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Odebrecht pagou dívida de campanha de Dilma, diz marqueteiro

O marqueteiro do PT afirmou que recebeu US$ 10 milhões da Odebrecht em 2011 e 2012 em conta secreta na Suíça

Dilma Rousseff: "Em 2011 há depósitos nesse período de um ano, depósitos feitos por offshore da Odebrecht relacionados, salvo engano, primeiro a um restante da campanha presidencial de Dilma de 2010", afirmou Santana (Andres Stapff/Reuters)

Dilma Rousseff: "Em 2011 há depósitos nesse período de um ano, depósitos feitos por offshore da Odebrecht relacionados, salvo engano, primeiro a um restante da campanha presidencial de Dilma de 2010", afirmou Santana (Andres Stapff/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 18 de abril de 2017 às 21h32.

Última atualização em 18 de abril de 2017 às 21h45.

São Paulo - O delator João Santana, marqueteiro das campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014), confessou nesta terça-feira, 18, ao juiz federal Sérgio Moro, dos processos da Operação Lava Jato, em Curitiba, que os valores de US$ 10 milhões recebidos por ele em 2011 e 2012 da Odebrecht, em conta secreta na Suíça, foram referentes à dívida da campanha presidencial de 2010.

"Em 2011 há depósitos nesse período de um ano, depósitos feitos por offshore da Odebrecht relacionados, salvo engano, primeiro a um restante da campanha presidencial de Dilma de 2010", afirmou Santana, ouvido como réu por Moro, depois dele fechar acordo de delação premiada com a Lava Jato.

O marqueteiro do PT afirmou que os valores recebidos por ele, parte na conta da offshores Shell Bill Finance, que ele mantinha na Suíça, e parte em dinheiro vivo no Brasil, pagos pelo setor de propinas da Odebrecht, também eram de outras campanhas.

"Também parte da campanha da Venezuela e um pouco de campanhas municipais que estavam se realizado em 2012 do prefeito Fernando Haddad (PT) e do candidato Patrus Ananias (PT), em Minas Gerais."

Prática

O marqueteiro, que chegou a ser preso em fevereiro de 2016 e solto em agosto, após iniciar negociação de delação, junto com a mulher e sócia Mônica Moura, disse que o caixa 2 é uma prática comum no mercado de marketing político.

"Houve recebimento de pagamentos não contabilizados?", quis saber Moro.

"Houve, constante, aliás como é uma prática no mercado de marketing político eleitoral, no Brasil e em boa parte do mundo."

"Houve pagamento não contabilizado proveniente do Grupo Odebrecht?", perguntou o magistrado.

"Sim, sim, bastante."

Santana e a mulher, Monica Moura, são réus nesse ação penal pelo recebimento de caixa 2 da Odebrecht, em nome do PT.

Os valores estão registrados sob o codinome "Feira", que identificaria Santana no Setor de Operação Estruturadas da Odebrecht. Os valores saíram da conta "Italiano", que era o codinome do ex-ministro Antonio Palocci, apontado pelos delatores da Odebrecht como interlocutor do PT e da Presidência com o grupo para acertos de caixa 2.

"Em 2011, a Odebrecht pagou uma parte da campanha que eles tinham combinado de pagar comigo, para mim, da campanha da presidente Dilma em 2010. Eles pagaram uma parte em dinheiro no Brasil durante a campanha e pagaram uma parte na Shelbill no ano seguinte. Logo em 2011, eles saldaram em vários depósitos num valor que ficou,que eles tinham acordado que iam pagar, eles pagaram esse valor na Shellbill."

Tesoureira

A mulher e sócia Mônica Moura era quem cuidava da contabilidade do casal de marqueteiros do PT.

Ela confirmou também a Moro que os valores eram de dívida da campanha de Dilma e detalhou como recebeu os valores.

"Eu sei que foi pago para a gente, em 2011, R$ 10 milhões, que foi US$ 4 milhões e poucos mil na nossa conta Shellbill, que era referente a esses R$ 10 milhões que a Odebrecht tinha se comprometido a pagar."

Mônica detalhou que além das transferências, houve repasses em dinheiro vivo.

"Eu sei que eles pagaram em 2010 uma parte em dinheiro, 5 ou 6 milhões, não me lembro bem, em dinheiro durante o período de campanha que eu precisava para as despesas e uma outra parte de R$ 10 milhões foi pago na Shellbill logo no ano seguinte, eles fizeram vários depósitos."

Moro quis saber por que pagar no ano seguinte à eleição.

"Acontecia frequentemente isso, dr. Sempre, sempre, quase sem exceção."

Segundo ela, era acertado com os executivos do setor de propinas da Odebrecht os recebimentos.

"A gente fazia uma programação de pagamento, de como seria. Eu fazia com alguém da Odebrecht, normalmente com Fernando Migliaccio ou com Hilberto. A gente fazia uma programação de pagamento em dinheiro ou nessa conta de x parcelas de tanto. Nem sempre dava certo, na maioria das vezes não dava certo. Ficava muita coisa para pagar depois."

"Quase todas as campanhas eu recebi no ano seguinte da Odebrecht o valor correspondente. Alguma coisa no mesmo ano e uma grande parte no ano seguinte."

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