Carlos de Lannoy: ameaças ao jornalista foram feitas nas redes sociais (TV Globo/Reprodução)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de abril de 2019 às 16h49.
Última atualização em 9 de abril de 2019 às 07h23.
O repórter da Globo, Carlos de Lannoy, compartilhou em seu Twitter, na noite do último domingo, 7, uma ameaça que recebeu por meio de uma rede social após a exibição de uma reportagem no Fantástico sobre a morte de um homem após o carro em que estava com sua família ter recebido cerca de 80 disparos por parte do Exército.
"Minutos depois de fazer reportagem no Fantástico sobre mais uma morte em blitz do exército, recebi essa ameaça no meu Instagram. Não ficará assim", escreveu Carlos em seu Twitter.
Na sequência, ele publicou uma captura de tela em que um usuário do Instagram o ameaça: "Se você escolher falar m*** e defender bandido é escolha sua! Seu m***!"
O perfil ainda afirma que o jornalista "assinou sua sentença" e que "sua família vai pagar": "aguarde cartas!"
De Lannoy compartilhou o comentário e fez um adendo: "Você vai responder por essa ameaça. O que você fez não é apenas uma afirmação vergonhosa, infeliz e lamentável, mas um crime previsto em lei. Aguarde!"
Procurada pelo E+, a Globo, por meio de sua assessoria, afirmou que "não vai comentar" o caso.
Pelo menos dez militares do Exército foram presos em flagrante pelo envolvimento no fuzilamento do carro de uma família em Guadalupe, na zona norte do Rio, no domingo, 7. O músico Evaldo Rosa dos Santos, de 46 anos, morreu depois que o carro foi alvejado por mais de 80 tiros.
O músico levava a família para um chá de bebê no momento em que foi atingido por três disparos. O sogro de Evaldo também ficou ferido, mas se recupera bem. Outras três pessoas estavam dentro do carro.
O filho mais velho do músico, Daniel Rosa da Silva, de 29 anos, contou que além dos 80 tiros disparados contra o carro de sua família, foram encontradas mais de 200 cápsulas no chão.
Segundo a polícia, os militares teriam aberto fogo contra o carro ao confundir o veículo com o de criminosos que atuam na região.
"Para mim, isso é uma execução", afirmou Silva. "Foram 80 tiros no carro, mais 200 cápsulas de munição pelo chão. Vão botar o exército na rua para garantir a segurança? Que segurança foi essa? Acabaram com uma família."
Silva contou que não houve nenhuma abordagem oficial, nem mesmo um pedido para parar o carro ou prestar esclarecimentos. Os militares apenas atiraram contra o carro. O irmão mais novo de Silva, de apenas 7 anos, estava no carro alvejado mas não ficou ferido.
Confira também a nota oficial divulgada pelo Exército Brasileiro sobre o ocorrido:
"Acerca dos fatos envolvendo militares do Exército que realizavam patrulhamento regular no perímetro de segurança da Vila Militar (RJ), no dia 7 de abril, e que resultaram no óbito de um civil e em ferimentos em outros dois, o Comando Militar do Leste informa que:
1. com base em informações iniciais transmitidas pela patrulha, foi emitida Nota segundo a qual a tropa teria reagido a uma agressão oriunda de criminosos a bordo de um veículo;
2. em virtude de inconsistências identificadas entre os fatos inicialmente reportados e outras informações que chegaram posteriormente ao Comando Militar do Leste, foi determinado o afastamento imediato dos militares envolvidos, que foram encaminhados à Delegacia de Polícia Judiciária Militar para tomada de depoimentos individualizados. Esse procedimento prolongou-se pela madrugada, tendo sido coletado também, até o presente momento, o depoimento de uma testemunha civil. Um membro do Ministério Público Militar acompanhou todo o procedimento;
3. na manhã de hoje, após a conclusão dessas oitivas, foi determinada a lavratura da prisão em flagrante de 10 dos 12 militares ouvidos, em virtude de descumprimento de regras de engajamento;
4. a partir de agora esses militares passam à disposição da Justiça Militar da União, a quem cabe, obedecido o prazo legal, realizar a Audiência de Custódia e determinar como será dado prosseguimento;
5. cumpre esclarecer que o decurso de prazo entre os acontecimentos propriamente ditos e as providências no sentido da decretação das prisões deveu-se aos cuidados necessários para com o devido processo legal, por orientação do Ministério Público Militar, órgão encarregado do controle externo das atividades das Forças Armadas;
6. por fim, o Exército Brasileiro reitera seu estrito compromisso com a transparência e com os parâmetros legais impostos pelo Estado de Direito ao uso legítimo da força por seus membros, repudiando veementemente excessos ou abusos que venham a ser cometidos quando do exercício das suas atividades."