Sistema Cantareira: o maior dos projetos de infraestrutura que a Sabesp necessita neste ano para garantir o fornecimento de água potável está atrasado (Divulgação/Sabesp)
Da Redação
Publicado em 16 de junho de 2015 às 19h28.
A crise da água em São Paulo ainda não acabou.
Depois que a seca do ano passado deixou São Paulo à beira de um racionamento severo de água, as chuvas do final do verão deram à Sabesp -- a grande culpada pela crise, segundo autoridades municipais -- uma segunda chance para aumentar investimentos em infraestrutura.
Com o início da estação seca, há uma corrida contra o tempo para desviar rios e conectar sistemas antes que os já prejudicados reservatórios de água fiquem baixos novamente.
A corrida contra o tempo ressalta a situação precária da maior metrópole da América do Sul após duas décadas sem nenhum grande projeto hídrico.
Os reservatórios ainda não se recuperaram da seca do ano passado e os meteorologistas estão prevendo meses mais quentes à frente por causa do fenômeno climático El Niño.
“A infraestrutura não foi A prioridade da Sabesp nos últimos anos -- eles não adotaram medidas para evitar a crise --”, disse Pedro Caetano Mancuso, diretor do Centro de Referência em Segurança da Água da Universidade de São Paulo.
“Embora a Sabesp esteja disposta a fazer a lição de casa agora, a questão é se ela será concluída ou não a tempo de evitar um problema ainda maior”.
A Sabesp -- empresa sob controle estatal --,disse que foi a severidade da seca do ano passado, e não a falta de investimentos em infraestrutura, a causa da crise.
“Nós estávamos preparados para uma seca tão ruim ou pior que a de 1953”, quando a Sabesp enfrentou uma crise similar, disse o presidente Jerson Kelman a vereadores, em uma audiência no dia 13 de maio.
“O que aconteceu em 2014 foi que tivemos metade do volume de chuva daquele ano. Para isso, nós não estávamos preparados”.
‘Previsível’
Em um relatório, em 10 de junho, a Câmara de Vereadores de São Paulo culpou a Sabesp pela crise que cortou o abastecimento em alguns bairros, dizendo que a seca já era previsível.
“Se a Sabesp tivesse investido os dividendos distribuídos na Bolsa de Nova York em obras para modernizar os sistemas que abastecem a capital e na manutenção da rede, não estaríamos enfrentando o racionamento travestido de redução de pressão," disse Laércio Benko, vereador que liderou a comissão criada para investigar a escassez no abastecimento de água em São Paulo.
O maior dos projetos de infraestrutura que a Sabesp necessita neste ano para garantir o fornecimento de água potável está atrasado.
O projeto para conectar o Rio Pequeno ao reservatório da Billings, originalmente programado para ser concluído em maio, não será terminado até agosto devido a atrasos nas licenças ambientais e de uso da terra, disse a assessoria de imprensa da Sabesp em uma resposta a perguntas por e-mail. Se concluído neste ano, o pacote de cinco obras de emergência em que a Sabesp está investindo seria suficiente para evitar o racionamento, segundo a empresa.
Reservatório principal
Sem os projetos, e se as chuvas ficarem no nível do ano passado ou abaixo dele, a Sabesp projeta que seu reservatório principal -- conhecido como Cantareira -- poderá secar até agosto, segundo projeções internas obtidas pela Bloomberg News.
No pior cenário previsto pela empresa, poderá haver cortes no abastecimento de água na maior parte da área metropolitana de São Paulo cinco dias por semana, segundo o documento, que foi preparado como parte de um plano de contingência para São Paulo.
A Sabesp disse no e-mail que as chuvas, até agora, têm sido positivas. vAo acelerar os investimentos de emergência agora, a Sabesp está cortando em outras partes e aumentando os preços da água.
A empresa reduzirá os gastos com coleta e tratamento de esgoto pela metade neste ano, disseram
executivos em uma teleconferência com investidores em abril. O aumento de tarifa reflete o “estresse financeiro” da Sabesp, disse o diretor financeiro Rui Affonso na conferência.
Queda das ações
As ações da Sabesp caíram 4,8 por cento na segunda-feira, pior desempenho das negociações em São Paulo, depois que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) afirmou ter entrado com uma liminar para impedir o aumento de tarifa.
“A seca do ano passado será totalmente sentida nos resultados deste ano”, disse Alexandre Montes, analista de ações da Lopes Filho Associados Consultores de Investimentos, em entrevista por telefone, do Rio. “Mesmo se a seca diminuir agora, e mesmo se tudo sair bem, os resultados da Sabesp vão cair”.