Avenida Paulista, em São Paulo: por volta das 14h, manifestantes se reuniam em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) e agora circulam por entre 6 e 8 quarteirões (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 30 de maio de 2018 às 16h49.
As imagens e as notícias do Brasil nos últimos dias mostram um cenário caótico marcado pela falta de gasolina e pelas rodovias engarrafadas. Mas a atmosfera é muito diferente em uma grande parte da cidade de São Paulo -- pelo menos por enquanto.
Uma volta de carro ou um passeio matinal pelo principal distrito financeiro da cidade se tornaram francamente agradáveis. Os congestionamentos nos horários de pico desapareceram porque muitos trabalhadores permanecem em casa ou deixam os carros estacionados e usam bicicletas para ir ao trabalho.
Diversos caminhões de entrega faziam as rondas habituais pelo bairro de luxo do Itaim Bibi na terça-feira e algumas cafeterias e lojas contavam que ainda não tinham sido afetadas por nenhuma grande falta de produtos.
Mas por trás da relativa calma está a sensação de que o caos que atingiu outras partes do país poderia transbordar por aqui também a qualquer momento após a greve dos caminhoneiros.
“Claro que estou preocupado”, diz Lucas Ramos, dono do restaurante D’Guste, no Itaim. Apesar de ainda ter ingredientes estocados, ele disse que já não consegue encontrar mamão papaia. E na segunda-feira ele pagou meia caixa de tomates pelo preço de uma cheia. “Se isso durar muito mais...”, disse, balançando a cabeça.
Paulo Oliveira, um caminhoneiro que entregava mercadorias em restaurantes na manhã de terça-feira, diz que estava rodando com o fim do tanque e que não conseguiria fazer entregas a partir desta quarta se não conseguisse mais combustível. Ele abasteceu a frota de quatro veículos na quinta passada, mas desde então não conseguiu encontrar mais combustível.
Assim como Oliveira, muitos motoristas de São Paulo abasteceram quando se espalhou a informação, na semana passada, sobre o início da greve. Mas muitos postos de combustíveis permaneceram fechados por dias e quando uma entrega de combustível é realizada, a calmaria nas ruas de São Paulo é interrompida porque os motoristas correm para chegar a tempo. Moradores em grupos de bate-papo trocam dicas sobre possíveis entregas de combustível e compartilham fotos de filas de várias quadras de extensão em postos.
Mesmo quando um posto de gasolina tem combustível, nestes dias, muitas vezes há um senão. Em um posto da Royal Dutch Shell, na tarde da quarta-feira passada, cerca de cinco policiais faziam a guarda, orientando o trânsito e verificando documentos. Apenas juízes, médicos, policiais e procuradores da República estavam autorizados a comprar combustível, disse um policial.
A maioria das pessoas está só tentando chegar aos lugares. Quinta-feira é feriado no Brasil e muitos negócios permanecerão fechados na sexta. Oliveira diz que está rezando para que a situação se normalize na segunda-feira. “Espero que acabe logo”, diz, resignado. “O que mais eu posso fazer?”
Imagens e reportagens do Brasil durante a semana passada retratam uma cena caótica marcada por escassez de gás e estradas paralisadas. Mas a atmosfera é muito diferente em grandes áreas de São Paulo - pelo menos por enquanto.