Trecho da cerimônia dedicado a Tóquio contou com a presença do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe (Cameron Spencer/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 21 de agosto de 2016 às 23h15.
Rio de Janeiro - Uma dose de melancolia se misturou a uma grande celebração em ritmo de Carnaval e a um sentimento de orgulho na cerimônia de encerramento dos Jogos Rio 2016 na noite deste domingo, na conclusão sob chuva de uma Olimpíada marcada por alguns problemas mas elogiada como maravilhosa pelo Comitê Olímpico Internacional.
Longe de ter sido perfeita, com incidentes que foram de cadeiras vazias em estádios a piscinas misteriosamente verdes, passando por sustos com a violência, a Olimpíada chegou ao fim em alta para os brasileiros graças às medalhas de ouro no futebol e no vôlei, que consolidaram a melhor participação do país em uma edição dos Jogos, com 19 medalhas, sendo 7 de ouro.
No mesmo estádio do Maracanã onde tudo começou há 16 dias, o último ato dos Jogos teve início com um passeio sobre os famosos pontos turísticos da cidade como o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar sob o ponto de vista dos pássaros, antes de uma verdadeira festa de Carnaval com direito a bateria de escola de samba e passistas, levando atletas do mundo inteiro a cair no samba.
Em uma noite de chuva e ventos fortes, ruas no entorno do estádio ficaram às escuras pouco antes do começo da cerimônia devido a uma queda no fornecimento de energia, que também afetou brevemente algumas áreas do Maracanã, sem prejudicar o início da festa. Diversos assentos do estádio ficaram vazios, o que não atrapalhou o ambiente de festa.
Ao declarar o encerramento oficial dos Jogos do Rio, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, ouviu um lamento uníssono das arquibancadas, que antes vibraram com os elogios feitos em português pelo dirigente esportivo alemão.
"Parabéns Brasil, nós te amamos brasileiros", disse Bach no centro do gramado do Maracanã. "Esses foram Jogos Olímpicos maravilhosos na cidade maravilhosa".
Músicas tradicionais brasileiras abriram caminho para a entrada no palco de algumas centenas dos 11.000 atletas que estiveram na cidade para os Jogos e para a última cerimônia de medalhas, da maratona masculina realizada mais cedo neste domingo.
A cidade depois entregou a bandeira olímpica para Tóquio, sede dos Jogos de 2012, e apagou com uma chuva artificial a chama olímpica que estava acesa desde 5 de agosto em uma pequena e ambientalmente sustentável pira, que foi levada de volta ao Maracanã após passar os Jogos na região portuária.
Ao ser anunciado para a passagem da bandeira olímpica, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, foi recebido pelo público com um misto de vaias e aplausos.
O trecho da cerimônia dedicado a Tóquio contou com a presença do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, que surgiu no centro do gramado saindo um cano verde inspirado nos videogames como se tivesse atravessado o centro da Terra do Japão até o Rio.
BOLT E PHELPS No campo esportivo o Rio será lembrado pelo retorno do nadador norte-americano Michael Phelps, que ganhou cinco medalhas de ouro e uma de prata, ampliando seu histórico como maior medalhista olímpico de todos os tempos.
O corredor jamaicano Usain Bolt encerrou sua brilhante carreira olímpica com mais três medalhas de ouro em provas de velocidade, repetindo os feitos de Pequim 2008 e Londres 2012, e a ginasta norte-americana Simone Biles, porta-bandeira dos EUA no encerramento, estreou em Olimpíadas igualando o recorde de quatro ouros em uma única edição dos Jogos.
Do lado do Brasil, finalmente chegou ao fim a espera por uma medalha de ouro no futebol, com a vitória nos pênaltis do time de Neymar sobre a rival Alemanha na final no mesmo Maracanã, enquanto Isaquias Queiroz, porta-bandeiras do Brasil neste domingo, se tornou o maior medalhista do país numa mesma edição dos Jogos, com três (duas pratas e um bronze).
Em alguns momentos, no entanto, foi difícil se concentrar nos grandes momentos esportivos acontecendo pela cidade.
Um dos incidentes marcantes da Olimpíada aconteceu quando o nadador norte-americano Ryan Lochte, um dos mais condecorados do país, disse ter sido roubado à mão armada, o que aumentou as preocupações com a segurança após uma série de outros incidentes de roubo envolvendo autoridades estrangeiras e turistas.
Mas a história de Lochte foi desmentida pela polícia, que descobriu que o nadador inventou o assalto para esconder um ato de vandalismo em um posto de gasolina após uma noite de bebedeira com três companheiros de equipe. Lochte e o Comitê Olímpico dos EUA se desculparam pelo incidente.
"MESMO COM NOSSOS PROBLEMAS" Apesar dos problemas, incluindo duas balas perdidas encontradas no centro olímpico de hipismo e a morte de um agente da Força Nacional de Segurança que entrou por engano em uma favela, os Jogos do Rio não sofreram qualquer grande incidente de violência como os recentes ataques com muitos mortos na Europa.
A presença das forças de segurança foi imponente, como parte de um esquema com 85.000 homens, duas vezes o tamanho do esquema implantado em Londres há quatro anos.
"Mesmo com todos os nossos problemas fizemos uma boa Olimpíada. Não aconteceu nada muito ruim, acho que foi melhor do que o esperado", disse Nívea Araújo, moradora do Rio presente ao encerramento.
Uma das preocupações agora que os Jogos chegaram ao fim será o custo final da realização da Olimpíada em um país que enfrenta sua pior recessão nas últimas décadas, e quanto desse dinheiro de fato ajudou a melhorar a infraestrutura da cidade.
E, a partir de segunda-feira, sem mais a distração da Olimpíada, o Brasil volta a encarar a realidade das crises econômica e política, com expectativa de votação final do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff até o fim do mês.
O presidente interino Michel Temer, que foi vaiado pelo público na abertura dos Jogos, não compareceu ao encerramento.