O prefeito do Rio, Eduardo Paes (Raphael Dias/Getty Images)
Raphael Martins
Publicado em 21 de agosto de 2016 às 06h00.
Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 11h35.
São Paulo – O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB-RJ), ganhou status de estrela durante os Jogos Olímpicos. Foi ele o grande porta-voz e a referência quando o assunto foi a Rio-2016, tanto para o bem, como para o mal.
O afastamento de Dilma Rousseff (PT) trouxe consigo uma mudança de ministro do Esporte. A figura de Leonardo Picciani (PMDB-RJ), que pegou o bonde andando, não firmou imagem de representante.
O governo do estado também sofreu com mudança no poder: licenciado para tratar um câncer, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ) não pôde responder devidamente pelos Jogos ou pela crise pela qual passa o Rio.
Caiu no colo de Paes a bucha junto com uma oportunidade: aparecer diante do eleitorado. Não é segredo que ele mira a cadeira de governador para 2018.
Reforçam-se essas expectativas visto que, com o desenrolar das negociações para formar a base de governo de Michel Temer (PMDB), o partido de Paes não deve lançar candidatura à presidência da República em 2018. Mas um bom legado deixado à cidade do maior evento esportivo recebido pelo Brasil deve dar moral para o futuro.
O prefeito do Rio também é jovem e tem apenas 46 anos. Terá, portanto, 53 anos de idade na disputa de 2022.
Será essa sua pretensão? A pedido de EXAME.com, especialistas em análise de discurso deram seus palpites sobre a postura adotada por Paes em suas declarações públicas.
O prefeito do Rio oscilou entre o “sabonete” e “polêmico”, com algumas declarações oportunistas e outras para se distanciar dos problemas da Rio-2016.
Lá no início do ano, Paes se esquivou do surto de zika, dizendo que não se tratava de um “problema olímpico”, mas de todo o Brasil. Sabe-se que alguns atletas deixaram de vir ao Rio para os Jogos com medo de se contaminar.
À menos de 50 dias para os Jogos, o pedido de calamidade pública pelo governo do estado virou notícia mundial. Paes foi ao ataque, dizendo que estava “atrapalhando demais o Rio esse chororô” e que estava “na hora de trabalhar”. Vale lembrar que apesar do governador em exercício ser o pepista Francisco Dornelles, o vencedor da eleição foi o peemedebista Pezão, companheiro de partido de Paes.
Somam-se ainda entrevistas concedidas pelo prefeito a veículos internacionais. Paes disse ao jornal inglês The Guardian que a Olimpíada era uma “oportunidade perdida” pelo país e à rede norte-americana CNN que o governo estadual fazia um péssimo trabalho com a segurança pública, preocupação de turistas que chegavam.
Chegada a Olimpíada, trapalhadas se seguiram. Paes tentou atribuir responsabilidade dos problemas na Vila Olímpica a um argentino (não um brasileiro) e disse que traria um canguru à delegação australiana para que não ficassem satisfeitos depois de enfrentar problemas estruturais na construção.
O prefeito chegou a se desculpar depois que a declaração pegou mal e, dali em diante, moderou o tom. Hoje, ele encerra a Olimpíada 2016 com novo discurso.
Para Israel de Sá, especialista em análise de discurso da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o contexto geral de suas declarações funcionaram como processo de distanciamento dos problemas enfrentados pela organização dos Jogos e do clima político que enfraqueceria sua imagem política.
“No plano político, evidencia-se a fragmentação no PMDB, como pode ser verificada, por exemplo, na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara, marcada por adesões e dissidências no interior da legenda”, afirma o professor. “No plano político e social, trata-se do afastamento dele próprio, que faz colar no outro os problemas e as promessas não cumpridas”.
De acordo com Eugenio Giglio, professor da ESPM-Rio e também especialista em análise de discurso, a estratégia de Paes lembra a forma de política do ex-prefeito César Maia, que através da polêmica gerava conhecimento do eleitorado.
“Maia pegou uma fama de maluco. Votam nele porque o reconheciam”, diz Giglio. “Paes agora criou uma marca que lhe elevou. A Olimpíada foi um sucesso e muitas obras foram feitas. No futuro, os eleitores não vão guardar na memória os episódios ruins, então ele sai mais forte”.
Para Giglio, na pior das hipóteses, o prefeito ganha, ao menos, uma lembrança de que ele estava lá para pretensões maiores no futuro.
“O histórico até aqui é um misto de pressão com uma defesa pessoal. O politico não é ingênuo. Todo mundo sabe, no Brasil e exterior, quem tomou a frente, então ele entrou na linha de frente e foi se expondo com cuidado”, diz. “Passados os Jogos, saberemos se deu certo”.