Trabalhador da Sabesp mostra os indicadores de nível de água na represa seca de Jaguary: o plano de investimento da Sabesp para 2014 soma R$ 2,623 bilhões (Nacho Doce/Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2014 às 13h56.
São Paulo - Ao contrário do informado durante o anúncio do projeto de interligação da bacia do rio Paraíba com o Sistema Cantareira, os investimentos exigidos pela obra não serão financiados integralmente pelo governo paulista.
Ainda que parcial ou totalmente, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) será obrigada a participar financeiramente do projeto, inicialmente orçado em R$ 500 milhões. O investimento emergencial, avaliam analistas, é mais um fator de pressão sobre o resultado da concessionária em 2014.
Procurada pelo Broadcast, serviço de informações da Agência Estado, a Sabesp confirmou que o investimento ficará sob sua responsabilidade, mas não informou se o montante contará com alguma participação do governo estadual, seu acionista majoritário. Ainda segundo a assessoria de imprensa, a companhia estuda fontes de recursos para a obra.
Uma fonte do governo paulista afirmou que a estruturação do financiamento do projeto está sendo avaliada, mas declarou que "possivelmente" a concessionária assumirá os gastos da construção do canal para a interligação.
O plano de investimento da Sabesp para 2014, que não engloba as medidas emergenciais adotas para enfrentar a atual crise hídrica, soma R$ 2,623 bilhões.
Segundo dados da Secretaria de Planejamento, desse total, R$ 1,414 bilhão é capital próprio da companhia, enquanto o restante, aproximadamente R$ 1,208 bilhão, seria obtido por meio de operações de crédito.
Especificamente para os serviços de abastecimento de água, a Sabesp esperava investir R$ 980 milhões. Somadas, apenas as duas obras emergenciais anunciadas (a de transposição e a de exploração do chamado volume morto do sistema Cantareira) totalizam R$ 580 milhões, quase 60% do capex inicialmente previsto.
Há uma semana, o diretor de Finanças e de Relações com Investidores da concessionária, Rui de Britto Affonso, informou que, devido aos gastos inesperados no início deste ano, a Sabesp deverá cortar despesas e rever alguns pontos do seu plano de investimentos. "Vamos tomar todas as providências para garantir que a solidez financeira da Sabesp não seja abalada", afirmou o executivo.
Na avaliação de analistas de mercado consultados pelo Broadcast, o projeto de transposição soma-se ao conjunto de fatores que devem pressionar o resultado da concessionária em 2014, especialmente no primeiro trimestre.
Além das obras emergenciais, o resultado da concessionária deve sofrer o impacto dos descontos de 30% aplicados nas tarifas dos consumidores que reduzirem o gasto mensal em 20%. A medida, que visa incentivar a economia de água, é válida até o final do ano.
Para os profissionais, tais medidas, em conjunto com uma expectativa de redução de quase 12% no volume faturado pela Sabesp, deve reduzir o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).
Lilyanna Yang e Carlos Herrera, do UBS, calcularam em relatório que a queda na geração de caixa medida pelo Ebitda pode fazer a alavancagem da concessionária chegar a 5 vezes. Hoje, o endividamento da Sabesp medido pela relação entre dívida líquida e Ebitda está em quase 2 vezes.
No entanto, um analista que preferiu não ser identificado ponderou que o aporte de R$ 500 milhões "não seria o fim do mundo" para a companhia. Segundo ele, após concluída, a obra ampliaria a base de ativos considerada pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp), o que posteriormente resultará num reajuste tarifário.
Projeto
O projeto de transposição prevê a construção de um canal de 15 quilômetros para transposição das represas de Jaguari, na bacia do Paraíba, com os reservatórios do Atibainha, do Sistema Cantareira.
A proposta apresentada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) na última quarta-feira, 19, pretende transpor água para o Cantareira toda vez que o nível das reservas atingir 35% da capacidade. "O inverso também vale", afirmou Alckmin.
O projeto precisa passar pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para avaliação. Isso porque a transposição, segundo estudos iniciais do governo de São Paulo, poderia reduzir a produção elétrica de Furnas em 2%.
Também será necessária a obtenção de licitação, outorga do Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE) e licenças ambientais. Colaborou Carla Araújo.