Testes contra coronavírus: 80% dos casos seriam assintomáticos (Wolfgang Rattay/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 24 de março de 2020 às 18h07.
Última atualização em 24 de março de 2020 às 19h19.
O Ministério da Saúde informou nesta terça-feira, 24, que vai ampliar para 22,9 milhões o número de testes adquiridos e distribuídos durante a pandemia de coronavírus. No entanto, a pasta informou que a maior parte (15 milhões) ainda está em negociação com fabricantes. Os outros 7,9 milhões já têm um prazo para serem entregues, mas a data máxima ainda não foi informada.
"Estamos buscando toda disponibilidade de testes no mercado internacional", disse o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, acrescentando que as empresas estrangeiras não estão dando conta de suprir a demanda. "Por isso, estamos usando toda a capacidade instalada no território nacional. Negociando com a Embrapa e o Ministério da Agricultura o empréstimo de suas máquinas para conseguirmos enfrentar o pico da epidemia, que ainda não chegou."
De acordo com as estimativas, o Brasil vai realizar 14,9 milhões de testes do tipo RT-PCR, que analisam a estrutura molecular do vírus, são mais precisos, mas demoram mais para ser concluídos. Há ainda 8 milhões de testes sorológicos, que analisam os anticorpos no organismo da pessoa e são mais rápidos, embora também sejam menos precisos. Esses testes serão usados nos profissionais de saúde.
Desde a semana passada, o governo federal vinha sendo pressionado para ampliar a capacidade de testes para identificação de pessoas infectadas. A medida, segundo especialistas, auxilia no diagnóstico de pacientes assintomáticos e antecipa possíveis complicações médicas. Até agora, já são 2.201 casos no país, com 46 mortes. Em apenas quatro dias, dobrou o número de pessoas infectadas pelo vírus.
"Como a OMS orientou que nós devemos testar, assim estamos fazendo. Apesar de termos considerado que poderíamos estar trabalhando com uma estratégia um pouco menos intensa, mas orientação da OMS a gente segue", disse Oliveira.
Atualmente, o número de testes distribuídos é de cerca de 30.000. Essa é escala de referência que autoridades de saúde estão usando para os testes que devem ser realizados em apenas um dia. "Nas próximas semanas precisamos testar entre 30.000 e 50.000 pessoas por dia. Hoje temos uma capacidade para 6.700 testes por dia", afirmou Oliveira.
Para lidar com a subnotificação dos casos, a Anvisa, agência que aprova medicamentos e tratamentos no país, começou nos últimos dias a dar aval a novos tipos de teste para coronavírus.
Foram aprovados na semana passada os primeiros testes chamados “rápidos”, que usam um tipo de tecnologia diferente da usada atualmente. Muitos conseguem mostrar diagnóstico em 10 minutos e exigem menos profissionais para operar o processo.
A falta de testes vai ficando mais latente à medida que aumenta o número de casos confirmados, em que até mesmo laboratórios particulares e hospitais que atendem à classe alta começaram a restringir os testes apenas a pacientes com sintomas mais graves.
Estudo do Centro para Modelagem Matemática de Doenças Infecciosas da London School of Tropical Medicine estima que o Brasil pode ter cerca de 15.000 casos de coronavírus, mas o número não é confirmado porque nem todos foram testados e 80% dos casos seriam assintomáticos.
(Com Carolina Riveira)