Restaurante em São Paulo: estabelecimentos são obrigados a manter distanciamento social (Amanda Perobelli/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de julho de 2020 às 18h00.
Última atualização em 6 de julho de 2020 às 18h48.
De pé, com máscaras no rosto, álcool em gel ao alcance das mãos e, em muitos lugares, armados com termômetros em formato de pistola, garçons e gerentes de São Paulo se perfilaram na porta de seus restaurantes nesta segunda-feira, 6, para receber um público que quase não apareceu.
Por toda a cidade, mesas distanciadas umas das outras ficaram vazias, enquanto os frequentadores continuam trabalhando de casa, no que no Brasil se chamou "home office", ou tiveram receio de dar as caras enquanto o coronavírus ainda está em circulação.
Entre os que chegaram a se sentar à mesa, um dos motivos confessados foi o "saco cheio" de encomendar comida para entrega e a vontade de ver a rua.
"Tinha um almoço mais perto. Mas fazia tempo que não vínhamos aqui, que é gostoso e mais barato", disse a auxiliar de departamento pessoal Ariane Farias, de 18 anos, em um restaurante da Vila Madalena, zona oeste. Com dois amigos do trabalho, a jovem havia decidido ir o restaurante que costumava frequentar antes da pandemia.
"Tinha um bufê, a gente se servia, e tinha música também. Vinha aqui às vezes à noite também", complementou a amiga, Dayane Conceição, de 24 anos.
A mesa era a única ocupada do Porto Madalena, restaurante que, segundo a gerente Andrea Viena, de 50 anos, servia 120 refeições por dia antes de a pandemia obrigar a adoção da quarentena. "A gente até começou a fazer delivery. Mas quem encomendou foi o cliente que já é da casa, não queria ver fechar", disse. Ela chegou a fazer uma foto dos primeiros clientes a atender em 100 dias de quarentena. Como todos os concorrentes do bairro que arriscaram abrir as portas neste primeiro dia, ela tinha duas grandes reclamações: "O horário", disse ela, "e não poder usar as calçadas".
A reportagem percorreu dezenas de bares no eixo que vai do Largo da Batata até a Avenida Paulista. Não encontrou nenhum local em que as mesas não estivessem afastadas umas das outras ou que houvesse qualquer tipo de aglomeração. Ao conversar com funcionários e proprietários, a reclamação sobre a proibição de servir jantar foi constante.
"O próprio município já defende isso", disse Humberto Munhoz, do bar O Pasquim, que antes da pandemia só abria para o almoço entre sexta-feira e domingo. Ele disse que há preocupação dos donos das casas em manter a segurança dos locais e evitar as cenas de aglomeração como se viu no Leblon, no Rio. "O bar é uma empresa", afirmou. Para aplacar o prejuízo, e tentar trazer mais gente para o lugar, sua casa terá um "bar office", em alusão ao home office entre terça e quinta-feira. Por um valor fixo, as pessoas podem passar a tarde no local, com consumo liberado de água, café e cerveja.
Alguns restaurantes especializados em atender os funcionários dos prédios ao redor da Rua dos Pinheiros chegaram a montar algumas mesas no interior de suas casas — antes, elas ficavam na calçada. "Essa foi uma coisa que surpreendeu a gente. Nós sempre servimos na calçada e acho que ela é muito mais ventilada do que dentro", disse o proprietário de um deles, o Cachaça e Companhia, Artur Garcia, de 55 anos. Antes da crise, por alí passavam 200 pessoas por dia para almoçar, segundo conta.
Das três mesas de Artur que estavam ocupadas por volta das 13 horas, uma delas era pelo empresário Eric Winck, de 41 anos, e seu funcionário, Ricardo Alexandre da Silva, de 43. "A gente veio aqui pegar comida para comer no trabalho. Nem sabia que estaria aberto. Mas, como estava, decidimos comer aqui", disse.
No trabalho deles, os funcionários estão se revezando, de modo que apenas parte da equipe fica em casa, o que é uma das explicações para haver pouca gente com eles. "Aqui, da forma como está, me sinto seguro. A gente já percebeu que tem de reabrir, não vai dar para ficar na quarentena para sempre. Então tem de ser assim, com segurança", disse Winck, com a concordância do colega.
A forma como esse primeiro dia de abertura transcorreu foi, na avaliação de um dos sócios do Figueira Rubaiyat, Diego Iglesias, bem diferente do que ocorreu na Espanha, onde esteve há algumas semanas para também acompanhar a reabertura dos restaurantes. "Lá teve muita euforia. Aqui, está tendo mais cuidado."
O famoso restaurante dos Jardins já tinha mesas distantes umas das outras, de modo que a única coisa que fazia o salão ser diferente dos dias atuais era o público pequeno, as máscaras nos funcionários e o talheres nas mesas, envolvidos em sacos plásticos que tinham também kits de higiene com álcool em gel.
Iglesias afirmou que as normas paulistas se assemelharam com as imposições das autoridades espanholas, à exceção do horário de fechamento mais cedo. Disse ainda que "o público ainda vai se acostumar, vai levar um tempo" para retomar a confiança de sair de casa. Da média de 100 a 150 refeições que servia por dia, no almoço, até as 14 horas desta segunda o empresário disse acreditar que havia atendido um público entre 20 e 30 pessoas.