Movimentação na Estação da Luz, em SP, na manhã desta segunda-feira, 11 de maio (Fabio Vieira / FOTORUA/Estadão Conteúdo)
Ligia Tuon
Publicado em 11 de maio de 2020 às 17h40.
Última atualização em 11 de maio de 2020 às 20h31.
A efetividade do rodízio ampliado de veículos em São Paulo, que começou a valer nesta segunda-feira, 11, como forma de conter a disseminação do novo coronavírus vem sendo questionada por especialistas e formuladores de políticas públicas.
A regra é que a circulação de veículos com placas que terminem em número par pode ocorrer apenas em dias pares. Já as placas com final ímpar, em dias ímpares. A limitação vale durante as 24 horas do dia, inclusive em fins de semana, e em todas as regiões da cidade.
Isso significa que apenas 50% da frota pode circular em um determinado dia. Veículos da área da saúde, carros de polícia, do Exército, prestadores de serviço elétrico e de gás ficam de fora, mas motoristas de aplicativos de carona estão incluídos. A punição é multa de 130 reais e perda de 4 pontos na CNH.
A ideia da gestão Bruno Covas é elevar as taxas de isolamento social, que na última semana ficaram abaixo de 50% na cidade. A meta é chegar aos 60%, sendo que o ideal para evitar o colapso do sistema de saúde é 70%. No entanto, o aumento do uso do transporte público pode fazer o tiro sair pela culatra.
"A situação está tomando o rumo contrário do que deveria acontecer. As autoridades estão se vangloriando de que o trânsito foi quase nulo em São Paulo hoje, mas o transporte púbico esteve mais cheio, com aglomeração em plataformas. Por mais vazios que estejam o metrô e os ônibus, nunca vão ter o isolamento que o carro tem", diz Marcus Quintella, coordenador da FGV Transportes.
Hoje, se, de um lado, houve uma diminuição no trânsito, de outro, algumas linhas do metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) tiveram aumento no fluxo de passageiros entre 11% e 15%, dependendo da região, de acordo com Alexandre Baldy, secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, em entrevista ao programa Bom Dia Brasil, da TV Globo.
Baldy havia se posicionado em sua página no Twitter contra a iniciativa há alguns dias, dizendo que a secretaria não havia participado das discussões.
Na mesma entrevista, o secretário municipal de Transportes de São Paulo, Edson Caram, disse que, apesar de a circulação de carros ter sido bem menor nesta segunda em relação ao registrado há uma semana, "a população ainda está se deslocando de uma forma além daquilo que queremos."
Dados da prefeitura mostram que o congestionamento na cidade caiu para 1 quilômetro nesta manhã, ante 11 quilômetros identificados na segunda-feira da semana passada.
Caram disse ainda que a prefeitura colocou em circulação mais 1.000 ônibus na cidade para atender à população e mais outros 600 de "reserva", caso houvesse necessidade. Desses 600, 460 já haviam entrado em operação só nesta manhã.
"É contraintuitivo. A esperança dessa politica é que, intensificando o rodízio, as pessoas se desloquem menos, mas não sabemos exatamente se esse movimento é supérfluo na maioria dos casos ou necessário. Tudo indica que as pessoas que saem de casa precisam se locomover, o que estimula a substituição do carro pelo transporte público", diz o economista Thomas Conti, do Insper.
No Reino Unido, por exemplo, a política foi na direção oposta. Logo que o número de contágios pela covid-19 acelerou, em março, Londres anunciou o fechamento de dezenas de estações de metrô, seguindo uma recomendação do governo do primeiro-ministro Boris Johnson.
Um estudo divulgado no fim de abril pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), indica que o sistema de metrô da cidade de Nova York foi um dos principais disseminadores da doença, se não o principal veículo de transmissão, na ascensão inicial da epidemia nos Estados Unidos, em março. Os centros de ônibus podem ter servido como rotas secundárias de transmissão na cidade.
O estado de São Paulo concentra o maior número de mortes e casos de coronavírus no Brasil: há 45.444 confirmações da infecção e 3.709 mortes pela doença. Na capital, são 27.307 casos, com 2.266 mortes.