/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de dezembro de 2020 às 13h49.
Última atualização em 16 de dezembro de 2020 às 16h34.
Com os partidos de oposição prestes a embarcar em uma candidatura chancelada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), nome do Palácio do Planalto para a disputa pelo comando da Casa, adotou a estratégia de abordar individualmente parlamentares, na tentativa de garantir os votos da esquerda, destaca o Estadão. A aposta de Lira, agora, é que a votação secreta o ajude a ganhar o apoio de "infieis" dispostos a contrariar a orientação de suas legendas e definir a seu favor a eleição, marcada para 1° fevereiro de 2021.
O PDT confirmou ontem o apoio ao candidato do grupo de Maia e outros partidos de oposição, como o PT, o PCdoB e o PSB, devem aderir à campanha do candidato escolhido por ele. "Hoje, dentro do nosso bloco, existem dois nomes: Baleia Rossi (MDB) e Aguinaldo Ribeiro (Progressistas)", afirmou o presidente da Câmara, indicando que a competição agora está entre os dois deputados, nessa ordem de preferência.
A eleição de fevereiro também vai renovar o comando do Senado. Uma nova rodada de conversas está marcada para hoje, quando é possível que seja anunciada a ampliação do bloco parlamentar de apoio ao candidato patrocinado por Maia, atualmente formado por DEM, MDB, PSDB, PSL, Cidadania e PV. Se conseguir unir os partidos de esquerda, o nome com a bênção do presidente da Câmara somará quase 290 votos - são 513 deputados. O PSOL também vem sendo pressionado para desistir da candidatura própria.
"Nós trabalhamos para formar bloco e não deixar a mão de Bolsonaro se impor na Câmara", disse o presidente do PDT, Carlos Lupi, numa referência à entrada do presidente Jair Bolsonaro no embate do Legislativo. "Bolsonaro quer testa de ferro para cada vez mais manipular direitos civis da sociedade."
A oposição, sozinha, tem aproximadamente 130 deputados e é vista como o "fiel da balança" na eleição para o comando da Câmara. Na tentativa de superar a condição de "candidato de Bolsonaro", Lira abriu negociação com a esquerda há meses, com promessas sob medida para cada sigla e também para parlamentares, incluindo a liberação de emendas, entrega do comando de comissões importantes, revisão da cláusula de barreira e defesa da classe política como contraponto à Operação Lava Jato.
Líder do Centrão, Lira tem o respaldo de nove partidos, que somam 170 deputados, e vai rivalizar com um aliado de Maia. Sua aposta é a de que o trabalho iniciado há dois anos o ajude a conquistar votos individuais.
Com 54 deputados, a bancada mais cobiçada da eleição, a do PT, também está dividida e pode ter defecções. Para ganhar votos petistas, Lira acena com uma pauta anti-Lava Jato, indicando que se for eleito, dará todo apoio para barrar decisões do Supremo Tribunal Federal de cassação de mandatos. Além disso, promete entregar a presidência de comissões importantes ao partido, mas nega negociações fisiológicas.
"Como candidato, tenho a obrigação de conversar com todos os líderes e partidos. Não há qualquer tratativa em relação a projetos referentes a Ficha limpa ou indicação de cargos", disse.
Na semana passada, Lira teve o apoio explícito dos deputados do PSB Felipe Carreras (SE) e João Campos, prefeito eleito do Recife. Em seguida, porém, a cúpula do partido decidiu vetar o apoio ao candidato do presidente Jair Bolsonaro. "Não é um veto a Lira pessoalmente, mas ao candidato do Palácio do Planalto", disse ao Estadão o presidente do PSB, Carlos Siqueira.
A decisão da legenda foi tomada em reunião virtual com 80 participantes, dos quais nenhum se mostrou contrário. "Bolsonaro quer um candidato diferente do grupo de Maia, que é totalmente a favor da agenda econômica, porque quer pautas de costumes, armamento, etc", observou Siqueira, dizendo que o PSB vai ingressar num bloco de centro-esquerda.
A orientação, no entanto, não deve ser suficiente para unir os 31 deputados do partido. Uma parte da bancada se tornou cabo eleitoral do líder do Centrão após negociar a liberação de emendas com o Planalto, como revelou o Estadão. Em reunião na semana passada, esse apoio foi explícito.
Felipe Carreras chegou a levar colegas de partido para reuniões no Planalto. "(Que) Fique claro: sou oposição ao governo. Mesmo o voto sendo secreto, tenho candidato a presidente da Câmara: Arthur Lira", escreveu ele em uma rede social.