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Da Redação
Publicado em 3 de setembro de 2010 às 15h41.
São Paulo - Os dados recém-divulgados sobre o PIB brasileiro no segundo trimestre do ano reforçam a tese de um aquecimento além do prudente para o estágio atual do país - e desafiam a idéia de que a economia já caminha para uma acomodação.
O crescimento ultrapassou 8% em termos anualizados, exatamente no período em que muitos esperavam um número mais fraco, após um fortíssimo primeiro trimestre. Como todos vinham trabalhando com a ideia de que a segunda metade do ano será ainda mais forte que o segundo trimestre, evidencia-se assim um problema: estamos claramente rodando acima do limite máximo de velocidade permitido dadas as nossas condições objetivas - de infra-estrutura, de mão-de-obra, de ambiente de negócios, de legislação.
É uma situação no mínimo desagradável para o Banco Central. Nos últimos tempos, desde que o presidente da instituição, Henrique Meirelles, flertou com a entrada no mundo da política, não são poucos os rumores sobre uma perda de foco do BC.
"Acertar" a mão, agora, seria especialmente importante para dirimir eventuais dúvidas dos agentes. Bancos centrais, claro, estão sujeitos a erros de análise - são conduzidos por pessoas que, como cada um de nós, equivocam-se de quando em quando. O timing, porém, não é dos melhores. Vivemos um período em que, para a manutenção do enorme estoque de credibilidade acumulado nos últimos anos, seria vital sufocar suspeitas quanto a uma ingerência de outros interesses que não os puramente econômicos. Agora, será preciso esperar até a divulgação dos dados do terceiro trimestre para aferir se, afinal, o BC está ou não com a razão.
De objetivo, permanece a sensação de que o ritmo econômico está forte demais. Já aprendemos que política monetária não produz crescimento de verdade, apenas bolhas de curto prazo. Aprendemos também que ciclos de expansão normalmente são respostas aos avanços reais da economia. Foi assim após o Plano Real, quando conseguimos sair do caos e sustentar um primeiro período de crescimento. Foi assim após reformas microeconômicas no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lamentavelmente, o ímpeto reformista desapareceu e agora nos vemos às voltas com um claro limite à nossa expansão.
No curto prazo, se para o BC a notícia do PIB não foi das melhores, para a ex-ministra Dilma Rousseff trata-se de mais vento soprando a favor de sua candidatura. Discussões sobre a reputação da autoridade monetária ou a sustentabilidade do crescimento podem interessar a economistas e jornalistas, mas pouco dizem ao cidadão comum. Ele se interessa mesmo por seu bem-estar em cada momento. É dura a vida da oposição num país que cresce quase 9% exatamente às portas da eleição presidencial.