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Senado aprova em primeiro turno a PEC da Anistia, que livra partidos de multas

Medida agora está pronta para a promulgação e avança nas vésperas do início das campanhas das eleições municipais de 2024

Agência o Globo
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Publicado em 15 de agosto de 2024 às 12h22.

Última atualização em 15 de agosto de 2024 às 12h26.

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O Senado aprovou nesta quarta-feira, em primeiro turno, por 51 votos favoráveis a 15, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Anistia, que livra partidos de multas eleitorais por descumprimento de cotas. A aprovação acontece em meio a pressão de presidentes de partidos, que desejam aprovar as novas regras para serem aplicadas nas eleições de 2024, cujo período de campanha já começa nesta sexta-feira.

Apenas o Novo, que tem somente um senador, orientou contra a proposta. O governo liberou a bancada e e a oposição orientou o voto favorável. Caso também seja aprovada em segundo turno, a iniciativa segue para a promulgação.

Os dirigentes partidários querem a entrada em vigor das novas regras o quanto antes para conseguirem regularizar sua situação perante à Justiça Eleitoral a tempo das eleições municipais deste ano. O texto é de interesse de quase todos os partidos representados no Congresso, e tem o apoio do PL ao PT.

A proposta abre margem para uma anistia ampla a irregularidades cometidas por partidos, o que inclui o descumprimento da cota de 30% de candidaturas mulheres e a de pretos e pardos, que obedece à proporção deles no eleitorado, o que hoje representa algo próximo de 50%. Além disso, a PEC muda o modo de aplicar a cota racial e passa a definir o percentual de 30%.

"Todos nós que somos dirigentes partidários, ainda que em âmbito estadual, a gente acaba enfrentando uma situação que precisa ser esclarecida. Tem situações de punições e multa partidária que você não pode usar o recurso do partido, você não pode receber uma doação para pagar aquela multa. Como você vai pagar? Pessoalmente, com seu CPF, com seu recurso?", disse a senadora Professora Dorinha Seabra (União-TO) ao citar a preocupação dos presidentes de partidos em aprovar logo a proposta.

A aprovação contou com o empenho do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Davi Alcolumbre (União-AP). A PEC foi aprovada na CCJ mais cedo nesta quarta e Alcolumbre apresentou um requerimento para que ela pudesse ser analisada em plenário no mesmo dia, em regime de urgência, pulando etapas como as cinco sessões de debates.

O relator da PEC é o senador Marcelo Castro (MDB-PI). O emedebista não fez nenhuma alteração em relação ao texto que foi aprovado pelos deputados em julho. Com mudanças, a proposta precisaria passar por uma nova votação na Câmara, o que atrasaria a aplicação da anistia.

O texto da proposta não apresenta o impacto da medida, mas a Organização Não Governamental (ONG) Transparência Partidária calcula o volume em até R$ 23 bilhões.

Apesar de contar com amplo apoio dos partidos, a proposta passou por dificuldades para ser aprovada na Câmara, pois enfrenta forte resistência da sociedade civil organizada. Na Câmara, apenas o partido Novo e o bloco PSOL-Rede votaram contra a PEC, mas o texto estava travado na Casa desde o ano passado porque o Senado sinalizou que engavetaria a medida.

O senador Paulo Paim (PT-RS) criticou a proposta:

– Eu acredito que nós devemos fortalecer a educação popular, o que, nesse caso, não está acontecendo. Todos nós sabemos que os movimentos sociais vão entrar na Justiça, e vai haver de novo o que a gente chama... O Congresso decide, e a Justiça pode modificar esta PEC.

O petista reclamou ainda do fato das mudanças serem aprovadas na véspera do início da campanha eleitoral.

"A campanha eleitoral começa amanhã, e nós vamos votar uma PEC hoje. O maior argumento que eu ouvi lá atrás foi de que não houve tempo para explicar direitinho para os partidos nos estados como se daria o processo de cotas, com tempo de rádio e televisão, enfim, e de que, por isso, houve o atropelo, com o que muitos não puderam cumprir a norma", apontou.

"É de se perguntar: se uma emenda constitucional for aprovada hoje, e, a partir de meia-noite de hoje, começa o processo eleitoral, nós teremos tempo para adequar a essa realidade todo um processo que vai se iniciar a partir de amanhã?", completou.

De acordo com Marcelo Castro, o Senado mudou de posição após a Câmara, que teve o deputado Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP) como relator, suavizar alguns dispositivos do texto.

Uma das principais mudanças foi a possibilidade de parcelamento das multas dos partidos. Além disso, há uma espécie de "financiamento" das dívidas dos partidos, com pagamentos em até 180 meses.

Outro trecho da PEC permite aos partidos, que descumpriram a cota racial em 2020 e 2022, poderem compensar a distorção nas quatro disputas seguintes, de 2026 em diante, escapando assim de punição.

No que diz respeito às candidaturas femininas, o novo texto retira o trecho que aliviava partidos que descumpriram as cotas de repasses para mulheres, porém, grupos voltados para a transparência que acompanham a tramitação da proposta apontam que a iniciativa ainda permite anistia nesses casos.

"Na prática, estariam anulados todos os tipos de sanções aplicadas, configurando-se uma anistia ampla e irrestrita para todas as irregularidades e condenações de partidos políticos e campanhas eleitorais", diz nota assinada por organizações como a Transparência Internacional.

Entenda os principais pontos da PEC da Anistia

O texto estabelece que os partidos devem enviar ao menos 30% dos recursos do Fundo Partidário e Eleitoral para candidaturas de pessoas pretas ou pardas. Anteriormente, o projeto previa um piso de 20%. Se aprovado pelo Senado antes das eleições, esse trecho já passa a ser aplicado nas disputas que acontecerão em outubro. Hoje o Tribunal Superior Eleitoral define que a proporção tem que ser igual à participação de negros entre os candidatos, algo que é próximo de 50%;

A proposta abre brecha para que esses recursos possam ser destinados a apenas um candidato, deixando outras candidaturas de mulheres e negros com pouca verba de campanha;

Os partidos também ficarão livres para escolher uma determinada região para enviar as verbas de campanha;

O texto ainda livra os partidos de pagarem multas ou terem o Fundo Partidário Eleitoral suspenso por irregularidades na prestação de contas realizadas antes da promulgação da emenda;

Partidos e federação partidárias ganharão imunidade tributária, ou seja, estarão isentos de pagarem impostos, como acontece atualmente com entidades religiosas e organizações assistenciais;

Será criado um Programa de Recuperação Fiscal (Refis) para os partidos regularizarem suas dívidas. A proposta prevê que as entidades ganharão isenção dos juros dos débitos e multas acumulados. Desse modo, a correção monetária só será aplicada sobre os valores originais da dívida;

A proposta ainda alivia regras vigentes da prestação de contas e desobriga os partidos a apresentarem recibos em caso de doações de recursos do Fundo Partidário e Eleitoral através de transferência bancária feita pelo partido aos candidatos e candidatas e doações recebidas através de PIX.

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