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Sem polêmica: maioria dos pais recebeu bem vacinação de alunos, diz estudo

Com o início do ano letivo de 2022, 80% das redes municipais voltaram a oferecer atividades totalmente presenciais, segundo pesquisa da Undime com secretarias

Escola em São Paulo: maioria dos municípios (63%) avalia que pais têm recebido bem a vacinação infantil (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Escola em São Paulo: maioria dos municípios (63%) avalia que pais têm recebido bem a vacinação infantil (Rovena Rosa/Agência Brasil)

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Carolina Riveira

Publicado em 5 de abril de 2022 às 12h54.

Última atualização em 5 de abril de 2022 às 14h44.

Apesar do impacto da variante ômicron do coronavírus no começo do ano, as aulas presenciais foram retomadas na maior parte das escolas municipais do Brasil, enquanto a vacinação infantil tem sido bem recebida pelos pais de alunos, na percepção dos gestores. 

Os dados são da sétima rodada da pesquisa realizada pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), com apoio da Unicef, fundo da ONU para a infância, e do Itaú Social, divulgada nesta terça-feira, 5. 

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Dentre as 3.372 secretarias municipais ouvidas, 80% afirmaram que oferecem aulas totalmente presenciais. Ao todo, 90% têm atividades presenciais cinco vezes por semana — ainda que haja momentos híbridos também. 

O estudo aponta ainda que 78% das redes estão utilizando a chamada “busca ativa” para encontrar estudantes que se afastaram da escola durante os dois anos de pandemia.  

“Essa reabertura é um ponto muito importante em relação às pesquisas anteriores”, diz Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil, que comemorou a alta taxa de reabertura das escolas. Ela aponta ainda que mais de 100 mil crianças puderam voltar à escola graças à busca ativa. 

A vacinação infantil também avança, o que facilitou o retorno seguro. Dos gestores respondentes, mais de 60% avalia que a vacinação infantil têm tido boa aceitação dos pais e responsáveis dos alunos. Já 20% afirmam que há resistência e baixa procura pela vacinação.

As escolas municipais, público alvo da pesquisa, atendem em sua maioria alunos mais novos, sobretudo em educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental (até 10 anos no período ideal).

Pesquisa anterior publicada pela EXAME mostrou que o temor de contágio era um dos principais entraves para que os pais mandassem os filhos às aulas presenciais no ano passado, antes das vacinas.

Uma minoria dos municípios ouvidos, cerca de 37% (ou 1.248), disseram que exigem ou exigirão carteira de vacinação dos alunos.

A ausência de vacinação não impede que as aulas sejam frequentadas, mas quase metade (47%) dos municípios afirma que o conselho tutelar será comunicado em caso de crianças que não foram vacinadas, como já acontece com outras vacinas obrigatórias.

A vacinação de crianças a partir de 5 anos começou em janeiro deste ano, após ser aprovada pela Anvisa, agência reguladora. O processo envolveu disputas entre o governo federal, sociedade civil e governos locais.

Avaliações no retorno

Um dos resultados celebrados da nova edição da pesquisa é o alto número de redes que têm aplicado diagnósticos para identificar as defasagens dos estudantes no retorno à escola.

Do total, 60% das redes estão fazendo avaliações em todas as escolas do município e 33% têm deixado os diagnósticos a cargo das próprias escolas.

A Undime tem orientado as secretarias a incluir políticas de diagnóstico aos alunos como ponto prioritário no retorno. O objetivo é ir além da análise sobre concluir ou não o conteúdo esperado, mas garantir que as defasagens da pandemia sejam sanadas. 

“É fundamental que esse processo de avaliação diagnóstica marque a volta dos alunos”, disse em coletiva de imprensa sobre os resultados o professor Luiz Miguel Garcia, presidente da Undime, acrescentando também que os alunos sofreram problemas diversos de saúde mental durante a pandemia e será preciso lidar com essas questões. “Não é simplesmente voltar com avaliação sem ter um apoio socioemocional.”

“Não adianta trazer a criança, rematricular, se não tivermos esse olhar ampliado, gerar políticas públicas para entender por que ela estava fora”, diz. 

