Flávio Rocha: almirante amigo de Bolsonaro deve assumir a Secretaria-Geral da Presidência (Tamna Waqued/FIESP/Divulgação)
Agência O Globo
Publicado em 8 de outubro de 2020 às 16h30.
Última atualização em 8 de outubro de 2020 às 16h48.
Favorito à cadeira de ministro da Secretaria-Geral da Presidência com a ida de Jorge Oliveira para o Tribunal de Contas da União (TCU), o secretário de Assuntos Estratégicos do Palácio do Planalto, almirante Flávio Rocha, de 58 anos, se transformou em pouco tempo em um dos principais conselheiros do presidente Jair Bolsonaro.
Discreto, amigável e muito inteligente, Rochinha, como é conhecido pelos mais próximos, conquistou a confiança de Bolsonaro ao trabalhar para diminuir os pontos de tensão existentes em torno do presidente no Palácio do Planalto.
Sempre ao lado de Bolsonaro nas agendas diárias — ele aparece em praticamente todas as fotografias de agendas públicas do gabinete presidencial —, o almirante é apontado como peça fundamental na construção do “armistício patriótico” iniciado no governo logo após as operações que atingiram familiares do presidente e deputados bolsonaristas, em meados de junho deste ano.
Nos bastidores, o bem relacionado Rocha já atuou para distensionar antigas crises. Se aproveitou do acesso que tem com alguns parlamentares — Rocha já foi chefe da assessoria parlamentar da Marinha na Câmara, onde conheceu Bolsonaro — e também com ministros do Supremo para dialogar em prol de uma união entre os Poderes.
Partiu dele a ideia, por exemplo, de convidar o ex-presidente Michel Temer para chefiar, em agosto, a
missão oficial brasileira que ofereceu ajuda aos libaneses após a grande explosão no Porto de Beirute, no Líbano, deixando cerca de 170 mortos e 4.000 feridos.
Aliás, a sugestão inicial, segundo fontes, surgiu em um jantar em que Rocha participara em São Paulo, na casa do suplente de senador Luiz Osvaldo Pastore (MDB-ES). Rocha atuou em tudo: ligou para Temer, oficializou o convite, organizou a viagem e ainda acompanhou o ex-presidente na missão.
Almirante dono do melhor caderno na época escolar — todos pediam emprestado para copiar as lições devido ao capricho na grafia —, Flávio fala seis idiomas e é tido pelos seus amigos como alguém com uma inteligência fora do normal. A aliados, ele justifica ter aprendido tantos idiomas pela perseverança da mãe, que queria que ele fosse diplomata.
O cearense de Fortaleza preferiu seguir a carreira militar. Foi declarado Guarda-Marinha em 13 de dezembro de 1984, ainda jovem e não pretende sair tão cedo, nem caso vire ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Apesar de o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, ter decidido seguir para a reserva, atualmente não há pressão no Planalto para que o almirante também deixe a Marinha caso assuma o posto.
No mês passado, o almirante deu mais uma mostra da boa relação que mantém entre os Poderes. Logo após a cerimônia da Independência, no 7 de setembro, abriu sua casa para um almoço de despedida de Dias Toffoli da presidência do Supremo Tribunal Federal junto de Bolsonaro e mais sete ministros: Paulo Guedes (Economia), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), Augusto Heleno (GSI), Bento Albuquerque (Minas e Energia), Tereza Cristina (Agricultura), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), Fabio Faria (Comunicações), além do secretário de Cultura, Mário Frias, e do deputado Helio Lopes (PSL-RJ).
A boa relação com a cúpula do poder conta a favor do secretário especial para Assuntos Estratégicos para a vaga de Jorge Oliveira. A aposta no governo, porém, é de que o presidente não deve anunciar o nome do escolhido antes da sabatina de Oliveira no Senado. Se aprovado, Oliveira ainda pode permanecer no ministério até 31 de dezembro, quando o ministro José Múcio se aposentará do Tribunal de Contas da União.
Até lá, outros nomes também correm por fora para ocupar a cadeira de ministro da Secretaria-Geral. Um dos citados por aliados do presidente é do assessor especial Célio Faria Júnior, que também é tido como de extrema confiança de Bolsonaro. A pessoas próximas, porém, Célio já negou interesse em assumir ministérios ou até mesmo a Subchefia para Assuntos Jurídicos (SAJ).
No Palácio do Planalto, a expectativa é que a saída de Jorge Oliveira, que atualmente acumula as cadeiras de ministro de SAJ, mude a configuração da pasta. A previsão é que a área jurídica saia do guarda-chuva da Secretaria-Geral e passe a responder diretamente à Presidência, mas isso ainda vai depender da definição de quem assumirá cada posto.