Simone Tebet e João Doria (Montagem Exame/Agência Brasil)
Agência O Globo
Publicado em 30 de abril de 2022 às 11h30.
Com a saída do União Brasil dada como certa, MDB, PSDB e Cidadania tentam superar dificuldades internas em busca de um consenso pela candidatura única da 'terceira via' à Presidência da República, apresentada como alternativa aos nomes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL). A tese que ganha mais força no momento dentro do bloco é convencer o ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a ser vice da senadora Simone Tebet (MDB-MS) na chapa majoritária.
Diante dos desafios que envolvem as tratativas, todas as hipóteses são consideradas, inclusive cada legenda seguir na disputa separadamente. Neste caso, entretanto, também será preciso enfrentar resistências internas para viabilizar a candidatura própria.
No MDB, por exemplo, a candidatura de Simone Tebet desagrada especialmente a ala do Nordeste, que defende fechar apoio ao ex-presidente Lula. Embora não seja maioria, é lá que estão alguns dos principais caciques da legenda, como o senador Renan Calheiros (AL) e o ex-senador Eunício Oliveira (CE).
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Ainda assim, o presidente do MDB, Baleia Rossi, continua empenhado em convencer os correligionários de que Tebet é o melhor caminho para que a sigla tenha uma candidatura "neutra" na disputa, o que ajuda aqueles que não querem se comprometer politicamente com Lula ou Bolsonaro.
Além disso, conforme mostrou o GLOBO, um dos argumentos é evitar que, sem a candidatura própria, a maior parte dos emedebistas, especialmente no Sul e Sudeste do país, consiga fechar questão pelo apoio a Bolsonaro.
O deputado Daniel Vilela (MG), que deve ser candidato à vice na chapa do governador Ronaldo Caiado (União), faz parte desse grupo pró-Tebet, mas considera que a saída do União Brasil pode enfraquecer politicamente o nome de Tebet no partido.
"Para mim, aqui em Goiás, é mais confortável (apoiar) a candidatura da Simone Tebet, mas não sei se ela irá se confirmar na convenção, em razão da fragilidade política, principalmente com essa saída do União Brasil", disse Vilela, ao GLOBO.
A situação de João Doria também é delicada dentro do partido. Nas últimas semanas, Doria, que já enfrentava desgaste com alguns tucanos, demitiu o presidente do PSDB, Bruno Araújo, da coordenação da pré-campanha. O episódio expôs o desgaste na relação.
Na quinta-feira, durante novo encontro da terceira via, em São Paulo, Araújo não compareceu por estar em viagem ao exterior e enviou como representante o ex-deputado Pimenta da Veiga (MG), adversário de Doria dentro da sigla.
— Na última reunião nós decidimos que iríamos continuar buscando uma candidatura única entre os outros três partidos, MDB, PSDB e Cidadania. E vamos continuar. Você tem hoje duas candidaturas, uma da Simone Tebet e outra do João Doria. Temos que definir. Isso está bem encaminhado porque os três partidos e os dois candidatos acreditam que não sairão da coligação independente da escolha. Isso é meio caminho andado - disse o presidente do Cidadania, Roberto Freire, na sexta-feira.
Freire destacou que há um anseio de parte da sociedade pela participação das mulheres nessa e em outras esferas da vida pública, acrescentando que Tebet "está indo muito bem". Mas pondera que não há nada fechado sobre quem será o representante do grupo.
Mesmo emedebistas que apoiam a aliança, no entanto, consideram que Doria vai brigar até o fim para liderar o processo na corrida eleitoral.
Pressionado a abrir mão da pré-candidatura como cabeça de chapa, o ex-governador tem dito a pessoas próximas que se ressente pelo fato de Simone dizer em entrevistas que não aceita ser vice, o que, na visão do tucano, demonstra falta de disposição da senadora de dialogar em busca de um consenso.
Na quinta-feira, em sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo e pelo UOL, ele expôs a contrariedade ao ser questionado se pode abrir mão da cabeça de chapa.
"Temos que ter o bom entendimento de que a prioridade é o Brasil, não nós. Eu não me priorizo e nem excluo nenhuma alternativa. Não estou fazendo críticas contra a Simone Tebet, mas a prioridade é o Brasil e brasileiros", declarou o tucano na ocasião.
Um dos principais desafios nos próximos dias será a definição de critérios para escolha entre Doria e Tebet. Dirigentes dos partidos estabeleceram o dia 18 de maio como data limite para anunciar o escolhido.
Além do desempenho nas pesquisas de intenção de voto, o que coloca ambos em patamares parecidos, entre 1% e 2%, os tucanos defendem incluir experiência administrativa entre os itens a serem analisados na hora de definir quem será o candidato, o que, por si só, gera divergências.
Na ala de Doria, o discurso é de que como prefeito da maior capital do país e governador de São Paulo ele acumulou mais bagagem do que Simone, que foi deputada estadual, prefeita de Três Lagoas, no interior do Mato Grosso, e vice-governadora do seu Estado, antes de chegar ao Senado. Emedebistas, por sua vez, consideram que Simone já demonstrou ter experiência suficiente pelos cargos que ocupou no passado.
O MDB também quer que o índice de rejeição de cada um seja determinante para a escolha. Segundo pesquisa Datafolha divulgada no dia 24 de março, Doria só fica atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), sendo rejeitado por 30% dos eleitores entrevistados. Já Simone tem menos da metade, com 12%.
O argumento dos tucanos é de que essa taxa é maior quanto mais o candidato é conhecido e, por ter ganhado projeção nacional pelos embates constantes com Bolsonaro, Doria se tornou um nome nacional. Lembram, ainda, que em 2018, ao deixar a prefeitura de São Paulo para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, o ex-governador também acumulava alta taxa de rejeição, próximo dos 70%, mas que se diluiu ao longo da campanha eleitoral.
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