Presidente Jair Bolsonaro (EVARISTO SA/AFP/Getty Images)
Alessandra Azevedo
Publicado em 28 de junho de 2021 às 17h30.
Última atualização em 28 de junho de 2021 às 18h18.
Senadores apresentaram ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira, 28, uma notícia-crime pedindo a investigação do presidente Jair Bolsonaro pelo suposto crime de prevaricação no caso da vacina indiana Covaxin. Assinam o documento o vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Jorge Kajuru (Podemos-GO) e Fabiano Contarato (Rede-ES).
A cúpula da CPI já havia anunciado que notificaria o STF na sexta-feira, 25, após os depoimentos do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e do irmão dele, servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda. Para os senadores, ficou claro que Bolsonaro soube de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin e não tomou providências.
Ou seja, o presidente teria cometido o crime de prevaricação, que, pela lei, significa "retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal". O STF pode pedir a abertura de investigação à Procuradoria-Geral da República (PGR) ou à Polícia Federal (PF).
Os irmãos Miranda disseram à CPI que avisaram pessoalmente o presidente sobre as pressões sofridas por servidores para a liberação de importação da Covaxin. Luis Ricardo Miranda teria identificado indícios de irregularidades nos documentos, como pagamento antecipado de 45 milhões de dólares a uma empresa que não estava no contrato inicial.
Bolsonaro teria ouvido os relatos dos irmãos, no dia 20 de março, mas não teria feito nada a respeito. Segundo Luis Miranda, o presidente afirmou que isso era “coisa” do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), e afirmou que acionaria a Polícia Federal. Barros nega envolvimento no caso.
Na notícia-crime, os senadores listam as irregularidades que teriam sido cometidas durante a negociação pela Covaxin. Há suspeitas de superfaturamento, "já que o valor contratado para o referido imunizante foi superior ao de todas as outras vacinas adquiridas, inclusive à do laboratório Pfizer, cujas propostas foram reiteradamente negadas por esse motivo pelo Ministério da Saúde, até o seu desfecho final".
Outra suspeita é de escolha do objeto por critérios não técnicos, pois a vacina não havia sido aprovada pela Anvisa no momento da contratação, "o que só viria a ocorrer meses depois e, ainda assim, com uma série de restrições". Os senadores citam ainda suspeita de intermediação da compra por empresa investigada por outras fraudes e ilícitos.
"Há uma série de irregularidades aparentes", diz o documento. Com base nos depoimentos de Luis Miranda e Luis Ricardo, eles mencionam pressões atípicas para a liberação rápida do imunizante, exigência de pagamentos de modo diferente do previsto no contrato e relação negocial com empresas offshore situadas em paraísos fiscais que não apareciam no contrato original.
"O presidente da República deveria ter, com os fatos de que dispunha à época, requisitado a instauração das competentes investigações para apurar a suspeita de nefasta corrupção no bojo das contratações do Ministério da Saúde", diz a notícia-crime.
Entre as medidas, eles citam a interrupção das negociações com a empresa responsável pela Covaxin até que os fatos fossem esclarecidos. "No entanto, não houve nenhuma ação para a abertura de inquérito capaz de investigar as denúncias", aponta.