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Secretaria admite falha em perícia em quarto de foragido

Secretaria disse que o cancelamento da perícia no quarto de motel onde Paulo César de Barros Morato foi encontrado morto ocorreu por uma “falha de comunicação"


	Carro da Polícia Federal: peritos identificaram o cadáver, fizeram fotos, recolheram dois copos e uma garrafa de água para análise posterior, mas nenhuma impressão digital foi retirada
 (Sergio Moraes/ Reuters)

Carro da Polícia Federal: peritos identificaram o cadáver, fizeram fotos, recolheram dois copos e uma garrafa de água para análise posterior, mas nenhuma impressão digital foi retirada (Sergio Moraes/ Reuters)

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Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2016 às 22h17.

A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco disse que o cancelamento da perícia papiloscópica no quarto de motel onde o empresário Paulo César de Barros Morato foi encontrado morto ocorreu por uma “falha de comunicação no procedimento” da investigação.

Entidades representativas de peritos e policiais civis do estado questionaram ordem recebida por telefone pela equipe que faria o procedimento para suspender a perícia, que deveria ter sido feita na última quinta-feira (23).

A justificativa de secretaria estadual foi apresentada hoje (27) pelas autoridades envolvidas no atendimento da ocorrência e pelo comando da Polícia Civil e da Polícia Científica. 

O secretário executivo da secretaria, Alexandre Lucena, reconheceu e que “houve falha de comunicação”, mas disse que “não houve intenção de se acobertar qualquer tipo de fato”.

O argumento oficial para a suspensão da perícia papiloscópica é que o quarto onde o empresário foi encontrado já havia sido violado antes que os peritos chegassem ao local. Os primeiros procedimentos adotados pela polícia foram de suspeita de morte natural, feitos pelo plantão da Delegacia de Varadouro, bairro de Olinda.

Quando o empresário foi identificado como foragido da Operaçao Turbulência, o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa foi chamado.

Quando a delegada plantonista Gleide Ângelo chegou ao motel, o corpo de Morato já estava ensacado pelo Instituto Médico Legal (IML). Segundo a delegada, que policiais militares e funcionários do estabelecimento tiveram acesso ao quarto antes que a perícia chegasse, outro fator que prejudicaria o recolhimento de impressões digitais na cena do crime.

Os peritos, então, identificaram o cadáver, fizeram fotos, recolheram dois copos e uma garrafa de água para análise posterior, mas nenhuma impressão digital foi retirada no local. O perito Lauro Macena disse que recomendou em seu relatório técnico a necessidade de perícia continuada, já que o quarto era amplo e havia muito a ser analisado.

O pedido, no entanto, não foi comunicadpo por escrito à delegada ou à perita criminal do caso, que informaram ter liberado a cena do crime por entender que não havia mais o que fazer no local.

“O local totalmente violado, a perícia feita. Não havia necessidade, segundo minha ótica, de novas perícias porque o que a gente precisava já tinha, que eram os copos, a garrafa, onde o morto poderia ter pego. Mas se for olhar parede, chão, muitas pessoas entraram no quarto. Nem o corpo do morto havia, porque já estava dentro do saco. Local chamado inidôneo, conforme a perícia, e violado”, argumentou a delegada Gleide Ângelo.

Macena, no entanto, disse que fez um comunicado verbal à delegada sobre a ampliação da perícia. “Essa perícia tem que ser autorizada pela delegada. E aí realmente houve falha de comunicação porque ela já tinha encerrado os procedimentos no local. E ela realmente decide se quer a perícia ou não, e entendeu que não precisava.”

O relatório do perito, que pedia nova perícia e o isolamento da cena do crime, foi repassado para equipe de plantão da manhã de quinta-feira, que foi até o motel para o procedimento, mas tiveram a ação suspensa a pedido de seus superiores e nem entraram no quarto.

Histórico

Paulo César Morato era foragido da Operação Turbulência, da Polícia Federal, apontado como um testa de ferro de uma suposta rede criminosa de lavagem de dinheiro que teria movimentado mais de R$ 600 milhões desde 2010.

A suspeita é que a organização teria atuado no financiamento das campanhas eleitorais do ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República Eduardo Campos – inclusive na compra do avião em que foi morto em um acidente em 2014.

Morato se hospedou sozinho no motel localizado em Olinda, Região Metropolitana do Recife, por volta de 11h40 da terça-feira (21), dia em que a operação foi deflagrada. Seu corpo foi achado no dia seguinte, sem havia sinais visíveis de violência. A principal linha de investigação é morte natural ou suicídio, mas a possibilidade de homicídio só será descartada na conclusão do inquérito da Polícia Civil.

Investigação federal

O superintendente da Polícia Federal, Marcello Diniz Cordeiro, não comentou a justificativa de “falha de comunicação” sobre a perícia e disse que o trabalho da PF é investigar os casos de desvio de dinheiro de que tratam a Operação Turbulência, e não a morte do empresário.

“Estamos compartilhando informações desde que ficamos sabendo da situação. E independente do que ocorreu e do resultado da investigação, a Operação Turbulência vai continuar. Se foi morte natural, suicídio ou homicídio, confiamos na pessoa à frente da investigação. O que precisamos é do resultado.”

Os sete pen drives e três celulares encontrados com Morato no quarto do motel já foram entregues à PF. De acordo com o superintendente, não há previsão para que a perícia seja concluída. Já as perícias da morte de Morato devem ficar prontas ainda nesta semana, segundo a gerente da Polícia Científica, Sandra Santos.

Entidades representativas que cobravam esclarecimento sobre a suspensão da perícia papiloscópica acompanharam a entrevista coletiva, mas não ficaram satisfeitas com a explicação.

O presidente da Associação dos Peritos Papiloscopistas de Pernambuco (Appape), Carlos Eduardo Maia, voltou a apontar contradições na versão oficial e criticar a atuação dos delegados.

“Se realmente não havia necessidade de fazer a perícia quem tem que verificar isso é o perito, no local. Se verificou que o local era inidôneo não era nem para ter feito. Se mesmo assim solicitaram a perícia criminal e a perícia papiloscópica, e foi iniciada a perícia, quem vai solicitar a continuidade dos trabalhos é o perito. O delegado faz a garantia do isolamento do crime. Até porque se há alguma dúvida é melhor pecar pelo excesso, e não pela falta. Isso que deveria ter acontecido.”

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