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Sergio Vale, da MB Associados: sucesso do governo Lula vai depender de ministro da Economia forte

O economista-chefe da MB Associados avalia que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegará mais fraco à Presidência da República em 2023

Sérgio Vale: economista-chefe da MB Associados (Twitter/Reprodução)

Sérgio Vale: economista-chefe da MB Associados (Twitter/Reprodução)

LB

Leo Branco

Publicado em 30 de outubro de 2022 às 20h01.

Última atualização em 30 de outubro de 2022 às 20h08.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, avalia que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegará mais fraco à Presidência da República em 2023 em razão da vitória muito apertada sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL). Em função disso, a governabilidade vai depender de uma política econômica acertada. E, fundamentalmente, de um ministro da Economia com força política para avançar a agenda de reformas.

Que Estado brasileiro o candidato Lula deverá encontrar em 2023 caso eleito à Presidência?

Estamos num grau histórico de polarização política, isso vai colocar sim dificuldades para um provável governo Lula. Agora, a tomada do Estado pelo campo político do bolsonarismo, como é o que explica as ações da Polícia Rodoviária Federal em regiões de forte apoio ao Lula, parte das lideranças colocadas na chefia dessas instituições. A troca dessas lideranças, por outras com viés de mais Estados e menos de política pode resolver em grande medida esse desafio. A meu ver a questão do governo Lula será a relação com o Congresso. O que se viu nos governos Temer e Bolsonaro foi uma força inédita do Congresso na decisão de questões relevantes como o orçamento. Temos visto um Congresso muito mais forte e presente, vide o orçamento secreto. Há uma denominação de força maior em relação aos governos anteriores de Lula.

A partir das declarações de Lula durante a campanha, já é possível saber como ele vai lidar com essa queda de braço com o Congresso?

O Supremo deve ajudar a acomodar essa queda de braço ao analisar ainda neste ano a validade constitucional do orçamento secreto. Alguma regra para dar mais transparência a esses gastos deve estar na mesa do STF. Será um primeiro passo importante para equalizar as forças. Agora, há outras questões importantes para o Executivo e que estão em discussão no Congresso, como os créditos extraordinários e um novo regime fiscal para União e estados. O próximo governo vai precisar de muita articulação para manter o equilíbrio fiscal.

Que agenda econômica esperar do governo Lula a partir de 2023?

Espero que o governo Lula venha mais ao centro, assim como sinalizado na carta divulgada pela campanha dele na última quinta-feira. Um governo com responsabilidade fiscal real, e que seja a primeira coisa da agenda dele — não foi a primeira das propostas apresentadas na quinta. O governo dele pode reconstruir muitas agendas deixadas de lado durante o governo Bolsonaro, a começar pela agenda ambiental e a educação. Para tudo isso, não vai ser necessário fazer grandes gastos. Dá para fazer isso com bases saudáveis sob o ponto de vista fiscal. Mas, para isso, vai ser essencial ter um bom ministro da Economia. E, mais do que isso, vai ser importante ter um ministro da Economia com força política dentro do governo. O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, que esteve próximo da campanha de Lula, pode ser esse nome.

Em algumas entrevistas e artigos, você argumentou a importância para o Brasil de haver um presidente forte. A falta de força política, inclusive, esteve por trás do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016. Lula chegará ao poder com a menor vantagem percentual sobre o candidato derrotado na história da redemocratização brasileira. Isso pode tornar Lula um presidente fraco?

Ele chegará fraco, sem dúvida, mas há diferenças importantes em relação ao contexto de 2015, quando Dilma assumiu o poder depois de uma disputa eleitoral muito acirrada contra Aécio Neves (PSDB). Na ocasião a Lava-Jato estava no início e implicava diretamente o governo dela. O país não deve enfrentar uma recessão da magnitude do visto entre 2015 e 2016. Ele tem muito mais espaço para se sair melhor no primeiro ano do que Dilma teve. Tudo vai depender de uma política econômica acertada.

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