José Serra, senador e ex-ministro da Saúde (Jane de Araújo/Agência Senado)
Agência O Globo
Publicado em 14 de julho de 2020 às 07h01.
A denúncia apresentada pela força-tarefa da Lava-Jato na semana passada contra o senador José Serra por lavagem de dinheiro terá um encaminhamento político no PSDB diferente daquele destinado ao ex-senador e atual deputado Aécio Neves, no ano passado. Enquanto o caso do mineiro levou setores da legenda, especialmente em São Paulo, a trabalhar por sua expulsão, desta vez Serra tem tido a solidariedade dos colegas de sigla.
Passados alguns dias desde o surgimento da denúncia, ninguém sugeriu nem em conversas reservadas iniciar contra o senador algum processo para afastá-lo ou levá-lo ao Conselho de Ética do partido — conselho este que completará um ano em julho sem ter julgado nenhum filiado. No caso de Aécio, o processo interno foi iniciado, mas arquivado pela Executiva tucana antes mesmo de ser apreciado.
Apesar de admitirem que o episódio Serra aprofunda o desgaste de imagem do PSDB com mais uma liderança nas páginas policiais do noticiário, políticos ouvidos pelo GLOBO afirmam que o caso do político de SP é diferente do mineiro e, por isso, deve receber tratamento diferente.
Aécio foi flagrado numa conversa com o empresário Joesley Batista, do grupo J&F, pedindo dinheiro. O diálogo foi gravado pelo empresário e entregue ao Ministério Público Federal. Sua divulgação trouxe um profundo desgaste político ao mineiro e ao partido, ainda que Aécio negue ter cometido ilícitos. Já a denúncia contra Serra afirma que ele valeu-se de seu cargo e influência política para receber propina da Odebrechet por meio de uma sofisticada rede de offshores no exterior — esquema que teria contado com a participação da filha dele, Verônica. Serra também nega as acusações.
Para tucanos, no entanto, a denúncia contra Serra não apresenta provas de envolvimento direto dele no crime de lavagem de dinheiro. A idade e a condição de saúde do senador são outros fatores que influenciaram na reação amena dos tucanos sobre a denúncia da Lava-Jato. Serra está com 78 anos e tem apresentado uma condição física debilitada. Ele já caminha com alguma dificuldade, tem a audição um pouco prejudicada e teve câncer na próstata em 2018.
Por último, há um aspecto político. Serra já não é ameaça a ninguém no partido, não há planos que ameaçam o projeto dos novos líderes do PSDB e, portanto, isso o ajuda a não ter adversários internos.
O governador João Doria tem uma relação de proximidade protocolar com o senador, com quem troca telefonemas esporádicos. O governador demonstra ter respeito pela trajetória política de Serra quando fala dele com auxiliares. A discreta reação que adotou em relação à denúncia contra o senador na sexta-feira passada foi resultado de todos esses fatores e mais um: o paulista aprendeu no episódio Aécio que não é dono do partido.
Em agosto do ano passado, o grupo de Doria foi derrotado na Executiva Nacional na tentativa de afastar o deputado mineiro da sigla. De fora de São Paulo, tucanos dizem que, se quisesse repetir a dose com Serra, o governador paulista cavaria uma derrota ainda mais acachapante.
Além disso, desde a eleição presidencial de 2018, o PSDB nunca esteve tão alinhado internamente. Com exceções pontuais, todos no partido encontraram um inimigo em comum: Bolsonaro. O discurso da neutralidade que o partido adotou nos primeiros meses de governo caiu por terra e a sigla assume hoje papel de oposição ao presidente sem subterfúgios.
Isso ajudou a unir as diferentes lideranças tucanas, dos “cabeças brancas" aos “cabeças pretas”. As exceções são os senadores Roberto Rocha, que é líder do PSDB no Senado, e Izalci Lucas. Ambos flertam com Bolsonaro. Rogério Marinho, que virou ministro do Desenvolvimento Regional no início deste ano, pediu desfiliação do PSDB.