Um dos principais pontos de atenção é a diferença na forma como cada aluno viveu a pandemia, diz Bauer, do Unicef. 

Há dos que assistiram a todas as aulas online e tiveram maior apoio dos pais no dia a dia escolar aos que praticamente abandonaram a escola ou tiveram de trabalhar. 

Essa heterogeneidade entre os diversos municípios brasileiros e dentro da mesma comunidade, imposta por condições socioeconômicas, impõe às escolas a necessidade de lidar de forma diferenciada com as crianças no retorno, um desafio grande para professores e gestores.

"Crianças e adolescentes foram afetadas de forma muito profunda, e estão voltando para a escola com níveis muito diferenciados", diz a representante do Unicef. "São situações que nunca haviam acontecido antes."

Na busca por recuperar os conteúdos perdidos, municípios têm reiterado que é preciso apoio de instâncias como governos estaduais e federal na unificação de projetos de recuperação da aprendizagem.

“A grande luta é para que a gente consiga construir um grande programa nacional que ecoe essa necessidade [de recuperação da aprendizagem]”, diz Garcia, da Undime, indo além de “vários programas fragmentados em escalas reduzidas ou projetos pilotos”.

Falta de transporte e internet

Apesar dos avanços, a implementação do contraturno, com atividades fora do horário normal de aula — um dos pontos essenciais para recuperar o atraso da pandemia —, é ainda uma das principais dificuldades apontadas pelas escolas.

Pouco mais da metade, 54% das redes, diz que tem ou terão atividades presenciais no contraturno escolar; já 69% disseram que realizam ou vão realizar atividades dentro do turno escolar normal.

As atividades no contraturno remoto, por exemplo, demandarão investimentos em acesso à internet para alunos e professores. Já no contraturno presencial, há desafios de transporte e alimentação.

O transporte para estudantes segue sendo um dos principais problemas. Há alunos que se mudaram de casa para regiões que não são atendidas e que não são possíveis de incluir na rota atual do transporte. Ainda que a demanda chegue à prefeitura, conseguir frota para uma nova rota é demorado e caro, muitas vezes demandando nova licitação.

“É um desafio que a gente sempre tem e sempre vai ter. A educação no campo é muito intensa, inclusive em estados de Sul e Sudeste”, diz Garcia. 

Brasil perdeu oportunidade na pandemia

A superintendente do Itaú Social, Angela Dannemann, lembra também que há cerca de R$ 8 bilhões esperados em projetos de conectividade para o futuro próximo, como investimentos previstos no leilão do 5G e após o chamado “PL da Conectividade” aprovado no Congresso no ano passado — e cujo veto do presidente Jair Bolsonaro foi derrubado pelos parlamentares.  

Dannemann afirma que os recursos são uma oportunidade para melhorar o acesso dos alunos e das escolas à internet, mas que vieram tarde. "Não se aproveitou o tempo da pandemia para agilizar isso”, diz. 

Organizadores da pesquisa reforçam ainda que continua havendo uma preocupação com as redes “silenciosas”, que não responderam à pesquisa (são mais de 5 mil municípios no Brasil).

“O silêncio nos preocupa muito”, diz Garcia. Ele afirma que, no geral, essas podem também ser as localidades que mais precisam de apoio, mas cujas dificuldades ainda estão difíceis de computar. 

Após dois anos de pandemia e distanciamento dos alunos, os especialistas responsáveis pelo estudo apontam que há boas notícias e que as redes foram capazes de se adaptar para evitar o pior cenário.

Mas reforçam que, para 2022 e os anos em diante, será preciso um esforço coletivo de todas as instâncias de governo para recuperar o tempo perdido na pandemia, inclusive com priorização da pauta da educação nas eleições deste ano.

Dannemann, do Itaú, conclui que as medidas precisam levar em conta a realidade das escolas. “Educação é prioridade caso queiramos mitigar e recuperar toda essa perda que houve para nossas crianças e adolescentes”, diz. “Mas considerando que o sistema é complexo. A realidade é heterogênea, diferente em cada município”. 

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