Destruição provocada pelo rompimento de barragens da Samarco em Mariana, MG (Ricardo Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2015 às 21h06.
Belo Horizonte - "A lama veio rolando como se fosse um tambor de 15 a 20 metros de altura", disse a agricultora Rosilene Gonçalves da Silva, em depoimento a deputados de Minas Gerais, nesta terça-feira, 17.
Ela era moradora do distrito de Bento Rodrigues e conta como conseguiu escapar da onda de lama que invadiu a região com o rompimento da barragem da Samarco no distrito. "Se vocês não acreditam em milagre, podem passar a acreditar", afirmou.
Rosilene foi uma das primeiras pessoas ouvidas em audiência, nesta terça, pela comissão extraordinária da Assembleia Legislativa criada para averiguar as causas da tragédia, ainda desconhecidas.
A agricultora afirma que era comum ouvir funcionários da empresa que moravam em Bento Rodrigues comentarem que a Samarco "estava sempre fazendo remendos na barragem".
Rosilene diz que a tragédia só não foi maior porque a população de Bento Rodrigues, sem auxílio da Samarco, tomou conhecimento da queda da barragem.
"Uma amiga minha ouviu porque na empresa em que trabalha tinha um rádio comunicador." O aparelho, conforme Rosilene, captou comunicação entre empregados da Samarco sobre a ruptura da represa.
"Entre todo mundo ficar sabendo que a lama estava chegando e o distrito ser atingido não se passaram mais do que 10 minutos. É ou não um milagre?", disse.
A agricultora afirmou ainda que seguiu para um morro próximo. Ela chegou a se separar da filha. Por um tempo, ficou sem saber o que tinha acontecido com ela.
"Só a encontrei no ginásio" - local para onde os moradores de Bento Rodrigues foram levados após a tragédia. A garota havia corrido para outro morro, também próximo do distrito. O marido não estava em Bento Rodrigues e também se salvou.
Além do momento da fuga, a agricultora fez um relato do relacionamento dos moradores com a Samarco.
"O lugar onde construíram as barragens era nosso local de lazer. Íamos para lá ver os bichos e as plantas. Chegaram, compraram a área, nos proibiram de frequentá-la e construíram as represas."
Escape
O promotor Felipe Faria de Oliveira, do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais do Ministério Público de Minas, que também depôs na comissão, afirmou que o plano de emergência da Samarco não previa treinamento da comunidade em caso de desastre.
"Isso já está sendo investigado", afirmou durante depoimento à comissão.