Renan: a fala do presidente da Casa reflete o temor do Palácio do Planalto de que a crise cresça (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 25 de outubro de 2016 às 22h03.
Brasília - Em um sinal dos problemas que a crise entre Poderes pode causar, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou nesta terça-feira esperar que "essas dificuldades" não atrapalhem o calendário de votações da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria um teto para os gastos da União.
"Já aprovamos esse calendário de tramitação, inclusive com data marcada. Nós temos muitas dificuldades no Brasil, temos todos a preocupação de não deixá-las transbordar para uma crise institucional. Eu espero que essas dificuldades não atrapalhem o calendário que já aprovamos, inclusive com a oposição", disse Renan em entrevista no Senado.
Uma crise entre os Poderes foi deflagrada a partir da operação Métis, em que policiais legislativos foram presos pela Polícia Federal na semana passada.
A fala do presidente da Casa reflete o temor do Palácio do Planalto de que a crise cresça a ponto de atrapalhar a votação das medidas de interesse no governo no Congresso.
A PEC do teto chega nos próximos dias ao Senado e o calendário é apertado, prevendo a votação em segundo turno no dia 13 de dezembro, já próximo do recesso parlamentar.
O presidente Michel Temer, a pedido de Renan, concordou em articular uma reunião entre os três Poderes justamente para tentar mitigar os riscos, mas a tentativa não se concretizou.
Uma das peças-chave do encontro, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, disse que não pode comparecer por estar com a agenda cheia.
A presidente do STF respondeu duramente a Renan nesta manhã, ao dizer que se sentia ofendida cada vez que um juiz era ofendido.
Referia-se, sem citar o presidente do Senado, à fala de Renan, que chamou de "juizeco" o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília e responsável pela operação Métis.
O presidente do Senado disse que Cármen Lúcia, ao defender o Judiciário, agiu como ele mesmo, que havia defendido o Legislativo. Mas cobrou uma "reprimenda" ao juiz.
"Eu acho que faltou uma reprimenda ao juiz de primeira instância que usurpou a competência do STF. Porque toda vez que alguém de primeira instância usurpa a competência do Supremo quem paga a conta é o Legislativo. Respeitosamente, sinceramente, não dá para continuar assim", disse Renan.