O Brasil tem todas as condições de se destacar como portador de futuro, combinando competitividade, responsabilidade ambiental e inovação (FG Trade/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 24 de janeiro de 2025 às 14h43.
Última atualização em 24 de janeiro de 2025 às 15h02.
Por Flávio Roscoe*
Com o início do segundo mandato do presidente Donald Trump nos Estados Unidos, o Brasil enfrenta um cenário de desafios e oportunidades no comércio internacional. Para aproveitar as possibilidades que surgem nesse contexto, é fundamental que o país esteja atento às mudanças e preparado para agir estrategicamente.
Embora as declarações e ações do novo governo americano sugiram uma possível intensificação das medidas protecionistas, também há condições favoráveis ao reposicionamento da indústria brasileira e expansão de sua participação no mercado global.
A experiência do primeiro mandato de Trump mostrou que, apesar da adoção de tarifas mais rigorosas em relação a produtos brasileiros, como aço e alumínio, também ocorreram recuos significativos em algumas medidas. As sobretaxas aplicadas a produtos siderúrgicos brasileiros são um exemplo claro.
A pressão da indústria americana, que depende de insumos exportados pelo Brasil, levou o governo dos Estados Unidos a flexibilizar essas tarifas, especialmente porque muitos exportadores brasileiros pertencem ao mesmo grupo das empresas americanas que utilizam esses insumos.
Esse caso evidencia como negociações bem conduzidas podem assegurar a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional.
Atualmente, os Estados Unidos ocupam a posição de segundo maior parceiro comercial do Brasil, ficando atrás apenas da China. O país americano é destino de 11,97% das exportações brasileiras e origem de 15,46% das importações.
Além da relevância em termos de volume, a relação comercial entre os dois países destaca-se pela qualidade dos produtos brasileiros exportados, que incluem aeronaves, máquinas, equipamentos pesados e produtos semiacabados — itens essenciais para a indústria americana.
Além disso, a intensificação da rivalidade comercial entre Estados Unidos e China apresenta novas possibilidades para o Brasil. A escalada desse conflito pode criar oportunidades tanto no mercado americano quanto no chinês.
Quando as trocas comerciais entre as duas maiores economias do mundo são restringidas, surgem lacunas que podem ser preenchidas por outros países.
O Brasil, um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, está bem posicionado para aumentar sua presença na China e tem os Estados Unidos como principal concorrente nas exportações ao país asiático.
Ou seja, caso haja um recrudescimento da guerra comercial entre os países, o Brasil pode ampliar suas exportações agrícolas para os chineses.
Por outro lado, a demanda dos Estados Unidos por produtos semiacabados — tradicionalmente importados da China — também pode ser atendida pela indústria brasileira, que tem capacidade e qualidade para suprir essas necessidades.
E, para além das oportunidades que podem surgir na atual conjuntura, caso se confirme uma guerra comercial entre Estados Unidos e China, a negociação de um acordo bilateral com o governo americano deve ser uma das prioridades do Brasil.
Um pacto desse tipo poderia mitigar os impactos das tarifas protecionistas e fortalecer os laços comerciais entre os dois países. A redução de alíquotas e a criação de condições mais competitivas beneficiariam diversas cadeias produtivas brasileiras, incluindo setores como siderurgia, agronegócio e indústrias tecnológicas.
Produtos brasileiros, como o ferro-gusa produzido de forma sustentável — com madeira de reflorestamento e baixa emissão de carbono —, são diferenciais importantes no mercado global e ocupam posição importante na pauta exportada do país aos americanos.
Além disso, o petróleo e o café também mantêm posições de liderança entre as exportações para os Estados Unidos, enquanto as ferroligas continuam sendo insumos indispensáveis para a indústria eletroeletrônica americana.
Esses exemplos mostram que a base industrial brasileira é capaz de atender às demandas mais exigentes, posicionando o país como um fornecedor estratégico.
Adicionalmente, o Brasil começa a despontar com grande potencial na exploração de lítio no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, um recurso essencial para a produção de baterias, em um mercado atualmente dominado quase exclusivamente pela China.
A relevância do Brasil no comércio internacional também está ligada à sua capacidade de diversificar produtos e mercados. A indústria brasileira tem investido em inovação e tecnologia para agregar valor às suas exportações. Além disso, parcerias com outros países e blocos econômicos têm ampliado o alcance dos produtos brasileiros, tornando-os cada vez mais presentes em mercados de alto valor agregado.
O momento atual exige ações coordenadas entre governo, indústria e entidades do setor. Transformar desafios em oportunidades depende de investimentos em inovação, tecnologia e agregação de valor às cadeias produtivas, além do fortalecimento de parcerias internacionais.
O Brasil possui recursos e capacidade para se estabelecer como um importante parceiro comercial, não apenas para os Estados Unidos, mas também para outros players globais.
Outro aspecto que merece atenção é o compromisso do Brasil com a sustentabilidade. Em um mundo cada vez mais preocupado com questões ambientais, o país tem se destacado por práticas sustentáveis em diversas cadeias produtivas.
O ferro-gusa verde, produzido com baixa emissão de carbono, e o café certificado são apenas dois exemplos de como a indústria brasileira pode aliar qualidade e responsabilidade ambiental para se destacar no mercado global.
A posição geopolítica e a diversidade de produtos fazem do Brasil um protagonista em um cenário comercial cada vez mais dinâmico e complexo. Este é o momento de ampliar horizontes, reforçar parcerias e assumir um papel de liderança global, alicerçado no compromisso com a sustentabilidade e a eficiência.
O Brasil tem todas as condições de se destacar como portador de futuro, combinando competitividade, responsabilidade ambiental e inovação.
Este é um chamado à ação para que todos os envolvidos atuem de forma estratégica e conjunta, aproveitando as possibilidades que se apresentam, mesmo em tempos de incerteza. O futuro do Brasil no cenário global depende de escolhas assertivas, e o momento de agir é agora.
*Flávio Roscoe é presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais