O salário de um trabalhador doméstico aumentou nos últimos anos, mas ainda há espaço para mais. "O pagamento no Brasil é muito inferior ao valor que ele tem para a sociedade", afirma diretora da OIT (VEJA SP)
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2013 às 12h39.
Brasília - A configuração do trabalho doméstico no Brasil indica que ainda há “muito terreno” para um aumento da valorização dos profissionais que atuam na área, sem que se corra o risco de tornar a atividade restrita às camadas mais ricas da sociedade, nos moldes do que ocorre nos Estados Unidos e em países europeus. A avaliação é da diretora da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Laís Abramo.
Para ela, o pagamento do trabalho doméstico no Brasil é muito inferior ao valor que ele tem para a sociedade. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), mostram que o salário médio dos trabalhadores domésticos no Brasil é R$ 507, incluindo os profissionais formalizados, que têm carteira assinada, e os que são informais. A média mais elevada foi encontrada no Sudeste (R$ 587) e a mais baixa, no Nordeste (R$ 336).
“Em média, as trabalhadoras domésticas no Brasil recebem menos de um salário mínimo, o que revela uma disparidade salarial muito grande. Acho que ainda se tem aqui muito terreno para que isso avance.
É preciso pensar o trabalho doméstico como muito importante, que é a ponta da cadeia de cuidado, e precisa ser valorizado”, disse à Agência Brasil, ao comentar os efeitos da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 478/10, em tramitação na Câmara dos Deputados, que amplia os direitos dos empregados domésticos, incluindo obrigatoriedade de recolhimento do FGTS.
Tatau Gomes, secretária nacional de Autonomia Econômica das Mulheres, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, também não acredita que esta seja uma tendência no Brasil, que, conforme aponta, tem um perfil diferente desses países. A entrada e a consolidação das mulheres brasileiras no mercado de trabalho são fatores importantes para que elas continuem precisando de ajuda profissional nos afazeres domésticos.
“No Brasil, as mulheres estão entrando mais rápido no mercado de trabalho, por exemplo, do que em alguns países europeus. Em todas as pesquisas, percebemos que elas querem trabalhar, ter renda própria e fazer outras coisas fora de casa, além do trabalho e, portanto, vão buscar alternativas que possam facilitar o compartilhamento [das atividades]”, avaliou.
A jornalista Vivianne da Costa conta que uma das principais diferenças que percebeu ao mudar-se para os Estados Unidos, há quatro anos, foi a estrutura de contratação de serviços domésticos e os valores pagos pelos americanos aos profissionais da área.
“Aqui, quase ninguém tem empregada doméstica fixa, o mais comum é pagar pela faxina. Só que quem trabalha com isso passa, em geral, três horas em uma casa, cobra até US$ 150, e não faz os mesmos serviços que no Brasil.
Elas tiram o pó, varrem a casa, mas o mais pesado não está incluído no trabalho delas”, disse a jornalista que teve que se habituar a atividades que antes não faziam parte de sua rotina, como passar roupa e lavar os banheiros da casa.
A psicóloga Rhode Oliveira também se assustou com os valores cobrados pelos serviços domésticos quando mudou-se, há quase três anos, para a França. Acostumada aos serviços fixos de uma empregada doméstica no Rio de Janeiro, onde morava, ela também assumiu os serviços da casa.
“Aqui é muito diferente. Além das pessoas que trabalham com faxina não fazerem uma limpeza mais completa, cobram muito pelo serviço. Uma moça que contratamos logo que chegamos aqui cobrava 19 euros por hora para fazer uma limpeza muito simples. Agora, eu mesma faço o que tem que fazer por aqui”.
Colaborou Carolina Sarres