Roseana Sarney: numa reunião há duas semanas, Roseana afirmou que não tinha intenção de disputar o Senado (Divulgação/Governo do Maranhão)
Da Redação
Publicado em 10 de janeiro de 2014 às 06h55.
Brasília - Em meio a uma crise na segurança pública de repercussão internacional, a governadora Roseana Sarney (PMDB-MA) vai renunciar ao mandato em abril para disputar uma vaga no Senado e garantir a permanência da família no poder, o que obrigará o Estado a fazer uma nova eleição para escolha do sucessor dela até janeiro de 2015.
A solução e as explicações para a barbárie nos presídios ficarão para um governador "tampão", que será eleito pela Assembleia Legislativa, em votação indireta.
A renúncia de Roseana forçará uma nova eleição porque o vice-governador, Washington Oliveira, foi nomeado conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) numa manobra para tirar o então petista do comando do Palácio dos Leões.
A Constituição determina que, neste caso, quando não há o vice, deve haver eleição indireta para o mandato "tampão" - cenário que já ocorreu no Distrito Federal e no Tocantins, por exemplo.
Numa reunião há duas semanas, na Ilha de Curupu, onde a família Sarney tem casa, Roseana afirmou que não tinha intenção de disputar o Senado e que sua vontade seria se mudar para os Estados Unidos.
Foi convencida do contrário pelo pai, o senador José Sarney (PMDB-AP). Um dos presentes contou ao Estado que Sarney alertou a filha de que ela era a única que poderia manter o poder político da família (o senador tem 83 anos) e, como congressista, manteria a imunidade parlamentar.
Sarney, segundo relatos, comparou a situação à do ex-presidente Bill Clinton.
"Você é a continuidade. Vai sair da política e viver pagando advogados? Depois que a gente senta em certas cadeiras, fica vulnerável a processos. Clinton, quando saiu da presidência, enfrentou vários processos", disse o senador, segundo interlocutores.
Os irmãos Fernando (empresário) e Zeca Sarney (deputado pelo PV-MA) concordaram com o pai.
Ao renunciar ao governo, Roseana deixaria de ser alvo em questões como a crise nos presídios, mudando o foco para a candidatura. Após o apelo do pai, ela cedeu. A família, contudo, tem pela frente mais um complicador: a escolha do candidato "tampão".
Gostaria de indicar um secretário estadual para a disputa, mas o presidente da Assembleia, Arnaldo Melo (PMDB), com votos na situação e na oposição, impôs seu nome.
Emparedada no Legislativo e desgastada pela selvageria nos presídios, a governadora pode acabar cedendo ao peemedebista, evitando que o nome de sua preferência perca a eleição indireta e ela, sua influência no comando do Estado.
Principal adversário da família Sarney, o presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB), também vai renunciar ao cargo no final do mês para se preparar para a eleição de outubro. A decisão pela saída foi reforçada pela crise na segurança.
A oposição considera o momento favorável não só na tentativa de retornar ao Palácio dos Leões, mas de ocupar a vaga em disputa no Senado, com o enfraquecimento político de Roseana.
O nome mais cotado é o do vice-prefeito de São Luís, Roberto Rocha (PSB), aliado do ex-governador e provável candidato ao governo do Maranhão, José Reinaldo Tavares (PSB).
"Se Roseana não sair para o Senado, o grupo dela acaba e eles (os Sarney) precisam de influência lá", afirma Tavares. Ele diz que pretende concorrer ao mandato tampão, mas reconhece ser difícil derrotar o atual presidente da Assembleia. A reportagem procurou Arnaldo Melo, mas ele não ligou de volta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.