Marina Silva, pré-candidata à presidência pela Rede, em 17/04/2018, em Brasília (Nacho Doce/Reuters)
Valéria Bretas
Publicado em 12 de maio de 2018 às 08h13.
Última atualização em 13 de maio de 2018 às 07h55.
São Paulo – A saída do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa da corrida eleitoral sacudiu, mais uma vez, a disputa pela presidência da República. Quem precisa rever a estratégia a partir de agora, segundo cientistas políticos ouvidos por EXAME, é o partido da ex-senadora Marina Silva, a Rede Sustentabilidade, que poderia ser beneficiário de uma eventual aliança com o ex-ministro.
Na teoria, se confirmar sua terceira candidatura ao Planalto, Marina pode absorver o grupo de pessoas que enxergavam em Barbosa uma alternativa entre a polarização entre a esquerda e direita. Mas terá que encontrar um meio para driblar a falta de estrutura de seu partido — que de grande promessa para a política brasileira, hoje, amarga um cenário de baixa representação.
Segundo a última pesquisa Datafolha, sem Lula na disputa, Marina e o deputado Jair Bolsonaro (PSL) ficam tecnicamente empatados e dividem a liderança — ele com 17% das intenções de voto, e ela entre 15% e 16%.
“Ainda que a ex-senadora tenha participado de outras eleições, ela carrega uma imagem de não pertencer ao mundo da política tradicional”, avalia Rafael Cortez, da Tendências consultoria.
Por outro lado, descartada a possibilidade de uma aliança Rede-PSB, a campanha de Marina terá que lidar com um desafio: o tempo diminuto na TV e o baixo orçamento.
Com apenas dois deputados na Câmara e um senador, o partido terá apenas cerca de 11 segundos de propaganda eleitoral em cada bloco de doze minutos e meio. Se se unisse ao PSB, por exemplo, a exposição teria um salto de pelo 45 segundos, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
A Rede esbarra ainda em mais um problema. Na janela partidária, o partido perdeu dois deputados de peso, Alessandro Molon (RJ) e Aliel Machado (PR), e também não conseguiu atrair novos nomes. Resultado: a sigla ficou sem a quantidade mínima de cinco parlamentares no Congresso para poder participar dos debates na televisão, rádio e internet.
“O projeto Rede nasceu como uma promessa de uma liderança alternativa importante com uma agenda nova, mas que falhou ao não conseguir montar uma base de apoio”, diz Ricardo Sennes, sócio da consultoria Prospectiva.
O desafio de consolidar uma legenda nova em meio a um cenário de forte polarização política durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e a mudança no discurso de Marina (que chegou a defender a permanência da petista no cargo, mas mudou de opinião no meio do caminho) contribuiu para o desgaste da sigla.
A eleição municipal de 2016 provou o fracasso. A Rede conseguiu eleger apenas 4 dos 154 postulantes lançados para prefeito. No Legislativo, também houve derrota: dos 3.449 candidatos a vereador, somente 179 se elegeram.
Passadas as eleições, sete integrantes se desfiliaram da sigla. Em uma carta aberta, os dissidentes criticaram o “vazio de posicionamento” da Rede e a postura de Marina Silva em relação ao impeachment. “Por conta da reduzida definição política, a Rede tem se construído como uma legião de pessoas de boa vontade e nenhum rumo”, diz um trecho do documento.
Na avaliação do analista político Ibsen Costa Manso, da ICM consultoria, Marina criou uma imagem de pessoa indecisa e despreparada. “Ela não criou nenhum fato político nos últimos anos e se isolou completamente", diz. “O único cacife que ela tem para oferecer hoje é o do seu próprio nome”.
Na opinião dos analistas, portanto, a melhor aposta para o partido no pleito de 2018 é abrir mão da disputa pela presidência e costurar um acordo competitivo como vice. Por ora, Marina não admite essa possibilidade.
É importante recordar que depois de ficar na terceira colocação nas eleições presidenciais de 2010, Marina Silva desfilou-se do Partido Verde (PV) para consolidar seu novo projeto político: a Rede Sustentabilidade. Com foco nas eleições de 2014, o partido correu para comprovar a autenticidade das assinaturas necessárias para sua criação oficial, mas só conseguiu o registro no TSE em 2015.
A saída foi se filiar ao PSB e entrar na corrida eleitoral como vice do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. A morte inesperada do pessebista colocou Marina na disputa presidencial.
Apesar dos 22,1 milhões de votos que recebeu naquele ano, a popularidade de Marina ficou estagnada e o projeto político da Rede não decolou. A eleição de 2018 poderia ser a chance do partido reconquistar espaço no cenário político -- mas pode ter perdido o bonde.