Coronavírus no Rio de Janeiro: sobre a subnotificação dos casos, o secretário pontuou que, para cada caso confirmado, deve haver 50 subnotificados (Ricardo Moraes/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 31 de março de 2020 às 11h50.
Última atualização em 31 de março de 2020 às 12h18.
"Não nos contaram tudo sobre esse vírus". A afirmação foi feita pelo secretário estadual de Saúde do Rio, Edmar Santos, nesta terça-feira, ao comentar o alto número de casos de coronavírus em pessoas entre os 30 e 39 anos.
Em entrevista ao "Bom Dia Rio", ele destacou que a doença se comporta de maneira bastante agressiva nesses pacientes.
"Não nos contaram tudo sobre esse vírus. A segunda faixa que mais interna é a de 30 a 39 anos de idade. Tivemos óbitos nessa faixa", disse ele.
De acordo com Edmar, o que se vê no Rio — e também no restante do país — é um vírus muito agressivo, com o quadro de pacientes piorando muito rapidamente:
"Os pacientes, quando começam a chegar ao hospital com pouca falta de ar, rapidamente evoluem para gravidade, alguns morrendo no mesmo dia", descreve.
Sobre a subnotificação dos casos, o secretário pontuou que, para cada caso confirmado, deve haver 50 subnotificados. Esse total pode chegar a cem. Ele destacou que ainda é muito cedo para saber se a pandemia no Rio chegou ao ápice.
Segundo Edmar, as curvas de internações e de pacientes que precisam de UTI estão achatando, o que mostra que o isolamento social vem sendo eficaz:
"Por mais que possa haver subnotificações, essa curva hoje é mais precisa do que no início. Então, a população deve comemorar ficando em casa. É um sacrifício que está valendo a pena, está salvando vidas. Se relaxar agora, a curva pode disparar de novo".
Edmar adiantou que está sendo desenvolvido um aplicativo gratuito para ajudar o estado a mapear os casos de coronavírus por região.
"É uma estratégia de juntar os testes da secretaria com o app, com o georreferenciamento. Isso vai permitir que tenhamos uma noção clara de onde o vírus está circulando ou não", disse.
O secretário anunciou a formação de um grupo de notáveis para ampliar a base de especialistas da secretaria e, com isso, o comportamento do coronavírus ser conhecido de maneira mais detalhada.
Ainda de acordo com Edmar Santos, 400 mil kits de testagem chegam nesta quarta-feira ao Rio:
"Estamos testando mais agora do que no início. Por mais que possa haver subnotificação, os números são mais precisos na curva agora do que no início".
Desde o início do isolamento social, a média de ocupação nos hospitais caiu de 75% para 68%, segundo Edmar. Isso acontece por causa da redução de cirurgias eletivas e, também, porque, com menos pessoas circulando nas ruas, o número de acidentes diminuiu e, consequentemente, o de atendimentos de emergência.
"As pessoas estão sendo menos atropeladas, há menos acidentes de carro e menos gente caindo de bicicletas. As urgências e emergências estão menos sobrecarregadas com traumas", destacou ele.
Mesmo depois da restrição de circulação no estado, ainda é possível ver aglomerações no transporte público - trens e ônibus circulando lotados e pessoas em fila para embarque na Estação Arariboia das barcas, em Niterói.
Edmar diz que comentários "inadvertidos e perigosos" durante o último fim de semana possma ter levado mais gente às ruas.
"Peço que autoridades parem de falar sobre reabertura. Agora não vai reabrir nada".
Ele frisou que, apesar de ainda haver essas aglomerações, hoje dez vezes menos pessoas estão circulando no transporte público. E pediu ainda a colaboração de empresas para que façam um escalonamento nos horários de seus funcionários.
Antes de começar a falar sobre o uso da substância, Edmar Santos fez um alerta à população sobre automedicação:
"Se tomar por conta própria, vai morrer. É um remédio que tem efeitos colaterais e tem que ser apoiado por um médico".
Ele disse que há evidências que o uso da droga pode ser benéfico e que ele está sendo estudado por especialistas. De acordo com o secretário, um protocolo da secretaria prevê a assinatura do paciente ou de alguém responsável para que a cloroquina seja usada numa tentativa de salvar a vida.
A partir desta terça, unidades da rede privada poderão adotar o mesmo procedimento, seguindo o protocolo do órgão.
Pelos próximos 15 dias pesquisadores trabalharão dados junto à Secretaria de Saúde para produzir uma informação correta de qual cenário é seguro sair (do isolamento) sem que haja um retorno da epidemia.
"Pelas curvas, ainda avaliando de maneira preliminar, é que em duas semanas possamos encontrar curva da Coreia do Sul, o que é ótimo para nós. As próximas duas semanas são decisivas".