Fernando Haddad, prefeito terá pela frente o desafio de enfrentar um sentimento antipetista sem precedentes (Paulo Fridman/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 19 de julho de 2015 às 10h42.
São Paulo - Há 40 anos morando no bairro Piraporinha, no extremo sul de São Paulo, o comerciante Oziel Duarte, de 63 anos, votou no PT em todas as eleições desde que o partido foi fundado, em 1980.
Na disputa pela capital em 2012, ajudou a região a registrar a maior diferença absoluta entre o petista Fernando Haddad e o tucano José Serra no segundo turno. Agora, pensa diferente: pela primeira vez, Duarte responde que pretende votar nulo nas próximas eleições.
"Quando vejo o noticiário, só ouço falar de roubo e corrupção", disse o comerciante, ao expor as razões para não querer escolher um candidato a prefeito no ano que vem.
O relato de Duarte exemplifica um fenômeno que mobiliza e preocupa os petistas a mais de um ano para a eleição municipal, ao mesmo tempo que já norteia a estratégia dos partidos que aspiram ocupar a cadeira de Haddad e impedir sua reeleição.
O alto índice de rejeição ao governo da presidente Dilma Rousseff, que atingiu 68% em pesquisa do Ibope divulgada no começo de julho e registrou o pior desempenho de um presidente desde o fim da ditadura, somado à agenda negativa provocada pela Operação Lava Jato, estão cada vez mais próximos dos eleitores do chamado "cinturão vermelho", conjunto de bairros nos extremos da capital que desde 2000 tem votado sistematicamente em peso no PT.
Não bastasse a própria baixa taxa de aprovação, Haddad terá pela frente o desafio de enfrentar um sentimento antipetista sem precedentes.
"Nas eleições na capital a gente não investia muito nos redutos petistas porque sabíamos que não adiantaria. Mas o 'mercado' de hoje está diferente. Não há mais reduto petista onde não vale a pena investir", avalia o marqueteiro Nelson Biondi, responsável por campanhas do PSDB na capital e no Estado e também pela estratégia que elegeu Paulo Maluf nos anos 90. "O PT desconfigurou o cenário."
Não por acaso, o PSDB decidiu que em 2016 mudará sua estratégia "territorial" para ocupar novos espaços. "Em função das coligações e para contemplar aliados, nós não lançamos candidatos a vereador em todas as regiões nas últimas eleições. Agora, lançaremos candidatos a vereador tucanos em todos os redutos petistas. Já estamos fazendo um levantamento", diz o vereador Mario Covas Neto, o Zuzinha, presidente municipal do PSDB.
Provável candidata à Prefeitura em 2016 pelo PSB, a senadora Marta Suplicy, recém-saída do PT, traçou estratégia semelhante. Ela tem aproveitado os fins de semana para visitar os bairros do cinturão vermelho que foram responsáveis por sua eleição como prefeita em 2000 e nos quais ainda tem eleitores.
Para conferir um caráter institucional às visitas, Marta "pegou carona" em um projeto da Câmara Municipal chamado "Câmara no seu bairro".
Criado por um ex-aliado, o vereador petista Antonio Donato, atual presidente da Casa e ex-secretário de Governo de Haddad, o projeto consiste em realizar sessões públicas fora da sede do Legislativo paulistano para "aproximar a população dos vereadores".
Ao constatar que Marta estava roubando a cena nos eventos, correligionários de Haddad passaram a reclamar, em caráter reservado, que Donato estaria ajudando a ex-aliada, o que ele nega.
Para tentar impedir que o antipetismo já visto em bairros mais centrais chegue de vez ao cinturão vermelho e melhorar sua imagem nessas áreas, Haddad criou um programa semelhante, batizado de "Prefeitura no seu bairro".
Em outra frente, o PT está atuando diretamente nos diretórios zonais do partido para que os dirigentes locais "fechem as portas" para Marta. A estratégia consiste em mapear os quadros identificados com o "martismo" na periferia paulistana e impedir que a senadora reative suas redes.
Único pré-candidato já declarado à Prefeitura, o deputado Celso Russomanno (PRB) aposta em uma estratégia diferente. Como não tem a mesma capilaridade partidária de petistas e tucanos, ele pretende aproveitar a exposição que tem na TV Record para investir nos "votos de opinião" nos campos vermelho (regiões identificadas com os petistas) e azul (redutos tucanos nas áreas mais centrais).
Assim que terminar o recesso parlamentar, o deputado ganhará um quadro no programa de maior audiência da casa, o Cidade Alerta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.