Café: desde o início do ano, foram 25 crimes envolvendo café na região, com a subtração de 3.400 sacas de 60 kg (Thinkstock/Ingram Publishing)
Da Redação
Publicado em 19 de agosto de 2016 às 18h40.
São Paulo - Os violentos e crescentes casos de roubos de café no Sul de Minas Gerais são resultado da ação de diversas quadrilhas, que podem estar migrando de outros ramos criminosos em busca de lucro fácil com a venda do grãos, cujos preços têm batido recorde, segundo levantamento da Polícia Civil mineira ao qual a Reuters teve acesso.
"Não é um grupo só fazendo tudo. São fatos independentes nas várias cidades", disse o delegado Braulio Stivanin Jr., chefe do Departamento de Poços de Caldas, que abrange 55 municípios no Sul e no Sudoeste de Minas.
O departamento passou a centralizar os registros de roubos e furtos de café este ano, devido a um aumento na violência das ações criminosas.
Desde o início do ano, foram 25 crimes envolvendo café na região, com a subtração de 3.400 sacas de 60 kg.
Pelo preço médio de 500 reais por saca, esses furtos e roubos provocaram prejuízo de mais de 1,7 milhão de reais aos cafeicultores.
Levantamento semelhante não era feito em anos anteriores, uma vez que os casos eram menos violentos e sempre investigados separadamente pelas delegacias em cada cidade.
Ainda assim, está claro que houve um forte aumento no número de crimes em 2016, segundo a polícia.
É possível que quadrilhas que até recentemente atuavam em outros tipos de delitos tenham migrado para o roubo de café, devido à fragilidade da segurança das fazendas e das possibilidades de boa rentabilidade, salientou o delegado.
A safra de café arábica em Minas Gerais está próxima do fim e por isso a presença de grandes volumes nas fazendas é comum.
Em geral os grãos recebem um primeiro beneficiamento nas propriedades e ficam armazenados em galpões até que sejam levados de caminhão para armazéns centrais de cooperativas e compradores.
"Baixo astral"
Segundo os agricultores, muito mais do que o prejuízo material, o grande problema é o medo que se espalha entre proprietários de fazendas e seus empregados.
"Uma quadrilha fortemente armada chegou e rendeu os meus funcionários. Prenderam alguns numa casa e obrigaram outros a carregar as sacas de café no caminhão", contou o dono de uma propriedade atacada na segunda-feira. Foram levadas 220 sacas de café.
Ele pediu anonimato porque teme que os casos de violência tornem ainda mais difícil manter e contratar trabalhadores. "Dá um baixo astral geral."
Na quinta-feira o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, esteve na região e, em encontro com produtores, tomou conhecimento de diversos casos, prometendo tomar providências.
"Vou acionar a Polícia Federal para que faça grande levantamento, investigação, para que acabe com essas quadrilhas", disse Maggi, em visita à Cooxupé, maior cooperativa de cafeicultores do Brasil, em Guaxupé (MG).
Na opinião do presidente de uma cooperativa de Minas, que pediu anonimato com medo de represálias, a impressão é de que os membros das quadrilhas conhecem bem os produtores, as fazendas e os detalhes das operações.
"É gente que conhece a gente, que conhece todo mundo", afirmou. "Tinha um produtor que tinha caminhão rastreado e a quadrilha foi lá e retirou o aparelho (que ficava escondido)."
Segundo produtores, um dos motivos do aumento de roubos é o valor do café, que tocou em julho o maior valor nominal da história.
As cotações do arábica de melhor qualidade medidas pelo Cepea passaram de 500 reais a saca em julho, muito perto de máximas históricas. A valorização ocorreu principalmente pela combinação de câmbio favorável e bons preços na bolsa de Nova York.
Na visão da Polícia Civil, a venda do café roubado é uma operação relativamente fácil, já que o produto ilegal pode facilmente ser misturado a um carregamento legítimo.
Em um cenário de retração das vendas dos produtores, que aguardam preços ainda melhores, não é difícil também encontrar compradores para as cargas roubadas.
"O que a gente sabe é que é muito fácil vender esse produto. O café depois que é subtraído você não consegue mais identificar a origem", disse o delegado.
Segundo ele, já houve prisões de alguns ladrões e receptadores nas últimas semanas, mas ainda será necessário muito trabalho das polícias para prevenir os ataques e encontrar todos os criminosos.