Candidatos à Presidência: Jair Bolsonaro e Fernando Haddad não participaram (Miguel Schincariol/AFP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de setembro de 2018 às 21h15.
Última atualização em 9 de setembro de 2018 às 21h43.
São Paulo — O debate entre os candidatos à Presidência da República promovido por TV Gazeta, Estadão, Jovem Pan e Twitter foi marcado pela defesa da não violência. Ao iniciar suas falas, Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (MDB) enfatizaram a necessidade de se pacificar a sociedade, em referência ao atentado em que o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, foi atingido por uma facada, na última quinta-feira, em Juiz de Fora (MG).
No primeiro bloco, os candidatos escolheram os rivais para responder às suas perguntas. Quase todas as questões se referiram a propostas dos adversários, exceto no caso de Guilherme Boulos (PSOL), que partiu para o ataque a Meirelles.
"O compromisso da minha candidatura é enfrentar privilégios. O senhor vai enfrentar privilégios da sua turma?", perguntou Boulos após se encerrarem os 30 segundos reservados à sua questão. Meirelles disse que criou 10 milhões de empregos durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e citou programas do governo do petista. Disse que, durante o governo de Michel Temer, criou condições para o surgimento de 2 milhões de empregos e prometeu que criar mais 10 milhões se for eleito, insinuando que Boulos não trabalha e não paga imposto.
Meirelles foi o primeiro a perguntar, escolheu Alckmin para responder à sua questão: "Como vamos mudar esse radicalismo que tanto prejudica o Brasil?", perguntou, mencionando o incidente "lamentável" contra Bolsonaro. "É necessário um grande esforço conciliador. Sempre que há um esforço de união nacional, de pacificação, que é o que eu defendo, a democracia consolida-se."
Meirelles criticou seu adversário: "O senhor prega a pacificação, no entanto quando Bolsonaro ainda estava na sala de cirurgia, seu programa o atacava fortemente. Isso não é uma atitude de radicalização?". O tucano afirmou que e emedebista "não viu" seu programa. "Nunca pregamos a violência. Sou contra qualquer tipo de radicalismo."
Próximo a perguntar, Ciro escolheu Marina, questionando-a sobre como reverter a evasão escolar. "É um momento difícil. Faltam duas candidaturas", disse a postulante da Rede, referindo-se à ausência de Bolsonaro e de um candidato petista na bancada. "Violência política não nos levará a lugar nenhum", disse Marina, emendando que prega uma "educação de qualidade" e que o "desejo de aprender" tem de ser fomentado entre as crianças, "com foco na primeira infância, que ensina aprender a aprender".
Alckmin dirigiu sua pergunta a Alvaro Dias (Podemos): "Bolsonaro foi atendido na Santa Casa de Juiz de Fora, prontamente, muito bem atendido. Quais as propostas para as Santas Casas?" Dias respondeu que, em sua opinião, o que falta é boa gestão, não investimento, ao setor de saúde. "Alega-se falta de recursos, mas o que falta não é dinheiro. É boa gestão. O SUS é mal implementado", disse o candidato do Podemos. Alckmin prometeu "cobrar das seguradoras os serviços prestados", complementando orçamento das Santas Casas. Dias afirmou que a proposta do tucano parecia uma medida que caberia às prefeituras.
Dias perguntou a Boulos: "Os últimos governos beneficiaram os bancos e os banqueiros. O Brasil se tornou o paraíso dos bancos. Qual tratamento o senhor dará aos bancos?"
"Esse é um dos raros pontos em que concordo com Alvaro Dias. Banco aqui faz o que quer. Vamos acabar com a farra dos bancos", disse o candidato do PSOL, prometendo diminuir os juros "abusivos" da dívida pública e baixar os juros do cartão de crédito e do cheque especial.
A candidata da Rede exaltou aliados da sua candidatura que tiveram influente participação em iniciativas populares no País, como André Lara Resende, um dos criadores do Plano Real; Ricardo Paes de Barros, principal responsável pela formulação dos programas sociais dos governos petistas; e Eduardo Jorge, seu vice na chapa, que articulou recursos mínimos ao Sistema Único de Saúde (SUS). "Eu tenho a felicidade de ter pessoas muito eficientes para governar comigo", disse, e emendou: "Nós vamos dar um basta na ineficiência do Brasil".
A fala veio em resposta a uma pergunta sobre como melhorar os Correios, que questionava, entre outras coisas, a possibilidade de se privatizar a estatal ou abrir o mercado a outras empresas. Segundo Marina, "roubalheira e politicagem" foram responsáveis pela falta de eficiência dos Correios. "O que é público não é necessariamente ineficiente. No meu governo vamos escolher as pessoas com ética e capacidade técnica para blindar as instituições públicas", afirmou.
Com a ausência do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) no debate entre candidatos ao Planalto neste domingo, integrantes da campanha de Ciro Gomes (PDT) diziam, nos bastidores, que o confronto ficou "sem foco" nos dois primeiros blocos.
De acordo com um dos coordenadores da campanha do pedetista, os candidatos tiveram cuidado ao expor sua oposição a Bolsonaro e evitaram falar, por exemplo, que o candidato do PSL poderia ter sido vítima de um atentado mais grave se o porte de armas que defende estivesse liberado.
Para o entorno de Ciro, o principal prejudicado no quadro é Geraldo Alckmin (PSDB), que estava adotando um discurso de críticas a Bolsonaro na TV antes da agressão contra o candidato do PSL em Juiz de Fora (MG), na ultima quinta-feira.
Em uma pergunta sobre segurança pública, Meirelles disse que a gestão de Alckmin não resolveu o problema no Estado de São Paulo.
"O crime é simplesmente transferido. São Paulo está exportando o crime organizado. Não é dessa maneira que a gente vai resolver o problema de todo o Brasil", afirmou o emedebista.
Alckmin reagiu. "O candidato está sendo injusto com São Paulo", disse, reafirmando o compromisso de ter a segurança pública como prioridade em um eventual governo.
Marina Silva também questionou Ciro sobre o tema. O pedetista falou em um "Sistema Único de Segurança" para o combate ao crime, federalização do enfrentamento à violência. Marina praticamente repetiu a proposta de Ciro, falando do mesmo "sistema único" de combate ao crime e do absurdo de o crime organizado comandar bandidos de dentro da cadeia.