Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro com o grupo Influenciadores pela Democracia (Ricardo Stuckert/PR/Flickr)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 18 de abril de 2023 às 19h42.
Última atualização em 18 de abril de 2023 às 20h51.
Mais de 80 milhões de brasileiros já compraram em plataformas de e-commerce asiáticas, como a Shein, Shopee e AliExpress, segundo o Instituto Locomotiva. Além disso, quase 90% dos eleitores conhecem essas plataformas. Com tamanha exposição, o governo perdeu a guerra da comunicação ao voltar atrás e manter a isenção de tributos para importações sem fins comerciais entre pessoas físicas até US$ 50. O desgaste feito não será resolvido tão cedo, avalia Renato Meirelles, presidente do Locomotiva.
"O governo perdeu essa batalha e saiu mais fraco do que se tivesse mantido a posição [inicial, de acabar com a isenção]", diz Meirelles. "Errou e errou ainda mais ao recuar."
Para o fundador do instituto de pesquisas, o governo falhou na comunicação do caso. "Ao invés de falar sobre defesa de empregos, de estar defendendo [o empresário nacional] da concorrência predatória de outras [empresas] que não pagam imposto, de combate à sonegação, eles falaram em aumento de impostos", diz Meirelles.
A percepção popular — em que pese a tentativa de ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em combater essa narrativa — é a de que o governo estaria ampliando impostos em produtos "queridinhos" nacionais. A decisão de voltar atrás na isenção, para Meirelles, é ainda pior. "É pior ter voltado atrás. Vão dizer que foi graças à oposição e perdem a narrativa", afirma.
Em sua avaliação, a medida, embora impopular no curto prazo, teria efeitos positivos na imagem em médio prazo, com possíveis benefícios ao aumentar a renda de pequenos empreendedores e contratações de grandes varejistas que têm passado por maus bocados.
"Além da narrativa de defesa da indústria nacional", diz Meirelles, citando um tema que é fundamental para o governo. "Isso tudo em um momento em que Lula voltou da China. Ou seja, parece que foi pressão internacional."
Os índices de popularidade de Lula hoje podem ser lidos de forma ambígua. Com 38% de aprovação e 29% de rejeição, segundo pesquisa do Datafolha, a gestão está melhor do que outros presidentes nos 100 primeiros dias. Ao mesmo tempo, o petista está abaixo das próprias marcas de suas administrações de 2003 — quando era aprovado por 43% e rejeitado por 10% — e 2007 — quando 48% aprovaram seu governo e 14% rejeitavam.
Para Meirelles, do Locomotiva, Lula está refém das redes sociais — o que considera um "erro" na forma de medir a popularidade. "Ele devia estar preocupado em como vencer as narrativas na rede social. Não em ceder", afirma. "Ao fim, ele acabou dando razão a quem está defendendo os sonegadores."
Ao mudar de ideia em um assunto que vinha dominando o noticiário nacional, o governo deu sinais negativos para diversos segmentos.
Para o mercado, pontua Meirelles, mostra que não dá para confiar no que diz o ministro da Fazenda. Para os consumidores, incentiva o não pagamento de impostos.
Além disso, seria uma oportunidade do governo de apresentar a empresários — em boa medida contrários ao seu governo e vocais nas eleições — que defenderia o mercado e a indústria nacional.