Esgoto a céu aberto no Acre: falta de saneamento em alguns bairros mais afastados da centro, que jogam esgoto diretamente em riachos poluindo o leito do rio Acre (Marcello Casal Jr./ABr)
Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2012 às 20h10.
Brasília - Os prefeitos que forem eleitos em municípios do Acre como Rio Branco, Capixaba, Assis Brasil e Brasileia terão um desafio comum pela frente que é realizar ou concluir obras de saneamento básico. Na capital, por exemplo, bairros de comunidades mais carentes, como Taquari, têm pronta a instalação da rede de água, mas ainda está inoperante.
Esgoto nesse bairro de Rio Branco, cidade com 319.825 habitantes segundo o senso de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não existe. “Em todo o canto chega água tratada e, para nós, nada”, diz a moradora de Taquari, Maria das Dores de Santana, do lar, 67 anos.
Em Capixaba, município à margem da Estrada do Pacífico, distante 90 quilômetros de Rio Branco, a rede de esgoto também inexiste. O comerciante Alberto Nunes Cardoso, 54 anos, disse que as obras de construção começaram a ser instaladas agora.
Sem o esgoto, resta aos moradores construírem as chamadas “fossas negras”, buracos feitos na terra para depósito dos dejetos. O município, que tem 77.323 habitantes, possui rede de água instalada, no entanto, o comerciante disse que só quem a utiliza são pessoas que não tem poço artesanal em casa.
Marinelza do Nascimento Pereira, do lar, 31 anos e moradora de Assis Brasil, é outra que reclama da precariedade dos serviços de saneamento básico de sua cidade. A rede de água, segundo ela, só tem um cano de fornecimento para as residências do município de 6 mil habitantes. Marinelza destacou que uma empresa está na cidade para tentar resolver o problema.
“A água distribuída é suja e não sei como bebem”, disse a moradora de Assis Brasil. A reportagem constatou que vários moradores da cidade, como o comerciante Júnior de Melo Souza, 45 anos, recorre ao uso de pastilhas de hipoclorito para tratar a água recebida.
Em Brasileia, cidade de 21 mil habitantes, o problema da distribuição de água potável é consequência da enchente do Rio Acre, no início de 2012, a pior da história do município. O dono de farmácia, Licurgo Hassem, nascido em Brasileia há 57 anos, disse que com a cheia, a água do rio invadiu e estourou as tubulações da rede. Ele falou que as obras de restauração das adutoras já estão em execução.
A assessora técnica da Secretaria de Meio Ambiente do Acre (Sema), Vera Reis, reconheceu à Agência Brasil que tanto na capital quanto em municípios do estado, existem bairros sem qualquer obra de saneamento. Ela disse que os investimentos necessários para a instalação de redes de água e esgoto estão sendo feitos.
Outro problema para os prefeitos que serão eleitos no Acre é o ensino público. Em Capixaba, o comerciante Alberto Nunes disse que só existe uma escola de ensino fundamental. “Na escola só tem o ensino básico. Quem quiser continuar os estudos tem que ir para as escolas de Rio Branco”. No bairro de Taquari, na capital, o pedreiro Antônio Ferreira de Oliveira, 35 anos, disse que para arrumar uma vaga na escola “é um protocolo doido”. De acordo com ele, o bairro tem dois colégios com ensino fundamental e nível médio e outro destinado apenas ao fundamental.
Licurgo Hassem disse que Brasileia foi contemplada, em 2011, com o título de melhor ensino público do estado. “O problema é que [mesmo com a nota], os estudantes não atingiram a média mínima exigida”. Para ele, falta melhor qualificação e salários mais altos para os professores.
Em Assis Brasil, mesmo pessoas com pensamento mais crítico quanto à destinação dos recursos públicos mostraram orgulho ao falar do ensino público prestado. “As escolas até que são boas aqui. Não estuda quem não quer. Temos professores formados, competentes”, disse Marinelza do Nascimento. Recentemente 92 estudantes de Assis Brasil se formaram na Universidade Federal do Acre. “Isso para nós é um marco por causa do tamanho da cidade”, disse Júnior Melo.
Nenhum entrevistado reclamou da segurança pública em seus municípios. Moradores de bairros de periferia de Rio Branco disseram que a polícia passa com frequência nas ruas. Em Assis Brasil e Brasileia, cidades que fazem fronteira com o Peru e a Bolívia, a reportagem constatou nas ruas alta frequência do policiamento.
A prestação de serviços de saúde pública é outro tema controverso. Em Rio Branco, mesmo no Taquari, praticamente é consenso que “mesmo ruim”, os serviços de saúde têm melhorado, conforme relatou Maria das Dores de Santana, 67 anos. Já em Capixaba o comerciante Augusto Nunes não poupou reclamações quanto ao atendimento, transporte de doentes e ausência de médicos para atender a quem busca a saúde pública nos dois hospitais e um posto existentes na cidade.
Nos bairros carentes da periferia de Brasileia, como Samaúba e Leonardo Barbosa, a reclamação é quanto “às promessas” não cumpridas pelos candidatos em época de eleição, inclusive na área da saúde. “Não conheço obra nenhuma, o problema é que eles falam muito”, destacou Ivonaldo Gomes de Oliveira, nascido em Leonardo Barbosa.
Assis Brasil conta com apenas um hospital recém-inaugurado. O hospital é pequeno, mas tem uma estrutura de atendimento básica inclusive com uma ambulância do Samu. O clínico-geral Everton da Costa, disse que nesta época de seca na cidade são comuns quadros de diarreia e vômito causados por rotavírus. Já a leishmaniose é endêmica na região.
O motorista Humberto Melo de Mesquita Júnior trabalha com frete. Ele considera o hospital bom e, até o momento, não viu nenhum de seus fregueses de lotação reclamarem da qualidade do atendimento.