Jair Bolsonaro: adesão de frentes parlamentares marca apoio ao candidato (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 2 de outubro de 2018 às 18h21.
Brasília - Sem respaldo dos principais partidos, o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, tem conquistado uma espécie de potencial "base" no Congresso por meio do suporte de importantes frentes parlamentares, movimento esse que ficou evidenciado nesta terça-feira com o anúncio oficial de apoio da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) à sua campanha a cinco dias do primeiro turno.
Os coordenadores da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso, deputado Takayama (PSC-PR), e da Frente de Segurança Pública, deputado Alberto Fraga (DEM-DF), afirmaram à Reuters que a maioria dos integrantes dos dois grupos também apoia a candidatura de Bolsonaro, que lidera com folga as pesquisas de intenção de voto ao Palácio do Planalto.
Com forte atuação no Legislativo, as frentes da segurança pública, da agropecuária e dos evangélicos são conhecidas como a bancada BBB: bala, boi e Bíblia. As frentes são associações suprapartidárias compostas por pelo menos um terço dos integrantes do Legislativo Federal dispostos a defender o aprimoramento de um tema específico.
Contudo, é preciso ponderar que o apoio efetivo das frentes a Bolsonaro no Congresso vai depender do fato de os integrantes desses grupos serem reeleitos ou que novos participantes tenham a mesma posição.
Também não há qualquer obrigação de um deputado ou senador integrante a uma frente parlamentar seguir uma orientação de voto em uma determinada votação --no caso de partidos, por exemplo, uma eventual indisciplina pode motivar até a aplicação de penas a ele, como suspensão ou expulsão da legenda.
A cada legislatura, as frentes parlamentares têm de ser criadas.
Na manhã desta terça-feira, a coordenadora da frente da agropecuária, Tereza Cristina (DEM-MS), reuniu-se pessoalmente com Bolsonaro para ler uma nota de apoio formal à candidatura dele. A FPA, que apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), disse que a polarização entre Bolsonaro e o candidato do PT, Fernando Haddad, apontada pelas últimas pesquisas "causa grande preocupação com o futuro do Brasil", e que por isso decidiu se unir em torno do candidato do PSL.
"Certos de nosso compromisso com os próximos anos de uma governabilidade responsável e transparente, uniremos esforços para evitar que candidatos ligados a esquemas de corrupção e ao aprofundamento da crise econômica brasileira retornem ao comando do nosso país", afirmou a FPA em nota assinada por sua presidente.
Em entrevista à Reuters, Tereza Cristina elogiou a proposta feita por Bolsonaro de fundir os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. Ela disse que a iniciativa pode facilitar muito aos produtores e considera que vai criar um "ministério forte".
"No meu Estado, isso já acontece. Na Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Econômico, como se chama lá no meu Estado, o Meio Ambiente está junto", disse, ao considerar que é um experiência que tem dado certo. Ela disse que apresentou a ele uma pauta de assuntos de interesse ao setor e destacou a necessidade de segurança jurídica para os empreendedores do agronegócio.
Segundo uma fonte que acompanha as movimentações da FPA, a pesquisa Ibope divulgada na noite de segunda-feira reforçou a tese do voto útil e deu o empurrão que faltava para a frente oficializar sua posição. A formalização do apoio a Bolsonaro libera os integrantes do grupo, na opinião dessa fonte, a fazer campanha para o presidenciável do PSL, em vez dos candidatos a presidente que teriam de apoiar por conta de suas coligações.
A frente é composta por 261 deputados e senadores, mas, apesar da manifestação formal de apoio a Bolsonaro, nem todos deputados e senadores respaldam a candidatura dele.
O coordenador da chamada bancada da bala disse que a maioria dos 306 deputados que integram a frente apoia Bolsonaro --ele e seu filho, o também deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fazem parte do grupo. Por ora, destacou, não deve haver algum tipo de formalização de apoio ao presidenciável do PSL.
"O apoio da bancada da segurança pública já é praticamente definido, é um pensamento idêntico ao nosso", afirmou Alberto Fraga, que é candidato ao governo do Distrito Federal pelo DEM.
Para o deputado, mesmo se não contar com o apoio formal dos partidos no Congresso, o apoio das frentes a Bolsonaro poderá ajudá-lo na governabilidade.
"Não tenha dúvida, ele sabe que tem que conversar com os colegas, precisa e já conversamos várias vezes sobre isso", afirmou.
Fraga disse acreditar que o partido dele, o DEM, que sempre foi crítico a gestões petistas, quando estava na oposição, deve apoiar Bolsonaro --hoje o DEM faz parte da coligação que do presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin.
"Não tem nem dúvida do que pensar (em apoiar no segundo turno)", disse ele, para quem outras legendas, como PP e PR, podem seguir o mesmo caminho.
O coordenador da frente evangélica destacou que a maioria do grupo também vai endossar a candidatura do PSL. Para ele, esse apoio decorre principalmente pela tentativa da esquerda de impor valores ao país.
"Uma minoria ruidosa está jogando Bolsonaro nos braços de uma maioria silenciosa", disse o deputado Takayama, ao citar a atual situação de crise da Venezuela e se mostrar preocupado com os rumos que o Brasil está tomando.
"Ele (Bolsonaro) pode ter suas limitações, mas depois da Dilma e do Lula, qualquer pessoa tem condições de ser candidato", afirmou. "Se ele não é o adubo que o país precisa, pode ser o inseticida contra a corrupção que está dilacerando o país", completou.